Não sei como é a sua história com a obesidade ou com o sobrepeso, mas eu já nasci grande e gorda. Não sei o que é ser magra por um único dia de minha vida sequer. Nunca tive esse momento de saber, em alguma fase da minha vida, o que era usar um jeans de tamanho “regular”. Por eu sempre ter sido gorda, minha vida sempre girou em torno de dietas e eu sei que será assim até o fim da minha existência. Eu me peso praticamente todos os dias porque, se eu relaxar um pouquinho, posso facilmente perder as estribeiras. Nem sempre foi assim, mas depois de um dia sentir que tinha me abandonado, decidi ser um pouco mais rígida com o meu controle.

Em minha vida, quatro coisas estão totalmente relacionadas: a comida, as compras, a rejeição e o vazio. Pra uma gorda, sou muito bem controlada com a comida. Sim, eu tenho meus momentos ogros, mas quando eles acontecem, imediatamente faço algo pra compensar a ogrice e não enfiar o pé na jaca pra dar margem pro abandono. Do fundo do meu coração, não me julgo uma daquelas pessoas que têm um prazer infinito em comer. Claro que morro de satisfação quando como algo que estou com muita vontade, mas no dia a dia, não sou dessas pessoas que simplesmente fazem das refeições um momento sagrado ou o mais legal do dia. Nunca senti que descontava na comida minhas frustrações – veja bem, no dia a dia – e que eu comia como uma forma de me compensar, mas sei que isso acontece com muita gente.

eat_feelings

Se tem algo que sempre grita dentro de mim é a rejeição e, por causa dela, eu sinto um vazio muito grande às vezes. Quando falo em rejeição, falo da parte masculina. Vocês que realmente acompanham o que escrevo sabem que minha vida amorosa é um desastre e toda vez que alguém me rejeita, sempre acho que é por causa da minha aparência. Isso está tão inconsciente em mim que é uma grande batalha para desconstruir essa relação que foi criada. Já escrevi sobre isso no blog algumas vezes. É uma encanação minha, pois na maior parte dos casos tinha muito mais a ver com situações ou comportamentos meus do que com a aparência. Eu cresci querendo um amor, querendo casar, querendo ser aquela esposa incrível e eu nunca nem namorei direito na vida, pra vocês terem ideia. Isso faz com que eu me sinta fracassada, embora eu seja uma mulher muito bem sucedida em diversas áreas. E antes que alguém venha me falar pra preencher esse vazio com Jesus, pode ter certeza que Ele já me ajuda e muito a administrar isso, senão seria pior.

Quando me bate uma tristeza e me sinto rejeitada, esse vazio de não ter alguém grita e enquanto algumas pessoas descontam na comida, eu percebo que, muitas vezes, desconto em compras. Sim, se eu estiver muito triste é capaz de você me vir sentada em uma doceria com algumas sacolas ao lado. Graças a Deus eu não sou dessas pessoas que não têm controle e saem comprando o que vêem pela frente e se endividando… Minhas compras são às vezes coisas bem simples, como um livro, um caderninho, algumas canetas novas pra escrever, mas eu sinto essa necessidade de preencher aquele buraco que a rejeição gera em mim.

Confessions-Of-A-Shopaholic

(Posso querer o corpo e o cabelo da Becky Bloom??? rs )

Eu não sei o que se passa dentro do seu coração, nem como você ficou gorda ou por que você come, se desconta alguma frustração na comida, mas sei que o primeiro passo é conversar francamente com você mesma para entender qual é a raiz do seu problema. Você não pode se auto-destruir – porque sim, comer compulsivamente é uma forma de destruição e punição – por não estar conseguindo lidar com algo. Se for possível, peça até ajuda a um psicólogo, pois terapia sempre ajuda, mas na maior parte das vezes a gente sabe onde é que puxamos o gatilho. Eu tenho tentado preencher essa solidão e o vazio que sinto com leitura, música, filmes e atividade física, mas é claro que tenho meus dias de “escape”, pois é difícil se controlar o tempo todo. O importante é que eu tento, que tenho consciência do meu problema e que, aos poucos, estou diminuindo minha relação com as compras e com essas idas esporádicas a docerias.

Não se sinta sozinha, seja lá como for o seu corpo ou qual for o seu problema, saiba que milhares de pessoas no mundo têm frustrações e as descontam das mais variadas formas. Cada um tem o seu fardo, mas quando você entende qual é, fica muito mais fácil de administrar e de tentar buscar uma solução. Estamos juntas nessa batalha e eu espero que meus desabafos e compartilhamentos pessoais possam te ajudar a se sentir menos sozinha. No fundo, no fundo, somos todos muito iguais!

Comentários

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13 comments

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E olha que você é bonita viu? Descolada, moderna, inteligente… mas enfim, sou gorda e voltei a praticar exercícios, com menos regularidade do que gostaria, mas já consegui emagrecer quase 10 kg esse ano. Fui magra a minha infância inteira, gorda média na adolescência, ficando as vezes mais ou menos gorda e depois por quase 10 anos oscilei entre os manequins 42 e 44. Depois disso engordei muuuito e em algumas consultas a psicóloga, descobri que engordei, quando meu corpo começou a querer compensar o término de um namoro, entendido pelo meu cérebro como uma perda, na comida. Que doidice né? Depois de um bom tempo, meu namorado e eu voltamos e agora tô nessa fase …lenta… de emagrecimento. Acho que nunca contei a meu namorado sobre isso.

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Excelente texto, Paula!
Eu te entendo e compartilho do mesmo sentimento. Essa história de não aceitação é minha realidade, desde que eu me conheço por gente. Sempre fui a maior da turma, a mais “vistosa” e a que sempre chamou mais atenção (pelo tamanho, obvio). Tive uma época mais magra na minha vida e (coincidentemente ou não) foi a época em que mais namorei, conheci gente nova, tinha paqueras, etc.. É claro que atribuo essa época feliz ao meu (baixo) peso, mas lá no fundo (fundo fundo fundo) sei que não é só isso. Ainda estou buscando o que me joga para baixo, e graças a Deus tb não desconto em comida (o que as vezes tb contribui para a tristeza, pq sempre fico pensando “mas nem um brigadeiro eu posso comer! que raio de vida!!!” hehe drama queen).. Enfim, minha vida amorosa também tem sido uma tragicomédia, na qual todos se dão bem no final (menos eu, rss), que assumo o papel de amiga-gordinha-engraçada. E olha que nem sou tão gordinha assim (tamanhos 42 e 44, pra 1,64 de altura), mas o que se pode fazer se a sociedade me rotula como gorda (e consequentemente homens me vêem com preconceito e tals..)? É um bom assunto pra um bate papo! Quem sabe quando vc estiver em Bauru novamente não nos trombemos por aqui?
Um beijo! e parabéns de novo!

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Todos os seus textos são maravilhosos, leio todos e sempre tento melhorar cm as suas dicas. Eu estava sofrendo cm início de depressão, estou em tratamento e os seus textos me ajudam a refletir e a melhorar sempre. Obrigada. Vc encontrará alguém tão especial qnto vc q a fará muito feliz pq vc merece.

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Adoro seus textos
vc me fez enxergar que não precisa de ser magra pra ser bonita.
Vc é 10…. linda inteligente e maravilhosa

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Obrigada!

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Nossa,Paula.. Parece que você descreveu a minha vida toda ao mencionar a sua..no fundo no fundo nós somos todas iguais mesmo,padecemos dos mesmos “traumas” e aflições do cotidiano,como eu ja disse uma vez aqui,quando eu vejo as suas postagens, eu me sinto de certa forma acolhida,porque eu me identifico,porque eu me encontro e fico feliz,porque aqui e como se você fosse aquela amiga sabe? Que entende,escuta,divide as tristezas… Não tem julgamentos e ninguém apontando o dedo e ditando regras e estabelecendo padrões,acho que tudo seria mais prático se tudo não fosse pasronizado.. Bem,obrigada Paulinha,por compartilhar comigo leitora,e ao mesmo tempo me acolher. <3

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Acho que é uma coragem imensurável expor seus sentimentos dessa forma. Acho também que o coração da gente guarda sementinhas difíceis de germinar. Mas no fim, acredito que vc pode mais que isso. Também passei por isso e meu conforto vem da poesia ao invés das compras. Mas se engana quem acha que é melhor. Rumino pensamentos e isso tb não é bom. É difícil acreditar em si mesma e é complicado quando a gente não controla a vida. O que deixo de bom é minha admiração enorme por ti. E sei que tem uma tampinha da sua panela por aí. Mas o primeiro passo tu já deu que é reconhecer suas fraquezas. Agora é hora de reconhecer suas forças! Depois, faz uma analise swot e transforma tudo de ruim em oportunidades menina! Go que tem muita gente torcendo por ti!

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Olá Paula!
Fiz este mesmo post pelo facebook, mas deu um probleminha e tive que exclui-lo, então acho que por aqui vai!
Visto que, de certa forma, todos temos problemas com a aparência, hoje me deparei com esta postagem: http://entretodasascoisas.com.br/2014/01/10/licao-de-vida-o-que-define-voce-nao-e-sua-aparencia/
Já tinha visto essa moça, Lizzie Velasquez, também conhecida como “a mulher mais feia do mundo” em algum lugar que não me recordo, mas gostaria de saber a sua opinião e a sua visão perante um problema completamente oposto as nosso. Procurei no seu blog e não vi nenhuma postagem sobre ela, portanto, fica como sugestão de post.
Boa noite!

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Oi Ana Paula!

Eu conheço a história da Lizzie e a acho absolutamente incrível! Eu não escrevi sobre ela porque, na época, estava todo mundo falando sobre o mesmo assunto, ai eu preferi deixar o assunto esfriar pra depois falar sobre. Vou ver se escrevo algo sobre ela em breve!

Bjs

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Seria muito bom saber sua opinião sobre o assunto. Obrigada pela atenção!
Bjs

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Acontece comigo também especialmente com relaçao a compras e exercícios. Quanto a rejeiçao acho que meu caso é mais complicado pois a minha nao diz respeito a uma pessoa. Trata-se de rejeiçao coletiva e recíproca de mim x o pais e vice versa.

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Olá Meninas!!
Li o texto e gostaria de dizer uma coisa: beleza e magreza não traz felicidade! Confesso que ajuda a abrir portas, as quais vc deve estar bem atenta para usufruir somente da forma que lhe convir….
Por outro lado, tb traz amizades, mas nem tão sinceras….descobri que as pessoas querem pessoas de bem com a vida, bonitas e de alto astral ao lado delas para chamar a atenção…
Por isso, seja como vc for: alta, baixa, magra, gorda, feia ou bonita….cada uma tem o seu valor e quem está ao seu lado é porque gosta de VOCÊ!! do jeito que vc é!!
Valorize estas pessoas de caráter e nao aquelas que gostaríamos que estivessem ao nosso lado e tampouco se importam com a gente!!
#ficaadica

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Olá Paula, me identifiquei muito com seu blog, também tenho essa sensaçao de vazio que me faz descontar em compras, mas não sou tão controlada e muitas vezes passo do ponto, pois minha história de rejeição vem de casa, é diária, nunca fui magra, mas depois da minha gravidez, posso dizer que fiquei um pouquinho acima do que era, e isso incomoda meu marido de forma doentia, ele não me trata como antes, é frio, nao me elogia, me cobra o tempo todo dieta e atividade física, sendo que faço academia porém fica difícil emagrecer com tudo que a mulher tem que fazer nos dias de hoje: cuidar da casa, filho, trabalhar fora.. não estou usando isso como desculpa mas é que ele trata isso como se fosse a coisa mais importante do mundo e sem a qual ele não me aceitará e passará a vida sendo frio comigo, o que ele quer comigo apenas é satisfazer as necessidades masculinas mas sem nenhum romantismo e só! aí conclusão desconto nas compras pra me sentir menos lixo! desculpe o desabafo mas é que achei que era o local ideal para que alguém pudesse me dar uma luz! obrigada, bjs

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