Talvez o mundo esteja passando por uma mudança paulatina. Ao menos foi isso que senti nos últimos dias ao ver duas grandes mulheres incluídas na nova turma de “brothers” do Big Brother Brasil 12, representadas por Mayara e Analice. No último domingo tive a agradável surpresa de saber que Vânia Flor, a “gordinha da Salgueiro“, foi coroada musa da escola de samba carioca. Vibrei ao assistir sua declaração para o Fantástico dizendo que as gordinhas deveriam explorar todo seu potencial e que preconceito não estava com nada. Vânia me pareceu um poço de segurança, uma mulher cuja autoestima não se abala por pouco. Ela ganhou uma fã! Também bradei com o “recado dado” por Preta Gil, Gabi Amarantos – a “Beyoncé do Pará” – e Regina Casé, no programa “Esquenta”, exibido em 15/01. O trio colocou a boca no trombone dizendo que grandes mulheres não iriam sucumbir aos deboches alheios. Gabi ainda acrescentou: “quanto mais vocês falam de mim e criticam o meu corpo, mais a minha bunda cresce”.

 

Vânia Flor samba na cara da sociedade

Como sempre disse, nunca fiz, em momento algum, apologia à obesidade. Estou apontando algo que, em meu ponto de vista, vem minando a sociedade nas últimas décadas. A obsessão pela magreza gerou uma série de reflexos e comportamentos que estão vindo à tona na atualidade. O caráter feminino das últimas décadas se moldou a um estereótipo que é  inatingível para muitas e, com isso, mulheres que não se encaixavam no padrão tido como ideal aprenderam a desenvolver medos, fobias e inseguranças que afetaram diretamente a forma como levam suas vidas. O tal padrão também atingiu os homens, que praticamente passaram por uma lavagem cerebral do que deveriam desejar, como se a aparência pudesse resumir o todo, a essência. Hoje, a obsessão pela beleza atinge homens e mulheres de todas as idades e classes sociais.

Desde 2009, quando comecei a estudar com profundidade o universo plus size e dei início a meu trabalho com esse “público”, tenho percebido que há toda uma indústria – que hoje não se reduz apenas à da moda – lucrando em cima da fragilidade feminina cujos reflexos criaram um verdadeiro exército de mulheres inseguras e descrentes em si mesmas. Posso dizer, sem vergonha alguma, que sou uma dessas mulheres. Travo brigas com espelhos, quero morrer em lojas de roupas e me sinto, por muitas vezes, a última das criaturas na “disputa” por um homem. Muitas que me lêem se sentem da mesma forma e é realmente triste que tenhamos aprendido a desenvolver esse comportamento ao longo dos anos estimuladas por uma indústria capitalista.

Quero bradar no dia de hoje que tenho percebido que, aos poucos, algumas grandes mulheres têm colocado suas caras à tapa para que o espaço de uma “minoria” seja respeitado e repensado. Será mesmo que a sociedade precisa ter estereótipos que tragam ainda mais complexidade para a natureza humana? Será que não podemos ser respeitados como indivíduos, por aquilo que somos? Conquistas como a coroação de Vânia, a inclusão de duas mulheres acima do peso no BBB 12 e concursos de Miss Plus Size vêm mostrando que talvez, com muito trabalho e esforço, uma nova leva de mulheres irá surgir. Quero acreditar que esse batalhão de inseguras que a sociedade criou dará espaço para uma mulher reformulada: a que tem consciência de si mesma, que conhece seus valores, que não vive de imagem, que sabe que não se vive de extremos. Gorda ou magra, não importa: o que a mulher precisa é recuperar a crença nela mesma.

Tenho muito orgulho de fazer parte de um momento crucial da atualidade: estou vendo a mudança acontecer diante de meus próprios olhos. Irá demorar anos, talvez décadas, mas não perco a fé no ser humano e acredito que em um futuro não tão distante teremos aprendido a atingir o equilíbrio. Se ser gorda não é bom, ser magra demais também não é. A obsessão pela magreza tem gerado um grande número de doenças físicas e psíquicas e pouco se fala sobre isso, mas quando o assunto é obesidade, o tema pesa na balança da mídia. É mais fácil apontar o dedo para quem parece mais frágil, para quem já está acostumado a ser marginalizado.

Vamos aprender com essas mulheres que estão se destacando, que estão conquistando um importante espaço sem se colocar em papel de vítima. Não tenha dó de si mesma. Se encare de frente e saiba quem você é, o que existe dentro de você. Seu exterior será sempre um reflexo da pessoa que você é por dentro e posso te dizer que se cuidamos do nosso interior, ele se reflete exteriormente. Acredite em você, busque melhorias. Dê menos ouvido aos comentários alheios e ouça o seu coração: faça o que você quer fazer, conquiste mais espaço, aprimore seus talentos e veja no espelho a grande mulher que você é. Eu decidi abandonar o batalhão da insegurança e passei a me juntar com o batalhão das grandes mulheres. E você, soldada? Em qual pelotão irei encontrá-la? Espero que você decida fazer parte desta mudança pela qual a sociedade vem passando. Não adianta reclamar se você não fizer nada por isso. Reflita!

Enquanto isso, Vânia Flor está sambando na cara da sociedade. Samba, Vânia, samba!

Beijos,

Paula Bastos

@parispaula

Comentários

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8 comments

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Tenho que comentar esse post!
As propagandas das escolas de samba da Globo também estão cheias de mulheres corpulentas! rs

Bacana o texto, Paaaris! E queria deixar anotado que, mesmo para mim, que sou magrinha, toda essa transformação de valorização da mídia, que já dá para ser percebida, é um super estímulo para a auto-estima, parte da noia da perfeição do corpo (porque não é porque sou magra que meu corpo é perfeito, muito pelo contrário!) se acalma e acaba se transformando em algo como orgulho, sei lá…

Um beijo e que venham muitas mais transformações do bem! 🙂

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É isso ai, Grazi! O meu maior desejo é que as mulheres aprendam a desvincular seus valores da aparência, querendo dizer que muitas – assim como eu fiz há muito tempo – colocam todo o seu valor em cima de sua imagem. Sejam magrinhas ou gordinhas, precisamos trabalhar na essência para ver a sociedade mudar. Chega de ter nossas autoestimas destruídas!

Beijos e obrigada pelo comentário 😀

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Paula, você foi perfeita nas colocações do texto…apesar de que ainda acho que vai demorar para vermos toda esta transformação de preconceitos com o mundo plus na sociedade!!

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Não apenas as propagandas das escolas de samba da Globo estão cheias de “corpulentas”, Grazi, como eu vi no sábado, no Caldeirão no Huck aquele concurso “musa do carnaval” com várias concorrentes mais cheinhas, e achei o máximo!
Antigamente eles escolhiam as musas mais saradas, lembro bem das primeiras edições do concurso quando eles mostravam até a rotina de malhação das candidatas, mas isso foi mudando, segundo dizem por pressão das próprias comunidades que queria enviar para o concurso suas musas verdadeiras, aquelas que pertencem à comunidade e estão o tempo todo na quadra da escola, e não apenas uma menina “fabricada”.

Acho que o samba, aliás, é sensacional justamente por ter essa coisa democrática e por ter orgulho de ser o que é.

Tomara que seja mesmo uma tendência!

Beijosss

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Boa, Paula! De tempos em tempos, temos manifestações a favor de grandes mulheres e grandes histórias. Isso poderia ser mais frequente!

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Essa matéria esta simplesmente Maravilhosa!

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Parabéns, Paula pela matéria maravilhosa!
Beijos

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Obrigada!! Que bom que vocês gostaram, meninas!
Agradeço o carinho <3

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