Os gordos do futebol

Na semana decisiva da Copa do Mundo de futebol não poderia deixar de abordar o esporte como tema.

Os gordos sempre sofrem com futebol. Na infância, pré-adolescência e adolescência, as aulas de educação física se tornavam uma tortura (momento terapia).  Eu, e os outros dois ou três gordinhos da série, sempre éramos os últimos a sermos escolhidos.

Na escola em que estudava havia um método, super pedagógico, de dividir os meninos em times. Tinham dois “primeirinhos”, nos quais estavam os craques. Dois segundinhos, nos quais se encontravam aqueles que o Dunga convocaria. E dois terceirinhos, compostos pelos gordinhos e pernas-de-pau em geral. Evidentemente eu pertencia aos últimos times.  Não havia mobilidade social entre os times. Sejamos justos, um ou outro gordinho que jogava bem atuava na elite do futebol escolar, mas a maioria era a base da pirâmide futebolística.

Um passe errado de um gordo é mais errado do que um passe errado de um magro e sempre vem seguido de um comentário: “Tinha que ser o gordinho!”. Um chute pra fora, uma bola perdida, uma falta cometida, sempre é mais pesado (trocadilho infame) para o gordinho. Somos eternamente o Felipe Melo dos times em que atuamos.

E isso não é privilégio dos gordos anônimos. Veja o exemplo do Ronaldo, o fenômeno. Um jogador consagrado, com dois títulos de Copa do Mundo no currículo, eleito melhor do Mundo pela FIFA por três vezes, maior artilheiro das Copas (Sse não for superado por Klose). Chegou ao Corinthians como herói, mas virou símbolo da eliminação da Libertadores no ano do centenário.

Claro (sem referência à marca patrocinadora do Ronaldo), é obrigação de um atleta profissional estar em forma. Mas, se ele estivesse magro e mesmo assim não jogasse o que se esperava dele, ele seria menos responsabilizado e ridicularizado pela eliminação da Libertadores.

Aliás, o jornal inglês The Sun publicou, no dia 7 de abril de 2008, uma polêmica lista com os 10 jogadores mais gordos da história. Coube ao Fenômeno ser o número 1 da lista, confira você mesmo:

http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/sport/top10s/article962304.ece

Em 2002, a Pepsi fez uma propaganda que ironizou (ou reforçou) esse preconceito com gordos no futebol. Provavelmente em um vídeo promocional para a Copa daquele ano, no Japão e Coréia do Sul, craques como o inglês Beckham, o holandês Davids e o brasileiro Roberto Carlos disputam uma pelada com lutadores de sumô. Os gordinhos levam a melhor:

Uma das coisas que me chamaram a atenção na Copa de 2010 foi em relação ao técnico da Argentina, Diego Armando Maradona. Quando programas de humor, sites do gênero e até programas esportivos queriam ridicularizá-lo usavam, constantemente, imagens dele obeso. Se ele está mais magro, por que usar tais imagens? Na cabeça de muito magro ser gordo é sinônimo de ser perdedor e fracassado. Talvez por isso, após a eliminação da Argentina, a imagem de Maradona gordo se tornou mais comum.

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