Você está andando por um shopping e se depara com uma vitrine que tem um vestido lindo, mas infelizmente ele não serve em você. Por cinco segundo você pensa “ai que droga, tinha que ser gorda, tinha?”, mas na próxima vitrine você já consegue avistar algo que vai ficar lindo em você. Entra, experimenta e pensa que aquela calça ficou incrível e realçou a sua coxa grossa que muita gente adoraria ter.
Diante do espelho, você repara que o seu peito poderia ser mais empinado, que o seu nariz poderia ser menos “batatinha” que o seu braço poderia ser mais fino e que o seu cabelo poderia ser mais comprido ou menos volumoso. Mulheres são assim. Pessoas são assim. SERES HUMANOS SÃO ASSIM. Existe uma tênue linha que separa a obsessão e a ditadura da beleza com o fato de que sim, somos seres humanos, somos normais e temos um senso estético – cada um tem o seu – e, assim, cada um vai ver mais ou menos beleza em determinada pessoa, forma, objeto, lugar e etc.
O fato de você acordar um dia e se achar feia ou implicar com uma parte de seu corpo não significa que você o odeie, que você não se valorize ou que você esteja traindo qualquer um dos mil “novos movimentos pró-beleza real” que existem por aí. Saiba rir de si mesma, saiba entender que embora o seu nariz não seja o mais lindo do mundo, você pode ter um cabelo que mata os outros de inveja. São raras essas pessoas que nós, “meros mortais”, consideramos “perfeitas”. O que adoece a sociedade é justamente esse comportamento extremista que algumas pessoas querem impor hoje em dia.
Se o cinema e a moda impuseram e conseguiram que a magreza imperasse por décadas, não é apelando para o outro extremo que iremos descontruir um conceito. O que eu tenho visto e, sinceramente me dá dó e nojo, são gordas metendo a boca em magras, como se planejassem uma vingança e, como se dando o troco fosse resolver algo. Não resolve e só faz tudo retroceder. Pessoas são pessoas e não é assim, do dia pra noite, que as coisas vão mudar. Aos poucos a sociedade irá aprender que todo mundo merece respeito, seja como for, e que existe espaço para todos e que a beleza é efêmera e que está nos olhos de quem vê.
Hoje eu odeio que alguém diga que faço parte do “movimento plus size”. Por um momento, lááááá no passado, eu mesma posso até ter me considerado parte do que chamavam de movimento, mas atualmente ele está tomando um aspecto tão errado, tão não sadio e tão besta que eu me recuso a dizer que faço parte dele. Porque claro, se você faz parte dele e resolve fazer uma dieta, você é uma traidora e se você disser que fulana magra é bonita, tem alguém ali, de prontidão, pra esfregar o dedo na sua cara e te chamar de hipócrita. É isso mesmo? Será que é ai que está a hipocrisia?
Hipocrisia é defender um extremo e querer sanar um mal da sociedade enfiando um conceito aposto goela abaixo como forma de se vingar; é não cuidar da própria vida e não enfrentar o próprio espelho com amor para apontar o dedo na cara da coleguinha que disse estar incomodada com os cinco quilos extras que ela ganhou ou, então, chamar a menina de magrela de “osso pra cachorro”; é não cuidar da própria vida querendo dizer pro outro o que ele deve fazer sendo que a sua própria está cheia de coisas para serem mudadas. Um ser humano consciente consegue sim, sozinho, ser exemplo e fazer a diferença. Ele não precisa de um mutirão, ele não precisa subir em um palanque: boas ações e bons exemplos são observados o tempo todo.
Engana-se quem pensa que eu sou mega bem resolvida e que me aceito completamente. Já disse isso em inúmeros editoriais. Hoje eu nem tenho tanto problema com o lance do peso e do corpo em si, mas há coisas pontuais que me incomodam. O meu cabelo tem um problema e ele não cresce, é fino e eu me resolvo com aplique e sou feliz assim, embora muitas vezes eu chore em frente ao espelho porque eu queria ter um cabelo comprido próprio, cheio de volume; queria que a minha barriga fosse menos protuberante para se equilibrar melhor com a minha perna – que nem é tão grossa pro meu tamanho – só que nem por isso eu não me aceito, me odeio, sou complexada ou tenho pena de mim mesma. Eu aprendi a olhar no espelho e a conviver com o que existe de melhor e de pior em mim e é assim que conseguimos o equilíbrio.
Não há nada de errado em ser magra, em querer emagrecer, em ser gorda, em ter o cabelo liso ou enrolado ou ser assim ou assado. O essencial é ter saúde porque, seja gordo ou magro, os dois podem sofrer com problemas de saúde. A beleza estará sempre nos seus olhos e nos olhos de quem te vê. E daí se pra um fulano e uma ciclana você é feia? Pra um monte de gente você é linda. Gente, é assim com TODO MUNDO. A apreciação estética é diferente para cada um e não há nada de errado nisso e é assim que a diversidade do que somos é apreciada.
Antes de sair por ai querendo fazer papel de policial da vida alheia, faça uma ronda na sua própria vida e veja o que precisa ser mudado em você (mais interiormente do que exteriormente) porque eu vou te contar uma coisa se você ainda não sabe: apontar o dedo na cara do amiguinho pra dizer porcarias ou coisas que você não sabe é bem feio e desnecessário. Se cada um cuidasse da própria vida e deixasse esse pensamento mesquinho e vingativo de que magras e gordas são rivais e de que não pode existir beleza nos dois biotipos, ah….o mundo seria tão infinitamente melhor. Mas depende de mim e depende de você, um a um fazer esse exercício diariamente porque é na mudança individual que chegamos no coletivo e é assim que o mundo muda. Sente no cantinho do pensamento e reflita…
3 comments
Lulu
Paulinha, excelente seu post.
É tão fácil as pessoas apontarem o dedo na sua cara porque você não se veste ou não tem o corpo que é dito como padrão de moda. È fundamental que a gente tenha cuidado com o corpo, nem o exagero e tb não o desleixo. Questão de saúde, independente de ser gorda ou magra.
Nós mulheres, nunca estamos satisfeitas com o que somos, mas nada impede da gente realizar pequenas mudanças que nos conduzem a momentos de felicidades.
Por exemplo, nasci com cabelo castanho claro. Em um momento na vida decidi virar loira e desde então já se vão 13 anos que estou assim e feliz.
O importante é a gente trabalhar a nossa cabeça, nossas atitudes, nosso caráter que é isso que conta além de um rostinho e corpinho bonito.
Big Beijos lindona!
Rita
Penso que ser gordo não é sinônimo de ser relaxada, como muitas pessoas pensam. Nada impede que uma gordinha coma pensando no quanto os alimentos que está ingerindo são saudáveis, pois como dizem “Quem ama se cuida”. Acredito que o orgulho de ser gordinha não se resume a morrer com as artérias entupidas e contaminadas por fast food. Entendo que o orgulho é uma espécie de resistência aos padrões, mas isso tem que ser feito com consciência, compromisso e responsabilidade. O seu blog está de parabéns!! Não se influencie por pessoas limitadas e sem entendimento que confundem um blog que fala sobre aceitação, que fala sobre o poder dar mulheres com qualquer meio de estabelecer um outro padrão, um outro modelo. O nosso país sofre exatamente com a exposição de certos ideias de pessoas preconceituosas e que valorizam os padrões. Seu blog é revolucionário e por isso é bem vindo!
nem
Temo que essa moderna tendencia à nazipadronização de tudo acabe acabando com a civilização…………….