Comecei limpando a casa como se ao esfregar a sujeira e tirar o pó eu estivesse me limpando. Os pensamentos vagavam por minha mente tentando entender onde eu errava tanto. Seria, talvez, um pouco mais fácil se a vida tivesse medidas como uma receita de bolo, mas não tem. Você absorve alguns conselhos, coloca em prática coisas que aprendeu ao longo dos anos com a experiência que ganhou, mas parece que a medida certa é algo impossível de acertar. Ou é uma pitada que falta ou que excedeu e pronto: bastou para não ficar do jeito que você queria.
Tenho falado muito sobre amor próprio aqui no blog e na página do Facebook, mas vou dizer a vocês que quando a gente passou e passa pelas inúmeras situações que a baixa autoestima causa, é realmente difícil de desenvolvê-lo e usá-lo quando necessário. Eu tenho muita dificuldade em me colocar em primeiro lugar e parece que estou sempre à disposição das pessoas, mesmo quando elas me ferem. Posso ter certeza que estou certa, mas basta um tiro certeiro da oposição querendo jogar a culpa pra cima de mim que eu, automaticamente, aceito a culpa e o pior: quase nunca percebo…a ficha cai sempre quando é tarde demais.
A submissão é algo que muitas de nós, que sofremos com as causas da ditadura da beleza, passamos por e nem sempre é consciente. A minha só vem pra consciência depois que algumas situações acontecem. Parece que tenho uma enorme dificuldade de me posicionar em primeiro lugar, tendo certeza do meu valor, do que eu preciso e mereço. Acabo aceitando muitas migalhas – já escrevi sobre isso aqui várias vezes – e é realmente muito triste. Sei que é um trabalho árduo de formiguinha para desconstruir tudo o que já implantaram na minha cabeça e acho que muitas de vocês passam pelas mesmas coisas às vezes.
É triste, e até engraçado, que às vezes o meu amor próprio brota das profundezas em algumas ocasiões e, num impulso, ele me posiciona. Aí vem a oposição com meia-dúzia de palavras e pronto: já me arrependo, já me sinto culpada e meio sem rumo. Afinal, será que eu sou realmente sempre a errada? Por que a gente acaba sempre aceitando o fardo que jogam nas nossas costas quando de repente o outro também deveria refletir para saber onde está errando e, de forma adulta, chegar a um consenso para resolver determinadas situações sem um atrito que pode ser facilmente evitado?
Estou me sentindo um tanto quanto quebrada por sentir que eu não consigo – ainda – me dar o valor que acho que deveria ter. Às vezes as pessoas próximas veem muito mais mérito em mim do que eu me dou e quando alguém que não me enxerga de verdade não me valoriza minimamente, me sinto completamente perdida. Por que eu preciso que o outro me aceite e me valide se eu mesma não consigo me posicionar e me dar esse valor? Nunca virá dos outros e no racional eu sei disso, tenho plena consciência, mas cadê o meu amor próprio?
Para conseguir ser feliz é preciso entender que essa felicidade tem que vir primeiro de dentro da gente. É um exercício diário de fazer as pazes com quem você é, de soltar os grilhões do passado, de deixar pra trás as angústias, as palavras que te feriram, os episódios que te humilharam sabendo que você é e pode muito mais do que imagina. Todo mundo tem amor próprio: às vezes a dose é menor para uns, mas quando ele surge, temos que nos agarrar no que ele vem trazer à tona para podermos evoluir. Não deixe que os outros te posicionem sempre como a errada. Comece a trabalhar em cima dos valores que você quer ter e de ser a mulher incrível que você sabe que pode ser. Aprenda a falar não, a levantar a cabeça e seguir em frente sem ter medo das consequências: às vezes a gente se prende a coisas que não irão nos levar a lugar algum pelo simples medo de enfrentar a rejeição, de tomar mais um não. Isso não nos torna pessoas fracas ou mal amadas: isso nos torna fortes, faz o nosso amor próprio se fortalecer e nos ensina a ter mais posicionamento na vida.
Todas nós precisamos de uma bússola para conseguir navegar pela vida. Vamos deixar esse amor próprio nos guiar sem medo do rumo que as coisas irão tomar. Quem anda pra frente sempre progride, mas quem se apega ao medo não sairá do lugar.
5 comments
aline
own, hum me vi um pouquinho nesse texto,no meu caso nem sei se é falta de amor proprio, acho que é falta de coragem, de ousadia, eu me sinto fraca as vezes, tenho medo do recomeço,” medo do novo”, eu sei do meu potencial mas tenho medo de me expor ,de ser julgada,uma vez minha irmã me escreveu algo que expressa bem como eu me sinto, é assim, quem quase morreu, ainda vive, mas que quase viveu nunca existiu…é bem isso, coragem pra viver..
Virginia
Penso que hoje a mulher sofre muitos dilemas e que uma das causas é a baixa auto estima. As familias tem falhado e por vezes reproduzido velhos conceitos, na escola se aprende sobre sexo mas não se fala em auto respeito. A midia apresenta a mulher produto. E assim milhares de mulheres perdidas se questionam: amor meu kd vc? E jogam toda a expectativa para o homem realizar., Penso que é tempo de respostas e mudanças a partir delas.Faça as suas perguntas…
Geise
Oi, Paula.
Já estive passando por aqui outras vezes e me identifico em vários pontos que vc toca, ao
logo dos posts no blog.
Vivo esse conflito diariamente, comigo mesma tentado entender e me colocar em uma posição…
Me sinto mal por isso, e por mais que tente parece uma busca que nunca chega a lugar algum…
Desculpa o desabafo…
Bjão Linda…
Iara Leandro
Muitas vezes eu me vi na condição de não me amar e ainda ficar a procura de alguém que estivesse disposto a cultivar um sentimento bonito por mim, livre de qualquer preconceito, quando eu era a primeira a me rotular e não me aceitar como pessoa, como ser humano pelo simples fato de estar acima do peso ideal. Quantas vezes eu me vi explicando o motivo de eu engordar tanto como se aquilo fosse um pedido de desculpas por ser gorda e pedir pelo amor de Deus que me aceitassem. Nem a tal da terapia resolveu o meu problema.
Depois de ter uma subvida por décadas resolvi tocar o f….. , e ir atrás do que realmente fosse me fazer bem, cortei o cabelo, fiz tatuagens usava as roupas que tinha vontade, mesmo que alguém dissesse que aquilo não me caía bem, eu parei de me importar com as outras pessoas. Sim por um tempo me tornei uma pessoa egoísta, e acho que nesses meus 30 anos, foi a melhor coisa que fiz por mim. É claro que tive que expulsar muita gente da minha vida, eu cultivava um tipo de amizade que não me fazia bem, pessoas que faziam questão de me limitar determinadas coisas por causa do meu bio tipo. Gente isso é um absurdo! Não sei como eu permiti que fizessem isso por tanto tempo.
Hoje me sinto liberta de muitas coisas, quem faz parte da minha vida, faz por vontade, por prazer e não porque eu submeta a qualquer tipo de situação para ter uma turminha de “amigos”.
Hoje posso lhes dizer que eu mudei, e não fiz redução de estomago, não emagreci nenhuma grama por causa de ninguém, hoje qualquer coisa que eu venha a fazer é por mim. Não sei ao certo o que foi me aconteceu mas de repente me vi tomando algumas decisões que eu jamais tomaria e isso me fez ser a mulher que sou hoje, sem grilos e feliz com o que sou e com o que tenho.
Julienne
Ler o comentário da Camila foi como me olhar no espelho. Há algum tempo tenho sentido mais respeito por mim, pelas minhas idéias, minhas vontades, e, tenho percebido que mesmo sem a intenção, tenho despertado nas pessoas algum respeito também. Talvez o fato de amadurecer cronologicamente tenha me dado mais ousadia.