Sua vida não depende de um emagrecimento, uma cirurgia plástica ou um cabelo diferente.

Eu posso te afirmar isso porque sou prova viva dessas situações todas. É claro que todas elas podem gerar impacto na nossa autoestima, mas não dependemos disso para viver nem para sermos verdadeiramente felizes. É isso que gostaria que vocês entendessem.

Ao longo dos anos, a minha história inspirou muita gente. Desde o processo de descoberta, acolhimento e aceitação como mulher gorda até o momento presente. Passei por muitas mudanças e mergulhei profundamente em autoconhecimento para chegar até aqui. O que se vê no exterior é apenas a pontinha do meu iceberg. O mergulho foi intenso, profundo e doloroso, porém me trouxe renascimento, força, descobertas e muita felicidade, sentimento que, no entanto, não veio do físico: veio de toda a transformação que aconteceu de dentro para fora. Não nego, também, que é muito gostoso acompanhar as mudanças físicas que trazem novas experiências, sentimentos e oportunidades, mas de nada adianta mudar o externo se você não estiver pronta para absorver o que toda essa mudança significa no interno. Entende?

Eu sei que muita gente vai ler isso achando que é lorota, que sou uma farsa e uma hipócrita. Deixo o julgamento de valor para os juízes perfeitos de plantão. Aprendi a lidar com isso também. A minha verdade vai se conectar, realmente, com quem está pronta(o) para entender as mensagens que desejo transmitir.

A tal felicidade que resolve tudo

Não ache que, se você emagrecer ou fizer a plástica dos seus sonhos, a vida estará resolvida. Você não precisa se matar ou se apressar para fazer as coisas porque a sua felicidade não depende delas. Muitas pessoas me escrevem com um senso de urgência e desespero falando dos seus desejos de fazer a bariátrica ou até mesmo – agora – das plásticas. Ambos os procedimentos, extremamente sérios, não devem ser encarados como algo simples e leviano, como se fosse fazer um corte de cabelo, por exemplo. São mudanças permanentes, que envolvem muita mudança interna, planejamento e preparo. Se você fizer as coisas correndo, sua felicidade pode ser tão instantânea quanto a durabilidade de um miojo. Se você deseja uma alegria prolongada, saiba que o caminho não é curto. E não se trata de dinheiro: a moeda pode te permitir comprar o que deseja, mas sem a mudança interna tudo será em vão, sem sucesso e com uma curta durabilidade.

A pressa, inclusive, pode te levar a tomar atitudes impensadas que irão impactar todo o restante de sua vida. Você pode acabar escolhendo um médico não tão bem preparado para cuidar do seu caso e pode sofrer as consequências disso – apenas um exemplo prático. Às vezes o barato também sai caro: não se deixe levar pelo preço das coisas. Tome seu tempo, pesquise, se informe, converse com pessoas, analise resultados, procure saber sobre os erros e os casos complicados: tudo isso importa e muito para a sua decisão e nada disso é feito do dia para a noite.

Antes de achar que um corpo mais magro, um nariz assim, uma bunda ou peito assado vão te trazer a tal da felicidade idealizada, saiba que ela não existe. Autoestima, autoconfiança e felicidade são construções de uma jornada. Até a felicidade deve ser construída: já parou para pensar nisso? De que adianta, por exemplo, você ganhar um Porsche se você sequer souber dirigir? E, para dirigir, você precisar fazer aulas teóricas, práticas, passa por exames de aprovação e depois vai praticando para pegar a manha e o jeito. Dei um exemplo que é até rápido, mas serve para ilustrar que até para apreciar coisas boas, precisamos estar preparados para elas. Mesma coisa: adiantaria uma pessoa que está deprimida, totalmente de mal com a vida, ganhar uma viagem bacana? Será que ela enxergaria os cenários e as experiências com um olhar apreciativo ou com murmuração e chateação? Poderia até ficar felizinha em alguns momentos, mas não encontraria a mesma visão apreciativa de uma pessoa que está de bem com a vida.

Expectativa x Realidade

Você precisa entender que a nossa vida é baseada em evolução e que nada da materialidade irá te entregar a tal felicidade que tantos buscam. Não se iluda, portanto, com os corpos perfeitos das redes sociais, com a ostentação de casas, viagens e carros luxuosos que podem disfarçar vidas completamente infelizes e vazias por trás das câmeras. Às vezes o relacionamento que parece de conto de fada é tóxico; às vezes aquela pessoa está sem estrutura emocional no momento e você acha que está tudo perfeito na vida dela. Lembre-se que as pessoas mostram apenas recortes daquilo que desejam expor e você não deve medir a sua vida, o seu sucesso, sua beleza ou felicidade pela régua do outro.

Eu estou muito feliz pelas minhas conquistas mais recentes, mas eu as valorizo e as aprecio porque sei da loooonga caminhada que percorri para chegar no presente. Sei do comprometimento que fiz comigo mesma e com a espiritualidade de buscar melhorias e evolução e reconheço que Deus me abençoou em meus esforços. Nada foi simples, nada foi rápido, nada aconteceu em um impulso e nunca achei que essas mudanças me concederiam uma chave de felicidade plena. A alegria está nas descobertas, na percepção das mudanças que acontecem e atestam que evoluí, aprendi e melhorei pontos que estava trabalhando em mim; nos inúmeros aprendizados que tive, dos mais profundos aos mais banais.

Para muitos posso estar “magra e recauchutada”, mas eu continuo sendo a mulher de 39 anos que está buscando melhoria em suas imperfeições de temperamento, de personalidade e de caráter. Não sou perfeita e nunca serei e um físico mais próximo do padrão me traz alegrias e oportunidades, é lógico – não seria hipócrita de não admitir isso – mas ele não é o responsável por minhas realizações ou felicidade. Eu sou. O meu eu habita a alma, não um corpo feito de matéria que se deteriorará para sempre a partir do meu último suspiro.

Não se martirize buscando a felicidade na materialidade. Não tenha pressa. Não faça nada por impulso ou na loucura. Aprecie a caminhada, aprenda as lições, se aprimore antes de chegar no topo da montanha, pois, sem uma visão apreciativa, de nada adiantará chegar ao cume.

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