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Não precisa de muito pra uma história começar. Quando você percebe, já tem enredo. Você vira as páginas já imaginando o que irá acontecer nos próximos capítulos. Fica com aquele sentimento ávido de descobrir o que está reservado para os personagens. Vibra, ri, xinga e chora conforme as ações acontecem. Você quer mais, sempre mais. Só não quer que o livro acabe, mas algumas histórias terminam ali, numa página X. Já outras ganham uma sequência, viram uma saga. Nesta história não dá para saber o destino que o autor irá dar: não há como dar uma espiadinha no fim. Ele escreve as linhas para você diariamente e as revela com o tempo.

Quando termina uma história você se vê sozinha, em um buraco sem luz, chorando no chão. Você entende que não há amparo no mundo que vá tirar o que você sente naquele momento. É um momento. Tristeza, raiva, arrependimento e culpa dançam ao seu redor de mãos dadas. A memória revive cada cena, cada detalhe buscando uma falha, algo que justifique o fim. É um momento seu, só seu, que ninguém irá entender ou sentir como você. As primeiras 24 horas doem. É como se cada minuto fosse um soco dado bem no meio da sua cara. Você chega a se odiar por um instante e pensa que, se fosse diferente, as coisas não seriam assim.

Já em 48 horas você consegue administrar o choro, mas não dê o play naquela música. Não, aquela não. Aquela te revira e te faz lembrar de muitas coisas boas que te faziam sonhar e sorrir. Você divagava em pensamentos bons que preenchiam o seu coração com as melhores sensações. Agora… Bem, o sonho já não mais existe. Extinguiu-se com o fim. É hora de respirar fundo e tentar, com sensatez, entender onde foi que você errou. Quando termina uma história, termina porque há falha em duas partes. Não é justo que apenas um leve toda a culpa. Assuma para si os erros e aprenda com eles.

Nessas 48 horas você entende que não há espaço para se vitimizar. Esse lance de coitadismo não cola porque você não ganha nada com isso, então nem tente. Você não precisa disso. Você já passou por muita coisa difícil para se render a essa ladainha barata de novela mexicana. É hora de aprender, em meio a dor, que a vida está usando a situação para te ensinar algo e quanto mais você demorar para perceber, maior será o sofrimento e o número de repetições será infinito. É melhor engolir o choro e respirar fundo mesmo para deixar a racionalidade vir à tona e te mostrar o que poderia ter sido diferente.

Quando termina uma história, é importante olhar para si e saber onde errou, mas é também aceitar que a outra parte falhou tanto quanto você. Pessoas erram. Alguns erros são excruciantes, cruéis, calculistas. Outros apenas são parte do amadurecimento do outro: vêm da dúvida, da infantilidade, da falta de experiência ou de tantas outras possibilidades que fazem parte da natureza errônea do ser humano. Porque erramos e erraremos muito. Estamos aqui para aprender com as falhas, diagnosticar melhorias e seguir adiante tentando fazer melhor. Não coloque todo o fardo em cima de você e nem no outro. É uma balança.

Depois da racionalidade, é hora de trabalhar a compreensão e o perdão. Compreenda o seu lado, entenda suas falhas, trace as melhorias a serem feitas e trabalhe em cima disso. Se houver a oportunidade, converse. Exponha o seu lado e ouça o outro de peito aberto. Términos precisam de um ponto final e algumas feridas só se curam com remédios específicos, então vá em busca do que vai te oferecer cura. Absorva tudo, deixe fazer efeito, coloque um band-aid e recomece, mas faça isso por você. Teremos muitos tombos, muitas páginas para virar e muitos capítulos para começar.

Quando termina uma história você não consegue mais olhar para aquela garrafa do seu perfume preferido. Aquele era seu cheiro e ele o elogiou. Aí você se lembra do cheiro dele. Você também não consegue mais olhar para as roupas que usou para encontrá-lo. Como encará-las se elas te recordam de uma felicidade extrema, de um sorriso que praticamente atravessava a face? Sensações essas que não acontecerão mais. Agora você pode usar salto, pois isso já não é mais problema. No entanto não haverão mais sorrisos na cama ao receber uma mensagem de “bom dia, tudo bem?”, nem no meio do dia, quando do nada, uma mensagem repentina te salvava de um dia pesado.

Algumas histórias terminam para deixar em você a dor do que elas poderiam ter sido. E dói, dói sim. A imaginação é produtiva para criar cenas felizes, enredos encantadores. Ninguém perde tempo para pensar em um desfecho negativo e mesmo tentando não criar expectativas ou não sonhar demais, quando nos damos conta já estamos lá, no fantástico mundo perfeito que só existe em nossas cabeças. A possibilidade deste mundo, no entanto, é o que nos motiva a enfrentar um dia, uma semana ou um mês puxado. Não se culpe por sonhar, por idealizar: só saiba que as projeções da sua mente são projeções e a realidade pode ser bem diferente. Seja racional, pise em terra firme e, assim, equilibre seus sonhos, pois eles são importantes, sim, e não devem ser vetados, mas não se apegue em sonhos: eles só existem em você!

Quando termina uma história você se redescobre. Chore, sinta a dor, fique com raiva, mas não sinta pena de si mesma. Não procure desculpas: assuma os seus erros e faça um esforço para mudar dali em diante. Você pode escrever uma nova história, seja ela um monólogo ou tenha ela outro protagonista, não importa. O livro é seu! Todos os dias você escreve por aquelas linhas, então o rumo do enredo está em suas mãos. Capítulos novos se iniciam a todos os instantes, então faça da lama, do buraco, do escuro a tua mola propulsora e se lance para cima. Desistir não é uma opção, não de você. Pode desistir da história, de outras pessoas, mas nunca de você. Há força neste teu coração, menina, e ele é capaz de muito mais. Ele ama em abundância e esse amor é suficiente para te levar para onde você quiser porque você tem luz própria.

Quando termina uma história, você apenas coloca mais um livro na estante. Um término não significa o fim. Um término pode te dar o mais lindo recomeço. Quando termina uma história você começa a olhar para o que habita dentro de você e não há espaço para o rancor. Ame! Não tenha medo de amar, mas ame, acima de tudo, o seu próprio coração em primeiro lugar!

 

Comentários

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2 comments

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Nossa, que reflexão! Conforme fui avançando na leitura, fui tendo uma mistura de sensações, sentimentos e emoções. Lindo texto!

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Muito obrigada, Andréia! Fico feliz que tenha gostado do texto <3

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