Vivemos em uma sociedade competitiva. Crescemos para vencer, para sermos melhores do que o outro. Caso contrário, seremos engolidos. Empatia, coletividade, altruísmo e trabalho em equipe começaram a ganhar mais espaço recentemente. Talvez nossa geração tenha entendido que o modelo de vida do pós-guerra de nossos bisavós não funcione tão bem assim, mas levará um tempo para que o comportamento social, de fato, mude.

E o que isso tem a ver com depreciação?

Tudo!

A busca pelas melhores escolas, diversos cursos, terapia e tantas outras coisas que complementam nossas rotinas desde a infância estão ali para que sejamos melhores que o outro, afinal, temos que sobreviver. Quem é engolido não vive. O senso de cobrança e competitividade, no entanto, gera adultos ansiosos, frustrados e com a eterna sensação de que não são suficientes por não conquistarem determinada coisa.

Para uns é o cargo X até idade Y. Para outros é um relacionamento ou um casamento bem sucedido. Algumas pessoas precisam estar ganhando tanto por mês para se sentirem completas. Já outras precisam de filhos, uma casa em condomínio e um cachorro correndo no quintal. E sempre tem alguém no círculo de amigos ou no local de trabalho que conquistou aquilo que você desejava, seja lá qual for o seu sonho, e aí você mesmo se engole em um looping de desvalorização, depreciação, vitimismo e fracasso.

Eu sei. História da minha vida.

Quando a depreciação vem da infância

Para muitas pessoas, a depreciação vem cedo. Hoje em dia há diversos vídeos virais na internet de pais repetindo frases de empoderamento com crianças em frente ao espelho e isso é admirável e necessário. Quando somos estimulados a ver em nós mesmos mais qualidades do que falhas ou defeitos, crescemos com outra visão de self. Eu cresci sabendo que era diferente, pois a sociedade fazia questão de esfregar isso na minha cara todo santo dia. Por mais que minha mãe fosse acolhedora nesse sentido, cresci bastante sequelada com todas essas coisas e me tornei uma adulta bastante vitimista, frustrada, sempre duvidosa de minha capacidade e com uma facilidade absurda de auto-depreciação. É como se eu não conseguisse reconhecer nem 80% das coisas boas que sou e isso, sinceramente, não só é triste como gera um impacto tremendo em toda a vida.

A minha sorte, no entanto, é ter percebido esses pontos todos relativamente cedo. Com disposição para trabalhar em cima deles, vou buscando respostas, raízes dessas questões e tentando, dia após dia, desconstruir minhas próprias crenças limitantes. Tenho uma facilidade absurda de me comparar com as pessoas e sempre me coloco em posição inferior. É como se eu sempre ocupasse o último lugar e fosse incapaz de merecer ou conquistar coisas boas. Quão triste é isso?

Talvez a sua vida não tenha sido como você imaginava na infância. Pode ser que o casamento ainda não tenha acontecido; que o cargo dos sonhos ainda esteja um pouco longe ou que a casa do condomínio pareça irreal neste momento. Mas e todas as coisas que você sequer pensava em vivenciar ao longo de sua vida e que aconteceram para aprimorar sua caminhada? O tempo não é o mesmo para todos. Para você, talvez a posição de liderança almejada venha aos 50 anos – e tudo bem. O que realmente importa é: o que você está fazendo hoje para conquistar o que deseja? Como você está se lapidando?

Amor-próprio e autoestima para combater a auto-depreciação

Reconhecer e enxergar nossos atributos, capacidades e qualidades é um trabalho diário, de formiguinha. É como se a cada dia colocássemos um novo tijolo na casa para construi-la em base sólida. A maioria das pessoas não têm o hábito de elogiar o outro, mas o que precisamos não é do reconhecimento ou exaltação alheia e sim do próprio. O outro não está dentro de você, não vive, perde ou conquista por você. Quem precisa ter consciência de tudo, das falhas e acertos, somos nós mesmos.

Eu fico desconcertada quando recebo elogios. Nunca sei muito bem como reagir, mas percebi algo importante: normalmente essa minha reação se dá porque as pessoas exaltam pontos em mim que eu sequer reconheço ou, então, que não me julgo boa o suficiente. Sou a rainha da comparação e sempre acho que existe alguém melhor do que, que merece mais do que eu. É como se eu realmente me colocasse em último lugar.

Esta semana algo aconteceu que me impactou bastante. Minha prima e a amiga com quem divido a casa em pegaram, ao mesmo tempo, na xinxa. A frase de impacto foi: “Chega de ficar nessa posição de a pobre menina gorda, feia, vítima, pobre, insuficiente e sei lá mais o que e simplesmente reconheça a mulher foda que você é. Porque você, caramba!”

Não serei hipócrita aqui: muita gente já me disse isso, inúmeras vezes, ao longo da vida. O meu maior problema é que não me vejo como as pessoas me veem. O olhar delas sobre mim é, muito provavelmente, uns 80% melhor do que o meu próprio. Eu estou sempre presa na autodepreciação, na comparação, no vitimismo porque eu cresci com isso e virou minha zona de conforto. Agora eu quero, verdadeiramente, romper com isso. Quero ser uma mulher que se reconhece, se exalta, ciente de suas qualidades, atributos e encantos. Claro que também quero sempre reconhecer meus pontos fracos e falhas para poder buscar sempre evolução e melhoria, mas eu não sou a pobre coitada da história como muitas vezes me enxergo.

Não seja refém dos outros

O exercício é diário. Comece olhando o que tem de bom, sem depender de comentários, elogios ou exaltações de alheios. É preciso conseguir reconhecer seus pontos fortes, suas características positivas, seus valores, qualidades e tudo o que for positivo. Se necessário, faça uma lista e contraponha o positivo e o que precisa ser trabalhado. Olhe e analise bem o que for bom e fixe isso em sua mente. Jamais se esqueça de todas as coisas boas a seu respeito. Como um jardim, cultive, adube, regue e busque deixar o ambiente cada vez melhor e mais bonito. Vá limpando, tirando os matinhos e o que for indesejado aos poucos. Lembre-se que algumas ervas daninhas vão e voltam, mas se você persistir, um dia elas deixam de nascer.

Precisamos nos fortalecer. Aquele que chegou onde você gostaria também tem dúvidas, medos e também já se sentiu engolido pela avalanche, mas persistiu, acreditou e foi. Não se compare: vá no seu próprio tempo. Trajetórias são únicas porque o universo sabe bem do que cada um precisa para evoluir, vencer, perseverar e fazer a diferença. Antes de querer mudar o mundo, comece mudando a si mesma, especialmente a maneira como você se olha!

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