Censurada na época da Ditadura Militar, a edição especial Mulher da revista Realidade está à venda nas bancas de todo o País, mais de 40 anos depois de ser apreendida.
Em 1967, a revista Realidade publicou “A Mulher Brasileira, Hoje”, um especial com revelações sobre o perfil da mulher brasileira da época. A edição abordou temas polêmicos e delicados como aborto, separação no casamento, mães solteiras e virgindade. Mal chegou às bancas e a revista virou escândalo. Por ordem da justiça, foi apreendida e acusada de ser obscena. Uma antecipação da repreensão militar contra a imprensa e a liberdade dos cidadãos. Só na gráfica da Editora Abril, foram retidos 231.600 exemplares de um total de 475 mil.
Além da reimpressão da publicação, o projeto de relançamento inclui um suplemento focado na importância de Realidade para a formação do jornalismo brasileiro, com matérias sobre a censura no Brasil e nos contrapontos entre a vida da mulher brasileira em 1967 e em 2010. O especial Mulher custa R$ 20 e traz na íntegra o conteúdo da edição original, com 120 páginas.
Censura
O então diretor de Realidade, o atual presidente do grupo Abril, Roberto Civita, se lembra do dia 30 de dezembro de 1966, quando a edição especial foi retirada das bancas, por conter uma série de reportagens supostamente ofensivas à dignidade e à honra da mulher. Civita relata no editorial do suplemento: “consideramos o resultado um retrato ousado, porém fidedigno, de como as brasileiras da época viviam, trabalhavam, amavam e pensavam. Mas certamente não obsceno e muito menos atentatório a seja o que for, com exceção do obscurantismo e da censura”.
A reportagem Nasceu, considerada ofensiva pela Justiça da época, apresentava sequência fotográfica completa de um parto. Zenaide e sua filha Tânia, as protagonistas de um período conturbado da realidade brasileira, estão no relançamento da revista Realidade. Todos poderão conferir a história que marcou o início da censura da liberdade de expressão no Brasil.