Agência BrasilImagina a quantidade de perguntas que respondemos no dia a dia sobre a famosa gripe H1N1. Tentamos tranquilizar pais e parentes, mas ao mesmo tempo procuramos educar a população para a importância da prevenção, através das vacinas e cuidados básicos de higiene como lavar as mãos, conter espirros e por aí vai.

Sempre lembrando o passado recente, a primeira onda da gripe suína ou H1N1 chegou ao Brasil em abril em 2009 e matou mais de mil brasileiros, fato que trouxe temor e experiência para enfrentamento da doença na segunda onda que ameaça chegar nesse ano.

O H1N1, ao contrário, do que muitos pensam, não foi embora e já corresponde a 92% dos vírus de gripe que circulam no País. É importante que todos saibam que essa vacinação contra o H1N1, diferente das vacinas tradicionalmente aplicadas como a Sabin, Tétano e outras, não visa erradicar o vírus.

O total de 83 milhões de doses da vacina irá imunizar pelo menos 62 milhões de brasileiros, com o objetivo de diminuir a circulação do vírus e evitar mais mortes, e não erradicar a gripe do Brasil.

Vacinar um terço da população já provocará uma redução enorme na circulação viral, diminuindo, não zerando, a possibilidade de contrair a doença.

Explicamos centenas de vezes nesses últimos meses que somente seriam vacinadas pessoas incluídas nos grupos de risco, crianças entre 6 meses e 2 anos de idades, grávidas, doentes crônicos, adultos jovens entre 20 e 39 anos e idosos acima de 60 anos. Muitos não entendiam porque outras idades não seriam contempladas.

Ficamos com a árdua missão de explicar que é lógico vacinar os grupos que mais morreram no ano passado, e que não existia vacina para todos.

A busca por vacinas na rede particular cresceu, mas o governo, sem muita explicação retardou ao máximo a liberação de vacinas para a iniciativa privada, muito suspeito…

Quem conseguisse dar a primeira dose, não conseguia dar a segunda. Mais dúvidas, mais perguntas aos pediatras…

Crianças

Agora, na reta final de vacinação, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou no dia 21 de maio que crianças com idades entre 2 e 4 anos e 11 meses podem se vacinar contra a nova gripe a partir da segunda-feira passada (24 de maio) na rede pública.

O telefone não parou. Os pais querem saber por que agora, somente agora, resolveram aplicar a vacina nessa faixa etária, e por que não contempla os maiores de 5 anos? Vou dar a resposta verdadeira: incompetência desse governo. Qualquer colegial com uma planilha no Excel saberia calcular que com 83 milhões de doses conseguiríamos vacinar x pessoas em determinadas faixas de idade.

Puro erro de cálculo! E agora como vamos explicar para aqueles que têm filhos entre 5 e 19 anos, frequentando escolas, festinhas e comunidades de jovens que o risco deles contraírem o H1N1 é baixo? Tínhamos dito isso para a faixa de idade entre 2 e 4 anos…

Os que podem, vão procurar a rede privada para vacinar essas crianças, mas lá, as vacinas também estão esgotando.

Aids

Para terminar, uma informação importante, também revelada nos últimos dias; Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revela que as pessoas que tomaram a vacina H1N1, contra a nova gripe, podem ter resultado positivo para HIV, mesmo sem ter o vírus que provoca a Aids.

O falso resultado positivo pode ocorrer até 112 dias após a pessoa ter se vacinado contra a gripe e chama-se reação cruzada. O problema já havia sido detectado pela Anvisa em março, mas a informação veio somente agora.

O falso resultado acontece porque a vacina contra a gripe aumenta a proporção de um anticorpo, chamado de IgM (o primeiro anticorpo batalhão de defesa do organismo), que “engana” o Elisa, o teste mais comum feito no Brasil para diagnosticar o vírus da Aids.

Não precisa alardes. Se alguém fizer o teste e der positivo, o médico fará outro teste, com outro método mais sofisticado, e esse vai dar, com certeza, se o paciente é ou não soropositivo.

Deixo claro que a vacina H1N1 não transmite o vírus HIV. Daqui a pouco, vão começar as falsas correntes na internet falando besteiras.

Se o leitor achou esse artigo um pouco confuso, desculpas, mas realmente todos estão confusos.

Tadeu Fernando Fernandes é presidente da Sociedade de Pediatria de Campinas.

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