Antes de começar o meu blá-blá-blá habitual, permitam-me contar uma historinha que aconteceu esses dias com uma pessoa querida. Vamos chamá-la simplesmente de “Amiga”, ok?

Amiga é uma mulher como todas nós, que vive às voltas com a balança e, embora já tenha sido mais magra num período da sua vida, há alguns anos vem acumulando quilinhos extras por conta da maledeta tendência e de uma série de outros fatores que não vem ao caso.

Apesar disso, Amiga é uma mulher saudável, linda, exuberante, e à exceção de uma crise aqui e outra ali, muito bem resolvida com sua fartura.

Amiga é casada e muito feliz, até porque seu marido é daqueles raros tipos que sabe apreciar a beleza que existe fora dos padrões, e há pouco mais de dois meses descobriu-se grávida, o que foi motivo de grande alegria para o casal e para todos os amigos que sabem como eles merecem a felicidade de serem presenteados com um filho.

Amiga está radiante. Nunca esteve tão linda, e em todos os lugares aonde vai acaba virando o centro das atenções, como não podia deixar de ser.

E então Amiga foi a uma festa outro dia, e em pouco tempo lá estava ela no centro da roda de mulheres, às voltas com conversas e mais conversas sobre gestação, bebês, enxoval, etc. Um deleite para qualquer grávida, e aquelas que são mães sabem o tamanho do prazer que é falar sobre gravidez quando se está vivendo o momento mais feliz da vida.

No final da festa, já na fila do vallet para pegar seu carro, uma das mulheres abordou-a:

“De quanto tempo mesmo você está, Amiga?”

“Quase 3 meses!”,  respondeu, com o sorriso orgulhoso de gestante de primeira viagem.

“Nossa, só isso?”, disse a mulher, com cara de espanto.

“Errr… só sim”, disse Amiga um pouco confusa, sem entender aquele espanto todo.

“Mas você tem certeza que é só um? Devem ser gêmeos, heim, porque pelo tamanho da sua barriga… só podem ser gêmeos!”


Amiga, já relativamente constrangida, entendeu a que a mulher se referia, mas tentou manter a serenidade e apenas disse:

“Não, não, não são gêmeos, já fiz uma ultrassonografia esses dias e é só um bebê mesmo!”, tentando também encerrar a conversa.

Não satisfeita, a mulher continuou:

“Nossa, mas não é possível! Sua barriga está muito grande, do tamanho de uma gestação de uns 5 meses! Veja isso direito porque SÓ PODEM SER GÊMEOS!”

Amiga deu uma risadinha sem graça, agora já bastante constrangida, e declarou:

“É, na verdade eu já estava um pouco fora de forma quando engravidei…”

(qualquer pessoa minimamente sensata sabe que neste momento chegou-se ao ápice do constrangimento, e qualquer outro comentário sobre o tamanho da barriga da Amiga seria desnecessário, mas a mulher continuou…)

“Olha, Amiga, você vai ter que fechar a boca, viu! Eu sou mãe experiente, sei do que estou falando. Na primeira gravidez geralmente a barriga demora mais pra aparecer, porque a musculatura é mais rígida, e tal… se é a sua primeira gravidez, não devia estar com esse barrigão!”

Amiga limitou-se a dar mais uma risadinha sem graça e soltar um “Pois é…”, e deu graças a Deus quando o vallet finalmente chegou com seu carro e ela pôde ir embora e encerrar definitivamente aquela conversa desagradável.

=x=x=x=x=x=x=x=x=x=x=

Como me disse Amiga depois, se o carro não tivesse chegado, a mulher provavelmente estaria lá até agora demonstrando de todas as formas que conseguisse sua indignação com o tamanho da barriga dela…

Claro que a Amiga, como qualquer mulher, ficou levemente abalada pelos comentários da mulher. Se qualquer pessoa em seu estado normal ficaria constrangida com críticas insistentes sobre sua fartura, imaginem uma grávida, que está ainda mais sensível por conta da sua condição.

O que a mulher fez não foi apenas tentar humilhar a Amiga por estar acima do peso. O que a mulher fez foi uma grosseria sem tamanho, uma agressão desnecessária, uma tentativa covarde de tirar o brilho de uma pessoa que atrai todas as atenções por ser linda como é, e por estar ainda mais radiante diante da felicidade da gravidez.

Pobre alma… De que adianta lutar tanto por um corpo mais magro se a Alma é tão pesada?

Pedi autorização da Amiga pra compartilhar essa história com vocês porque sei que se não todas, a grande maioria das mulheres grandes já sofreu situação semelhante.

Eu mesma, quando casei, tive que lidar com isso. Uma das convidadas não titubeou em dizer: “Mas menina, se você está desse tamanho depois do regime que toda noiva faz antes de casar, como então você estava antes?”. Isso DURANTE o meu casamento, comigo vestida de noiva e tudo. E é apenas mais um exemplo, dentre muitos.

Pessoas paranóicas com o próprio corpo e que vivem em função dele, numa busca desenfreada para se adequarem aos padrões, acabam caindo num vazio tão grande que não conseguem entender a felicidade de quem “não está nem aí para os quilinhos a mais”.

É a velha história que já debatemos tantas vezes aqui. Para essas pessoas, o gordo tem que ser frustrado com seu peso, porque se ele se demonstra feliz e bem resolvido é quase uma afronta àquelas vítimas dos padrões.

“Como posso estar aqui às voltas com dietas e academia vinte e quatro horas por dia e existir gente que se sente bem pesando muito mais do que deveria?”

Parece que as pessoas se sentem ofendidas com isso. Não ficam satisfeitas em buscar o que elas acham que devem buscar para elas mesmas.O fanatismo que têm pelo corpo e pelos padrões estéticos é tamanho que elas acham que o mundo inteiro deve agir como elas e sofrer copiosamente enquanto houver um quilinho que seja para eliminar. Buscam (e muitas vezes conseguem) obter um corpo mais leve, mas jamais se livrarão da alma pesada de quem se apega àquilo que não importa tanto quanto acreditam.

Então, para apaziguar suas frustrações nessa busca cega pelo corpo da Gisele Bündchen, atacam e tentam diminuir os outros, como se isso fosse aliviar-lhes o sofrimento. São cruéis, talvez até de maneira não intencional, mas são cruéis, porque precisam enxergar o constrangimento nos olhos do outro para se sentirem melhor.

Existem muitas pessoas como a “mulher” da historinha que contei por aí, e você, Grande Mulher que me lê agora, certamente sabe do que estou falando.

Às vezes, se estamos num dia difícil ou se estamos atravessando uma fase mais sensível, um comentário desses é capaz de nos derrubar. Eu mesma já chorei litros depois de encontrar uma pessoa que não me via há muito tempo e ouvir o grosseiro comentário: “Menina, mas como você engordooooooooou!”.

Somos Grandes Mulheres, mas não somos de ferro, e ninguém gosta de ser criticada / atacada por alguém que insiste em lembrar que estamos fora dos padrões. É desleal.

Nós temos espelho em casa, compramos roupas e entramos em contato com nossa fartura todos os dias, ninguém precisa nos lembrar disso. Aliás, toda mulher sabe perfeitamente cada grama que ganha ou que perde, cada mulher tem a dimensão exata do seu corpo, e falar sobre isso – a menos que a opinião seja solicitada – é de uma deselegância indescritível. #FICAADICA!!!

Dá vontade de dizer logo: “De que adianta ter um corpo de Gisele Bündchen se você não tem classe e respeito pelos outros, minha querida? Infelizmente não há regime ou academia que resolva problemas de falta de educação, né?”

E se demonstramos autoestima e felicidade dentro das nossas diferenças, por que diabos as pessoas precisam tentar destruir isso? Percebem como o problema está nos outros – vítimas dos padrões – e não em nós?

Como eu já disse aqui várias vezes, não estou fazendo apologia à obesidade nem dizendo que uma mulher grávida – caso da Amiga – deve se descuidar. Cada um tem seus valores e deve buscar sua verdade, sua felicidade, sua saúde, e se isso significa fazer dietas eternas e viver em função de suas próprias medidas, que seja!

Mas vamos deixar as Grandes Mulheres que estão felizes e saudáveis como são em paz, ok?

Até porque uma Grande Mulher, quando segura e feliz com seu próprio corpo, é imbatível, e não há corpo-padrão de Gisele Bündchen ou de quem quer que seja que a desbanque!

Beijos Fartos, e aproveitando o post…

“Feliz Dia das Mães!”, porque se tem uma coisa na qual toda mulher é grande, independentemente do seu peso, é no exercício do melhor papel que nos é dado: O papel de mãe!

Comentários

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12 comments

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Olha, acho que toda gordinha já deve ter passado por alguma situação constrangedora relacionada à gravidez. Certa vez fui a uma loja comprar um presente para uma amiga grávida. Eu tinha acabado de voltar da academia e ainda estava com roupas largas e a vendedora perguntou se era pra mim e quando disse que não, ela insistiu, dizendo que eu estava grávida SIM.
As pessoas precisam mesmo aprender a ter simancol e a não ficar dando pitaco na vida dos outros. Esse é o tipo de situação que pode ser totalmente evitada, mas as pessoas parecem ter prazer em fazer um comentário venenoso. Lamentável!

Arrasou, Fartinha!

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No meu post de hoje eu cito uma médica que me depreciou e me fez sair do consultório dela chorando. Eu a tinha procurado para poder engravidar. Pensei logo… MAL AMADA… rs… http://maiorvaidade.blogspot.com/2011/05/gorda-e-mae.html.
Adorei o post. Beijos

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Qualquer hora escrevo para vocês dizendo as coisas que já escutei (e nos últimos tempos LI pela internet) por estar acima do peso, por não ser vaidosa, por ser estudiosa, musicista, gostar de música erudita, não saber cozinhar, enfim, por estar fora dos padrões e esteriótipos…
Felicidade causa mais inveja do que estar magra ou ter dinheiro. E inveja mata!

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Nossa Marília, jura que você passa por tudo isso? As pessoas não têm noção mesmo. Não se contentam em cuidar da própria vida e melhorar aquilo que é ruim nelas, mas há a necessidade de olhar para o outro e julgá-lo, criticá-lo e etc. Você resumiu bem: felicidade causa mais inveja do que estar magra ou ter dinheiro. Concordo plenamente! Você se demonstrou ser uma pessoa feliz. Que coisa maravilhosa! Continue assim e deixe os comentários pra lá. Seja mais você, sempre!
Beijos 🙂

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Na gravidez os hormônios conseguem nos deixar mais sensíveis do que o normal, o que é um prato cheio para aquelas pessoas de mal com a vida que tem como um dos poucos prazeres da sua mediocridade atormentar a vida alheia. Triste, mas verdadeiro.

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Há … Este grupo de pessoas é muito grande!!!!! É o grupo dos “sem noção ” !!! Eles não tem noção de nada!! Dos absurdos que falam e fazem !!!! E atacam em todas as áreas!!!! Sempre tem um comentário deselegante e grosseiro!!!! E o pior é que não tem noção da hora de parar!!!! Assiméavida!!!

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Que texto bacana…confesso que ri…mas adorei o seu tapa de luva de pelica. Muita gente tem como esporte favorita espezinhar o outro….diminuir o próximo…para só assim se sentir melhor. E alguns ainda acham que isto não é “nada mais do que dizer a verdade”. Verdade de quem? Gentileza gera gentileza…..vamos nos permitir entender que cada um tem o seu jeito, o seu charme…a sua beleza….o seu prazer…Mande um beijo para a tua amiga….e pode dizer para ela que toda gravidinha é linda e especial…afinal uma nova vida está ali…e não tem presente maior do que este….

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A escravidão é tanta que, ao elogiarmos alguém fora dos padrões, você corre o risco de passar por cínico. Muitas mulheres se esquecem de que cada fase da vida tem o seu viço. A mulher de 40 anos com dois filhos tem um tipo de beleza diferente, nem melhor, nem pior. Mas muitas vezes obcecam fazer uma lipo, levantar os peitos, etc, na busca pela auto-estima perdida; outras largam a amamentação, um dos pilares da infância para não prejudicar a estética. Ora, se o marido não aceita a mudança na mulher e como sua beleza foi modificada e até (por que não?) multiplicada na beleza dos filhos, ele que vá fazer análise. E se as amigas não se conformam, idem. Sou contra a mulher desleixada de calcinha bege e cabelo emaranhado. Vaidade cabe em qualquer idade. E de acordo com ela, de preferência. Paranóia já é outra conversa.

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Legal o texto, mas, tenho algumas observações importantes:

Primeiro: é uma falácia muito grande dizer que todas as mulheres que se preocupam com o corpo querm ficar igual a Gisele Beuchen, ou que tem isso como o único e maior objetivo de vida. É normal (e necessário) se preucupar com o corpo, e sim, não existe nenhum problema que essa preocupação seja por pura estética, afinal, ninguém passa condicionador no cabelo porque isso o deixa mais saudável.

Segundo: auto estima é muito importante, e eu acho legal dizer que, mesmo estando fora dos padrões, ela continua inabalável. O problema é quando é só isso, é só “dizer”. Se realmente fosse inabalável as críticas seriam aceitaria numa boa, por mais insensíveis que elas fossem desferidas. Obviamente pessoas que estão “foras dos padrões” são felizes, e muitas vezes muito mais das que estão perfeitamente dentro deles, mas acho hipocrisia bater no peito e dizer não ligar pra isso e que isso não a incomoda. Acho importante observar e aceitar nossos próprios defeitos, e que sim, que eles são um problema. Se você tem 5 kilos a mais do que deveria, isso É UM PROBLEMA. Talvez não grande o bastante pra se preocupar, mas não se pode negar que é um problema. Digo isso porque aceitar o problema é uma parte importante para a construção de uma boa auto estima (querer corrigi-lo é OUTRO problema). Então antes de apenas dizer que é inabalável, seja inabalável. No comentário maldoso da Amiga, se a auto estima fosse mesmo inabalável, seria só dizer “Sim, eu estou obviamente acima do peso, eu sei que isso não é o ideal, mas não me preocupo tanto com isso quanto você. Em todo caso já consultei um médico e ele disse que isso não fará mal para mim e nem para o bebê.”, provavelmente acabaria o assunto (e se não acabasse, pelo menos não iria te abalar).

Concluindo, acredito que você atacou a pessoa errada no seu discurso. Não são pessoas que se preocupam com o corpo (mesmo que fanaticamente) que são um problema. São pessoas que humilham as outras desnecessariamente quem são. A Amiga do texto é uma pessoa desprezível por fazer os comentário apenas para que você se sentisse mal, mas, existem pessoas que vão te criticar, muitas vezes pesadamente, mas para o seu bem, e não porque querem te fazer mal.

Quanto ao segundo ponto, por mais que a gravidez deixe a mulher mais sensibilizada, já existia uma sensibilização prévia sobre o seu peso, e esse é o maior problema. Claro que não gostamos que nos lembre dos nossos defeitos, porque, no fundo, não queremos aceitar que são, de fato, defeitos, e pior, que muita vezes não temos motivação e/ou condição para corrigi-los. Aceitando-os, já é metade do caminho.

E por fim, por favor não me entenda mal. Concordo com a maior parte do seu texto e suas atitudes, e claro que eu sei que críticas não devem ser feitas publicamente e que, obviamente, sua Amiga é uma idiota =p

Felicidades!

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Defeito é achar que pode saber quem deveria estar 5 kg abaixo ou acima. Só os irremediavelmente fracassados precisam se sentir deuses.

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Rodrigo,

Obrigada pelo seu comentário!
É importante termos opiniões diferentes para enriquecer a reflexão, sempre!
E só para reforçar, eu disse no texto o quanto acho importante a pessoa se cuidar e manter a autoestima elevada, e que cada um tem seus meios de buscar isso.
Saúde deve ser sempre prioridade!

Beijos Fartos!

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O Rodrigo parece que não entendeu direito o que leu, a começar por pensar que a idiota era a Amiga, sendo que a Amiga era a vítima da história.

Anyway, pra mim a questão do peso extra equivale à da homossexualidade. Problema de cada um. Se você está saudável e com boa auto-estima, não é o número em uma balança (ou na etiqueta da calça) que vai dizer o contrário. O excesso de peso é um problema quando afeta a saúde, e ainda assim, é concernente ao dono do corpo em questão.

A busca por um corpo saudável deve ser vista com tanta cautela quanto o desleixo total pela saúde. Vaidade é uma coisa, paranóia é outra…

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