Já faz algum tempo que venho tratando de assuntos com vocês que considero essenciais para o nosso amadurecimento e reflexão. O avanço da tecnologia e o surgimento das mídias sociais influenciaram demais no comportamento dos indivíduos e cada vez mais nos tornamos escravos das nossas próprias projeções baseadas no que eu, particularmente, gosto de chamar de “vida alheia perfeita”. Recentemente falei sobre isso no blog – você pode ler aqui – e o interessante é que isso acaba virando uma corrente. Funciona assim: um indivíduo quer passar uma impressão sobre ele, sobre sua vida. É como se ele fosse um ator e as mídias sociais fossem o palco onde ele evidencia o que deseja transmitir ao público. Obviamente todos nós fazemos isso também no ambiente real, mas no virtual fica mais fácil porque é possível manipular ainda mais a imagem que as pessoas desejam que os outros tenham delas e de suas vidas.

Falo muito sobre esses assuntos porque gosto muito de entender mais sobre as relações humanas e porque vejo que meu papel, como comunicadora, mulher e influenciadora, é ajudá-las a abrir os olhos para que não nos tornemos vítimas de mais uma forma de opressão que vem devastando a vida de muita gente. Você vai postar uma foto, mas antes a enche de filtros, pensa na pose, na luz, no cenário: tudo para ganhar umas curtidas e se sentir aprovada; sente a necessidade de mostrar quando frequenta lugares bacanas, faz viagens incríveis, compra algo novo, conhece uma pessoa atraente e etc. Acho que isso acontece com 99% de nós. A vida virou um espetáculo em que os espectadores estão sempre esperando algo melhor de você e estão prontos para aprová-la ou reprová-la e, por trás de uma tela de computador, ficou ainda mais fácil ofender. Infelizmente a realidade atual é essa. A necessidade que as pessoas têm de aprovação é cada vez maior e um batalhão de homens e mulheres carentes e inseguros se alimenta dessa necessidade de mostrar que suas vidas são perfeitas.

Nesses últimos dias uma adolescente australiana virou notícia. Essena O’Neill, de 18 anos, construiu o que chamamos de “império social virtual”. A garota, de corpo escultural e torneado, sorriso largo com dentes perfeitos, pele de pêssego e olhos iluminados conseguiu cativar mais de um milhão de seguidores, no total, que a viam como uma espécie de “musa inspiracional”, especialmente no Instagram. O perfil de Essena atraia muita gente porque suas fotos eram lindas e ofereciam essa imagem de “vida perfeita”. Você olhava tudo aquilo e pensava “eu queria ser ela, queria essas roupas, essa beleza, frequentar esses lugares” e etc, mas o efêmero caiu por terra quando a jovem se deu conta de que ela estava viciada nas mídias sociais para ter atenção e aprovação das pessoas.

Captura de Tela 2015-11-03 às 16.30.06“Eu passei a maior parte da minha adolescência viciada em mídias sociais, aprovação social, status social e minha aparência física. Meus perfis têm imagens e vídeos que entram num ranking porque são baseados em aprovação social, curtidas, validação, visualizações e números de seguidores. É algo orquestrado para a absorção de um julgamento próprio”, ela desabafou em uma de suas últimas fotos do Instagram. A jovem relata que às vezes tirava mais de 100 fotos para escolher uma que ficasse realmente boa para postagem e que, depois, ainda passava por vários programas de edição para que tudo ficasse “perfeito” e do agrado de seus fãs, mas ninguém sabia o que realmente estava por trás daquelas imagens.

Depois de declarar que ela se sentia extremamente infeliz e deprimida, Essena resolveu fazer algo chocante: ela está editando as legendas de suas fotos no Instagram para dizer a realidade por trás daquelas imagens e, por isso, a jovem chamou a atenção da mídia e tem sido um dos assuntos mais comentados da última semana. Em um vídeo gravado nos últimos dias, a garota explica suas razões para deixar todo esse “império conquistado com sua vida perfeita” e pede que alguém crie uma mídia social que não seja baseada em um sistema de aprovação, mas sim com o simples intuito de compartilhar informação, valores reais e amor.

Captura de Tela 2015-11-03 às 16.32.10Essena decidiu criar um site cujo nome, em português, pode ser traduzido como “Vamos mudar esse jogo” para incentivar pessoas a não se basearem nas vidas perfeitas alheias projetadas nas mídias sociais. Ela convida a todos para serem mais reais e não se impressionarem facilmente apenas com as coisas boas e bonitas que vemos. Para os adolescentes ela está se tornando um espelho, já que seu novo lema de vida é não se deixar impressionar pelos números de fãs e nem pela aprovação alheia.

E eu, minha amiga, ao ler sobre a história de Essena e pensar em tudo o que eu já escrevi sobre aprovação/autoestima/inseguranças/validação e vida perfeita aqui no blog, não podia deixar de vir dizer que a sociedade realmente está começando a acordar e a evoluir. Tem muito chão pela frente, mas quando uma adolescente que vive de sua imagem, que tem números impressionantes e muitas possibilidades de sucesso pela frente acorda e vê que ela estava doente e obcecada e decide deixar tudo para trás para fazer a diferença, eu não poderia me calar. É mais um passo de formiguinha que foi dado para que essa desconstrução de padrões, de status e etc aconteça. A menina é linda, mesmo sem maquiagem, sem murchar a barriga – que nem existe, pra mim -, sem uma roupa sexy: ela é naturalmente bonita. Ao ler as novas legendas das fotos do Instagram você se choca com o que ela relata estar sentindo naquele dia e nos deparamos com a essência de uma jovem que se sentia vazia, solitária e desesperada por atenção e aprovação.

Que a história de Essena te ajude a entender que a perfeição não existe e que você não deve viver a sua vida se comparando com os outros, querendo ser ou ter o que eles são e têm. Sabe por quê eu não “bombo” mais nas mídias sociais? Porque eu sou real: posto foto desarrumada, faço vídeo quando dá na telha mesmo que eu esteja pronta pra ir dormir com a olheira gigante, mostro um pouco do meu dia a dia que não é de rica e abro meu coração para vocês quando estou mal, triste ou frustrada. Nunca tentei passar uma imagem de ser o que eu não sou, graças a Deus, e deixei de me preocupar com números e com a validação das pessoas ou do mercado como um todo. Cansa ficar fingindo ser uma coisa que a gente não é e eu nunca quis isso para a minha vida. Eu faço o que faço por vocês e por mim porque é algo que Deus tem para a minha vida, é o meu chamado, o meu ministério, então eu faço por Ele e para Ele, acima de todas as coisas. Erro muito e perfeita estou longe de ser, mas sigo tentando fazer a diferença para contribuir para uma sociedade mais justa, mais amorosa e igualitária.

Captura de Tela 2015-11-03 às 16.33.19Não se iluda nunca, nunca, nunca: seja sempre você e jamais se compare com os outros. A imagem pode até passar um recado, mas por trás de tudo aquilo pode haver um abismo negro. A grama do vizinho pode parecer mais verde, mas você não sabe como é a raiz dela e, às vezes, pode estar podre! Não devemos sentir vergonha de sermos reais, de falarmos de nossos problemas e encararmos a realidade: é só assim que a gente amadurece, evolui e ainda impacta verdadeiramente e positivamente àqueles ao nosso redor!

Comentários

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2 comments

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Paula esse post disse tudo.Temos que nos aceitar,nos amar primeiro.
https://www.youtube.com/watch?v=m6GzWvMrWTA
Essa música foi feita em 1995, e olha como o mundo já vivia na ilusão .

Responder

Oi Paula! Gostei do seu post, eu acho que é o primeiro post que eu leio defendendo a situação dela. A maioria está fazendo críticas bem duras. Você conseguiu explicar o momento e esta sua percepção é bem interessante. Valeu 😉 beijão

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