Twitter, Facebook, Tumblr, Google+, Foursquare, Formspring, Orkut (ainda?), Blablabla: Redes Sociais. Quem não faz parte de pelo menos uma delas hoje em dia? Está todo mundo conectado, todo mundo online full time (viva os celulares com acesso à internet, os smartphones, os tablets, etc), o que nos coloca em um cenário totalmente inimaginável há alguns anos, já que hoje as informações voam na velocidade da luz e se pulverizam da mesma maneira. Mais do que informações, as redes sociais funcionam como amplificadores de opiniões pessoais que até outro dia ficavam restritas a pequenos grupos, e se a gente parar pra observar por uns instantes, consegue traçar perfis bem curiosos da nossa sociedade através das manifestações expressadas pela web.
Não, este não é um post sobre “como as redes sociais mudaram a nossa vida”, nem tenho cacife pra falar sobre isso, mas vocês vão entender onde quero chegar.
Rock in Rio. Até quem não curte música nem festivais nem oba-oba, leu, viu ou ouviu alguma notícia sobre o evento nos últimos dias. Eu, particularmente, acompanhei de longe (snif snif) tudo o que pude, e como boa viciada em redes sociais que sou, acompanhei também a repercussão do evento e dos shows no Twitter e no Facebook, principalmente, de onde tirei a “inspiração” pra este post.
“Kesha-Baleia”, foi uma das expressões que bombou no Twitter no dia do show (cof cof) da garotinha metida a rebelde;
“Pitty-Boi”, foi outra alcunha super criativa que alguns encontraram pra definir visual da roqueira (cof cof) baiana;
“Amy-Lee é gorda!”, simplificaram depois, quando a linda vocalista do Evanescense subiu ao palco.
E eu soube que até a fofa da Katy Perry e a gostosona da Rihanna foram alvo de comentários maldosos sobre suas formas físicas, mas estas eu não vi com meus próprios olhos, portanto não sei em que nível de “gentileza” chegaram.
Fato é que os comentários sobre o peso destas e de outras artistas que se apresentaram no Rock in Rio foram ferrenhos, implacáveis, e não raras vezes extremamente maldosos, assim como acontece toda vez que uma artista ou personalidade da mídia aparece em qualquer lugar ostentando uma ou outra curva extra.
Não pretendo entrar no mérito se Kesha, Pitty, Amy Lee ou quem quer que seja estão ou não acima do peso, até porque já fizeram isso. O que me espanta em casos assim é que as opiniões e os apelidinhos pejorativos e depreciativos partem de “anônimos” que estão nas redes sociais, e se proliferam através dos RT’s de outros tantos anônimos, pessoas comuns como eu e você, que destilam sua acidez sem dó nem piedade através do megafone da rede social e que, voltando à introdução deste post, traçam um retrato curioso da nossa sociedade real, tal como ela é, tal como ela pensa.
Estou dizendo isso porque no assunto específico de peso nós, Grandes Mulheres, temos o hábito de culpar eternamente a “indústria da Moda” pelos padrões inatingíveis de beleza que nos colocam em posição de aberrações gordas. Temos o hábito de culpar “a indústria” e “a mídia”, e seguimos acreditando que não somos bem aceitas no nosso próprio modelo de beleza porque existe alguma “entidade maior” fazendo a cabeça das pessoas.
Eis as redes sociais aí pra nos mostrar um ponto de vista diferente!
Porque vejam bem: dos trocentos mil posts e RT’s que eu li sobre as “baleias” do Rock in Rio, por exemplo, muitos partiram de mulheres. Não apenas de mulheres, mas alguns inclusive de mulheres que também estão acima do peso (caso das que eu conheço).
Não vi quase nenhuma mulher falar sobre a beleza destas artistas (e são, cada uma do seu jeito, mulheres lindas), não vi quase ninguém elogiar ou vibrar por uma artista internacional com uns quilinhos extras ostentar um maiô em cima do palco na frente de 100 mil pessoas sem medo de ser feliz, o que deveria ser motivo de comemoração – “E viva a autoestima!”. Ao contrário disso, o que eu vi foi uma legião de críticos ferozes doidos pra esculhambar qualquer um ao primeiro deslize, no caso, ao primeiro quilinho extra. Não é louco isso?
Tudo bem que muita coisa é piadinha infame, outras tantas são sugestionadas pela opinião pessoal que se tem do artista, mas mesmo assim…
Outro dia uma colega postou no Facebook aquele texto do Arnaldo Jabor (link do texto: http://pensador.uol.com.br/frase/Nzc0MTM5/) onde ele diz que prefere uma mulher com uns quilinhos a mais e divertida do que uma neurótica por corpo, etc. Fui “curtir” e li o comentário de uma menina: “Isso é desculpa de gente gorda e feia!”. A autora do post argumentou “eu não sou gorda nem feia e concordo com o texto”, e a tal menina insistiu: “Desculpe, eu sei que você não é, mas quem diz que não liga pra celulite ou gordura tá dando desculpa pra própria feiura sim e é relaxado!”. Os tais comentários da tal menina tinham, até a última vez que eu vi, foram curtidos por mais de 20 pessoas. SURREAL.
Entendem o que estou querendo dizer?
Não adianta nos rebelarmos contra as “grandes instituições que ditam padrões inatingíveis” se esse preconceitos estúpidos estão incrustados nas pessoas, muitas vezes em nós mesmas.
A modelo Yasmin Brunet, filha da diva Luiza Brunet, fez um comentário apropriadíssimo esses dias no programa Altas Horas: “Os estilistas procuram cabides pras suas roupas, apenas e tão somente isso. Eles não estão dizendo que aquelas meninas são as mais lindas, porque não são as meninas que devem aparecer, mas apenas as roupas. Por isso acreditar que aquele modelo de corpo é padrão de qualquer coisa é burrice. Não são. Aquelas meninas não tem uma vida saudável, elas passam fome e sofrem muita pressão pra ficarem cada vez mais magras e conseguirem o próximo trabalho, elas têm uma vida muito difícil, às vezes depressiva e triste, que não devia ser cobiçada por ninguém.” (fiz uma adaptação livre porque não lembro as palavras exatas, mas essencialmente foi isso que ela quis dizer).
Faz sentido. O estilista exige uma magreza absurda de uma modelo que vai ser cabide pra sua criação. Sem entrar no mérito dos exageros cometidos para se obter o tal corpo-cabide, podemos dizer que até procede tal exigência, no contexto lá, dos desfiles, etc e tal.
Mas e as outras pessoas todas que vivem vigiando a balança alheia e apontam o dedo no nariz do primeiro quilinho extra que lhes salta aos olhos, fazem isso com qual objetivo além de depreciar gratuitamente? Seria uma necessidade enrustida de se valorizar às custas da desvalorização alheia?
Que diferença faz se a Pitty está mais gorda ou mais magra se o trabalho dela não é ser modelo, mas cantora? Que diferença faz se eu estou mais gorda ou mais magra se o meu trabalho não é ser modelo também? Por que isso é uma característica tão importante que precisa sempre, toda vez, ser apontada por alguém, e não simplesmente apontada, mas chacoteada?
Não é um estilista que está dizendo: “Nossa, Dona Farta, você está muito gorda e precisa emagrecer pra ser cabide da minha roupa”, porque se fosse, eu teria a opção de emagrecer pra ceder aos padrões exigidos por ele ou mudar de profissão. Na maioria das vezes o “Você é/está gorda” vem desacompanhado de qualquer justificativa, e tem o único objetivo depreciativo que tanto conhecemos, gratuito e sem fundamento, características essenciais do PRECONCEITO.
Viajei demais nesse post e me perdi nas reflexões, me desculpem. Mas acho que no fim das contas o que eu queria dizer é que somos nós que construímos padrões e estereótipos, não raras vezes padrões e estereótipos muito mais cruéis do que qualquer “indústria da moda” seria capaz de criar, e culpar os outros não ajuda a mudar a realidade.
Não adianta ser uma Grande Mulher cheia de autoestima e apontar o dedo no nariz da primeira celebridade que aparece acima do peso, como se os quilos extras tivessem diminuído seu valor. É contraditório. Precisar enxergar a celulite da outra pra se sentir mais bonita é sinal de sérios problemas de autoestima. Não existe autoestima que dure se for construída sobre a inferiorização alheia.
A verdadeira beleza é original, é autêntica, e se sustenta sozinha ao lado de milhões de outras belezas. Chacotear os outros pra se sentir melhor é sintoma de feiúra. Feiura da Alma.
Quero finalizar o texto com um tweet do @Cardoso que traduz exatamente o que eu gostaria de dizer: “RT @Cardoso: Todo mundo preocupado com a forma física dos Cantores. Eles vendem livro de Dieta?” <== This is It
Beijos Fartos, e até a próxima!
2 comments
Fernanda
Concordo plenamente com o texto.
Peguei alguns exemplos de ofensas no twitter, durante o RiR:
@DonaFarta: Mas o mais engraçado é que, mais do que curtindo o show legal, geral tá mesmo é pirando na humilhação da #Claudiarreia… hahaha #RiR
@DonaFarta: Eu mesma nem gosto da música, só tô vendo esse show pra me certificar q vai ser um arraso e #Claudiarreia vai cortar os pulsos nalgum lugar.
@DonaFarta: RT @ananatel: @DonaFarta TAPA na Claudiarréia???????? Isso é mais que voadora!!!!!!!!!! kkkkkkkk <<<<=== "se proliferam através dos RT’s"
@DonaFarta: Não é isso, é que todo mundo ODEIA a Leitte Azedo… tendeu? rs RT @diegomaia: E de repente todo mundo gosta de Ivete.
@DonaFarta: Será que a #Claudiarreia fica tipo assistindo e roendo as unhas de inveja? Porque, né? NUNCA SERÁ! #Ivete #RiR
@DonaFarta: Cheguei acabada e doida por um banho, mas vou ter que esperar o começo de Ivetão pq, né? Quero ver o tamanho do tapa em Claudiarréia… #RiR
Chamar de gorda, de baleia, de diarréia, de leite azedo. Que feio. E não me venham dizer que uma coisa é ofensa e outra é brincadeira, pois não é!
DonaFarta
Fernanda, obrigada pelo seu comentário, pelos searchs e pelo ponto de vista!
Se você procurar mais um pouquinho, vai encontrar tweets meus falando mal / zoando as “cantoras” Pitty e a Kesha também, dentre outros artistas que não gosto, como a Cláudia Leitte, que é insuportável (pra mim) mas é indiscutivelmente LINDA.
Aliás, tanto quanto a Cláudia Leitte, também não suporto a Pitty, que “defendi” no post, simplesmente porque o assunto era gordura/peso/patrulha do corpo alheio/etc. Se fosse um texto sobre a qualidade artística delas, seria diferente…
Beijos!