Começo este editorial com um conselho: se você ainda não assiste o seriado norte-americano Glee, nunca é tarde para começar! Além da série ser muito divertida e animada, ainda nos faz refletir sobre diversos aspectos da sociedade atual e foi exatamente isso que aconteceu comigo hoje. Fiquei completamente emocionada com o 18º episódio da segunda temporada, que fala sobre aceitação, sobre aquilo que você considera o pior defeito em você e, por isso, gostaria de “conversar” com vocês através deste editorial.

Não é segredo para nenhuma de vocês que eu NUNCA fui magra. Nem um único dia sequer da minha vida. Não sei o que é isso. Não sei o que é entrar em uma loja e sair de lá completamente feliz. Não sei como é chamar a atenção de diversas pessoas. São sensações desconhecidas por mim e, justamente por causa disso, tive que aprender a desenvolver outros dons / habilidades para “conquistar” meu lugar no mundo. Aparência sempre foi meu maior problema e, de alguma forma, consegui passar para muitas pessoas que eu era uma garota muito bem resolvida, até que eu abrisse a boca e contasse para elas como eu realmente me sentia por dentro.

Aos 16 anos fui morar nos Estados Unidos para fazer colegial. Sabe aquilo que a gente vê nos filmes e seriados? É tudo verdade! Eu cheguei lá querendo me encaixar, querendo me tornar a garota mais popular da escola, sair com o capitão do time de futebol, ser a rainha do baile e viver uma história de cinema, mas eu sabia que as coisas não seriam assim, pois eu era a adolescente gordinha…apenas mais uma que entraria pelas portas daquela escola. O que me faltou em beleza eu tentei desenvolver em personalidade e chegando lá, tentei usá-la como meu trunfo e funcionou.

Todo mundo sabe e comenta que o nível de obesidade nos Estados Unidos é absurdo. Bem, deixe-me dizer uma coisa: na escola em que estudei, eu era parte de uma minoria. Convivia com meninas que poderiam estar em qualquer capa de revista. Elas eram lindas, magras, populares e esbanjavam algo que eu julgava não ter: beleza. Achei que me encaixaria porque imaginava uma escola cheia de gordinhos, mas não! No entanto, fui surpreendida: nunca, em momento algum, fui chamada de gorda ou deixada de lado por causa da minha aparência. Quando eu comentava com as pessoas que me achava gorda, elas ficavam espantadas e consideravam meu julgamento próprio um absurdo. Eu tinha o porte grande, nada mais. Para eles, estava longe de ser considerada obesa e o julgamento deles a meu respeito fez com que eu conseguisse me olhar com outros olhos por um ano.

Durante todo o tempo em que estudei lá, conviver em um País em que não me julgavam pela aparência fez com que eu me libertasse do meu maior medo. Deixei de me torturar tanto apenas para viver e conquistei muitos amigos, inclusive a turma mais popular da escola. Fui chamada para ir a um “encontro” – como eles dizem –  pelo lindo capitão do time de futebol e, posteriormente, por vários outros jogadores. Não fui rainha do baile, mas comprei um vestido digno para ir ao evento e ainda fui acompanhada de um carinha lindo! Consegui tudo isso porque deixei minha personalidade transparecer e parei de me torturar tanto. Deixei de colocar toda a culpa em cima do peso e apenas vivi.

Quando morava lá, uma música bombou nas paradas: Unpretty, da banda TLC. Quando a ouvi pela primeira vez, chorei bastante porque a letra me tocou muito. Hoje, assistindo a esse episódio de Glee, me peguei chorando novamente quando duas personagens a cantam. Gostaria de compartilhar o momento de reflexão que tive com vocês. Os vídeos e letra se encontram abaixo. Ouçam com calma e reflitam no que diz a letra. Eu já devo tê-la ouvido mais de 20 vezes só hoje, e chorei muito porque milhões de coisas se passaram por minha cabeça.

Quanto a sua aparência pesa em quem você é? Já parou para pensar nisso? Quanta culpa ela leva por coisas que você não consegue administrar, fazer ou conquistar? Já disse aqui que joguei a culpa no meu peso diversas vezes por problemas de relacionamento quando o problema, na verdade, era o meu comportamento. Qual é o valor que você dá para um defeito que existe em você? E o quanto você usa esse defeito para mascarar aquilo que você não consegue lidar interiormente? Você deixa que ele governe a sua vida e determine o que fará ou não? Quantas oportunidades nós boicotamos por medo do julgamento alheio quando, na verdade, muitas vezes as pessoas não estão nem se importando com aquilo – está tudo na sua cabeça!

Atualmente, como foi ressaltado no seriado, você pode mudar tudo. Pode consertar seu nariz, mudar a cor dos olhos, do cabelo, emagrecer, engordar, colocar “peito”, tirar “peito”. Quase tudo é possível para alcançar algo inatingível que, na realidade, não é você. Quem é você? Eu nem sei, na realidade, se eu saberia ser magra. Não estou dizendo que quero ser assim a vida inteira, posso melhorar e devo, até por questões de saúde, mas sou esta pessoa que mora neste corpo e ele não deveria ser o fator primordial do valor que dão a mim. Infelizmente isso acontece algumas vezes, mas o que temos que aprender é que pessoas que fazem esse tipo de julgamento são seres de alma pesada, pessoas com pensamentos e sentimentos limitados.

Estamos neste mundo para melhorar, para ajudar a sociedade a evoluir e fazer a diferença. Mudar não é fácil: nem internamente e nem exteriormente. Tudo exige muita vontade e persistência de nossa parte, mas sempre defendi que você tem que fazer aquilo que lhe faça feliz. Você quer mudar por você ou pelos outros? Se o peso para você é um problema, lute para emagrecer. Ele não pode determinar a felicidade da sua vida, nem um cabelo, um seio, um nariz…nada! Você é quem define seu próprio valor e isso tem que vir de você mesma: nunca, jamais, deixe que outro indivíduo queira te dizer quem você deveria ser porque assim não está bom. E se essa pessoa não te aceita como você é, é porque ela não merece conviver com você. Me diga quem não tem defeitos neste mundo? Quem somos nós para julgar e impor um valor ao outro? Quem habita ai dentro é você e quem tem que viver a sua vida não é uma outra pessoa. Se você é feliz sendo gordinha, ou com um seio pequeno ou com um cabelo curtinho, não importa o que pensam os outros. Você é seu maior tesouro!

É duro, gente, mas temos que tentar. Pensa que é fácil para mim vir aqui e escrever tudo isso, expor as coisas que mais me dilaceram interiormente? Faço isso porque eu preciso de vocês e porque quero dividir um pouco da minha força, daquilo que tenho de bom com quem também possa precisar de mim. Estou com vocês nessa luta, estamos juntas! Quero que você saiba que essa ditadura imposta pela mídia é irreal e que ser parecida com uma celebridade não fará com que você seja mais feliz ou melhor. Você já é única, já é bonita, já é especial: só precisa acreditar nisso!

Clique aqui para ler a tradução da música Unpretty, do TLC

Comentários

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12 comments

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Gata, simplesmente PERFEITO o seu texto.
Amei. Adoro Glee, e esse episódio em especial, pq tb adoro essa música.
Engraçado, pq se vc mudar tudo o que vc fala sobre “gordinha” e colocar magro, ou nerd, ou qq outra coisa, encaixa.
Atualmente as pessoas dão um valor demasiado a estética, mas esquecem que isso não é tudo na vida. De que adianta eu ficar com um cara EXTREMAMENTE lindo, se qdo ele abre a boca não sai nada que preste????

Beijos, e adorei o texto.

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Eu acho vc a mais linda.

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Ótimos apontamentos…

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Você é sempre tocante nos seus posts. E, viu, vc já descobriu tudo isso sozinha, agora é trabalhar pra por em pratica. Você já é mais do que fantásticas, precisa admitir isso e só.
Alias, nós precisamos, né?

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Fofa! Sim, precisamos aprender a nos olhar com outros olhos. É um árduo exercício diário, mas o importante é tentar sempre e não desistir nunca!

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Paula, parabéns pelo texto! de uma sensibilidade enorme. Beijocas e fica bem sempre

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Paula, como sempre, invariavelmente, você me fez chorar. E muito.

Principalmente porque eu estava num questionamento absurdo sobre coisas relacionadas a mim e meu peso durante este fim de semana.

Todos os meus amigos me chamam de “velha” e “antissocial” porque eu não gosto de sair. Não vou à lugar nenhum, pouco me divirto fora de casa. Não saio mesmo, há pelo menos um ano. Eu sou assim.

Mas pensando nisso, eu descobri que não é porque eu quero ser assim. Infelizmente, é por achar que, se eu sair, for a alguma festa, boate ou barzinho que seja, as pessoas vão reparar em mim e no meu peso/meu corpo.

Já te falei sobre isso em outro comentário… Que ainda atribuo minha felicidade e vida social ao meu peso. Sei que está errado, mas não consigo mudar. Sei que as pessoas vão me aceitar, mas eu não me aceito. Parece que junto todos os esteriótipos negativados pela sociedade (Gorda, preta, Mulher, Moradora do Suburbio, Solteira…)

Mas ao ler um post como seu, ver esse vídeo (Gosto de Glee, mas não acompanho fielmente) e meditar na letra desta música, cara. Não sei nem o que dizer. Não sei mesmo. Só posso chorar. E acreditar que pessoas como você existem pra fazer bem pra humanidade!

Obrigada, Paula!

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Paula Bastos. Absoluta.

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Comentário

Ditadura, patrulha, qualquer que seja o nome , ela existe e eu te digo: muito cedo aprendi que a personalidade tem que ser forte pra você poder ser alguem em seu grupo.
Especialmente se você passar por um problema tão grave quanto o sbobrepeso: magreza em excesso..
Olivia Palito era o nome mais bonitinho que era grudado como um adesivo.
Só que eu sempre tive topete e fiz aqyelas patrulheiras todas, engolirem os insultos: os caras mais bonitos , os mais interessantes adoravam palitar !

Fazer o que né??
Você sempre brilhante.
Sempre texto perfeito!!!

abraços

Ma Albergarias http://www.mulheresalacarte.com.br
> No twitter @Malbergarias , ou no @mulheres

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Paulinha, querida…

Deixei um outro comentário hoje cedo, mas sabe-se lá por que cargas d’água ele não foi, então vou tentar repetir a reflexão que tinha feito.

Antes de mais nada, devo dizer que fico muito feliz e orgulhosa por perceber que você se mantém firme no propósito de exorcizar esses demônios e dar a volta por cima. Como você mesma sempre diz nos editoriais, se fosse fácil não sofreríamos tanto, mas ser difícil não significa que seja impossível, e o caminho é esse: Tentar sempre, sem perder de vista o que tem valor de verdade.

Sabe, eu também sempre fui gordinha, apesar de já ter experimentado a sensação de ser magra uma ou outra vez ao longo dos meus quase 35 anos, sempre, invariavelmente, às custas de processos químicos e afins que me fizeram muito mais mal do que bem. Assim, acho que posso falar, ainda que com algum comprometimento, como alguém que já viveu os dois lados do assunto “ser gorda”, e sem demagogia, a coisa é completamente diferente do que a gente imagina quando se consegue ficar magra.

Porque quando você se entope de barbitúricos e anfetaminas como eu já fiz numa época da minha vida e consegue depois de alguns meses entrar num jeans 40 é sim uma delícia, não vou mentir. Encontrar pessoas que não te vêem há muito tempo e soltam um “mas menina, como você tá magraaaaa!” também é legal, e num primeiro momento a gente se acha um verdadeiro arraso.

Mas como você mesma disse, a gente é de verdade algo que vai muito além da nossa casca, então passada a euforia do primeiro encontro com a imagem magra no espelho, as neuras voltam, às vezes até com mais intensidade. Porque você emagreceu, mudou sua casca, mas sua essência continua lá dentro. E se você não tem autoestima suficiente pra enxergar o que você é de verdade, além do corpo, não importa o tamanho que ele esteja, você vai estar infeliz.

O maior problema, penso eu, é que nós jogamos uma parte muito grande das nossas frustrações em algo que significa muito pouco, que é o tamnho do nosso corpo. A aparência é supervalorizada, e pessoas verdadeiramente lindas, sexys, sedutoras, interessantes muitas vezes se deixam ofuscar por acreditar que tudo que os outros enxergam é a maldita casca!

Não, não é. E eu aprendi isso, acho que posso dizer, com algum orgulho, até. Não que eu não tenha vez ou outra minhas crises existenciais de achar que não vou caber no mundo, etc e tal, tenho sim meus dias de me sentir feia e querer pesar 300 quilos a menos, mas na maior parte do tempo aprendi a entender que as pessoas me enxergam – e eu devo fazer com que elas me enxerguem – além do meu corpo.

Nunca tive problemas pra namorar ou pra seduzir quem eu quisesse, e, veja só, minhas “melhores conquistas” de juventude, por exemplo, aconteceram justamente nas fases em que eu estava mais cheinha, porém de bem com a vida e comigo mesma.

Tudo isso parece psicologia de fundo de quintal, e talvez seja mesmo, mas funcionou pra mim. É o meu testemunho, é a minha história.

Sim, ainda sofro e me irrito com a ditadura que insiste em me excluir, por exemplo, das roupas da moda que quase nunca me cabem, mas e daí? Desde quando é uma roupa que vai me fazer encontrar um amor pra toda vida, que vai me fazer arrumar um bom emprego, que vai me fazer ser querida pelas pessoas?

Não existe receita de bolo, mas isso que você tá fazendo é um grande e importante passo, pra você pra todas as leitoras. Refletir e debater sempre essas questões, e não perder de vista nunca que o que importa, por mais clichê que seja dizer isso, é o nosso EU interior. E é ele que determina o quão linda nós somos, inclusive exteriormente.

Beijos Fartíssimos, e tamojunta! Sempre!!!

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Estou apaixonada pelo seu blog. Conheci ontem e viciei.
Estou lendo tudo.
Sabe o que me lembrou esse seu texto? (por sinal muito bem escrito). Aquela ditadura de que todas as pessoas são obrigadas á serem felizes. Simplesmente, isso não existe. Preciso pedir licença para dizer: hoje estou triste? Ou para se sentir mau por não se sentir aceita? Não podemos simplesmente acordar um dia super up, e no outro pra baixo?

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Oi, Dinah!

Fiquei tão feliz com seu comentário! Que bom que vocÊ está gostando tanto assim do blog. Espero que passe a acompanhá-lo!
E sim, você tem razão…infelizmente não é todo dia que estamos felizes, mas temos que tentar deixar a peteca não cair pra não nos sentirmos pior. É o que eu sempre digo: vamos fazer o melhor que podemos com o que temos no dia de hoje!

Um beijo grande

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