Calma que a resposta não é tão óbvia quanto possa imaginar. Existem detalhes neste assunto macro que passam batido por muitas pessoas. Por décadas – e ainda hoje – tudo fica muito focado na dicotomia gordo x magro, mas o problema vai muito além. Precisamos ver variedade de corpos, afinal.

Desde criança percebia que meus ombros eram mais largos por conta da natação. Também já notava que, diferente de minhas amigas, não tinha aquele quadril bonito que deixava a bunda em formato de coração. Essa percepção me veio bem cedo, de verdade. E me incomodava muito, lógico. Além de grande e gorda, ainda tinha dois outros pontos a meu “desfavor”.

Certamente, ao olhar as revistas, só via as modelos esquálidas, retas. Elas tinham ombros pequenos e, para mim, muitas pareciam ter o quadril “ideal”. Eu não entendia sobre formatos de corpos e suas variedades, naquela época. O óbvio, para mim, era admirar o formato idealizado pela sociedade atual: o de ampulheta. Até para as gordas esse padrão se criou. Eu, que trabalho com a indústria da moda posso atestar que já ouvi inúmeras vezes nos bastidores que “modelo boa é modelo ampulheta”. Simples assim.

Variedade de corpos: a chegada da era Kardashian

Por meados de 2010, começamos a viver a era das Kardashian. Elas trouxeram um novo referencial de beleza e estética e, novamente, as curvas ficaram em ascensão. Curvas em mulheres “magras”, lógico. Com isso, comecei, novamente, a me sentir extremamente incomodada com minha falta de quadril. “Toda errada, Paula. Você é toda errada”. Era isso que eu pensava. As referências que eu tinha e as fotos que via nas redes sociais eram sempre de mulheres com corpos totalmente diferentes do meu. E não falo sobre ser gorda ou magra, falo de formato.

Eu cheguei a achar, veja bem – e isso até uns 10 anos atrás – que se eu emagrecesse, teria o corpo de ampulheta que era o ideal, o desejado. Achava que ia brotar um quadril de Kardashian debaixo da gordura que ia sair do meu corpo. No meu cabeção, o emagrecimento me traria isso por si só. Eu não conseguia processar que cada pessoa tinha um formato de ossatura, uma estrutura. E por quê? Ninguém fala sobre esses detalhes! E não, eu não era burra: eu só era intoxicada por um padrão que não me permitia enxergar e entender as diferenças porque as diferentes versões das pessoas não eram mostradas. Todas as mulheres na mídia eram iguais, tinham corpos iguais. As modelos são todas iguais, celebridades famosas têm corpos bem parecidos. Porque, para fazer sucesso, é preciso seguir um padrão e o padrão é “um só”.

Variedade importa e importa muito

Eu cansei de ler textos da @relaxaaifofa, por exemplo, comentando sobre os dilemas dela com o formato triângulo invertido, que também é, na opinião de muitos, o meu formato de corpo. (Eu, sinceramente, nem sei o que me considero!) Quantas modelos ou mulheres famosas a gente vê com esse shape por aí para se identificar, se sentir acolhida? Eu não me lembro de nenhuma agora, para citar aqui.

Eu me sinto em paz quando vejo a influenciadora digital @gianninagibelli. Ela foi participante do reality “Amor às Cegas” na Netflix e também não tem quadril avantajado. O formato de corpo dela é parecido com o meu. Ela é magra – eu ainda não me vejo magra, mas isso é outro rolê – e quando aparece uma foto dela no meu feed, fico feliz, pois me identifico. Chego a dar zoom nas fotos ao sentir alegria, como criança, pensando que encontrei alguém como eu, mais retinha no quadril. E eu a acho linda, me identifico com o jeito dela de ser em alguns aspectos e isso me faz sentir menos estranha no mundo.

Porque eu passei a vida me sentindo uma intrusa que não pertencia, a estranha.

Mais variedade, menos mulheres tristes!

Fico muito feliz em perceber que tantas marcas estão repensando as modelos que usam para suas campanhas hoje em dia. Atualmente, já vemos gordas maiores e mulheres sem o tradicional shape de ampulheta; temos mais modelos negras, outras com vitiligo ou outras questões aparentes que antes jamais apareceriam. Aos poucos, a variedade de corpos e características começou a aparecer, mas ainda falta muito. Ainda caminhamos a passos lentos, mas já fizemos grandes avanços.

Eu espero que eu e a Mel possamos ver mais mulheres como nós, triângulo invertido, sendo valorizadas em campanhas. Também espero que você, seja lá qual for o seu formato de corpo, consiga encontrar essa identificação nas revistas de moda, na TV, nos feeds que você segue nas redes sociais. Somos diversas, somos plurais e nossas diferenças têm que ser mostradas como uma celebração das nossas muitas versões. Porque cafona é ficar presa a um padrão. Cafona é ser aprisionada e não poder celebrar quem você realmente é.

Não existe certo ou errado. O que existe é você e você não é um erro. Simples assim!

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