Hoje é um dia especial pra mim. Há exatamente um ano eu entrava em um avião e me despedia de São Paulo. A terra do sonho para muitos tinha se tornado o lugar onde o caos habitava em mim e eu precisava me afastar de tudo aquilo. Até hoje não sei se escolhi Salvador ou se Salvador me escolheu. E eu mal comecei a escrever isso e já estou chorando porque acho que nunca conseguirei explicar o que eu tenho com a Bahia ou o que ela tem comigo. Neste momento estou ouvindo “Índios”, da Legião Urbana, música que ouvi no mesmo dia em São Paulo, em 2013, derrubando lágrimas na janela do apartamento da minha melhor amiga porque a minha vida estava prestes a mudar radicalmente e o sentimento era de gratidão a Deus por permitir que eu conseguisse ir para onde meu coração sentia que eu deveria estar.
E a minha vida mudou…
Em um ano aprendi muito mais sobre mim mesma, especialmente por conta da solidão. Chegar em um lugar completamente novo e ainda trabalhar de casa são pontos que colaboraram muito para isso. Demorei muito para começar a conhecer pessoas e ainda sou muito sozinha; ainda tenho que fazer milhares de coisas na minha própria companhia e me torno mais independente a cada dia. Claro que por um lado é ruim, é difícil… Às vezes choro, fico desanimada, mas depois me lembro que no começo em São Paulo eu também não tinha amigos e foi apenas com o tempo que fui desenvolvendo amizades.
Salvador me curou. Quando acordo e olho para o céu, que quase sempre está azul, e penso que o mar está ali, bem pertinho, já me dá uma sensação que nem sei descrever. Sempre fui fascinada pelo mar e estar perto dele é como um bálsamo que reanima meus dias. É como se o toque dele fosse uma forma de estar mais próxima de Deus, como se ele estivesse me limpando e me renovando para o que vem por aí. Amo o jeito de falar dos baianos e para mim não existe sotaque mais bonito – quisera eu ter nascido aqui pra falar assim, que sonho! A cidade tem seus problemas, o povo também tem seus “defeitos”, como em todo e qualquer lugar do mundo. O que importa pra mim é que mesmo quando tudo está despencando, mesmo quando posso estar desabando em problemas, me sinto feliz porque estou aqui, porque tem alguma coisa nesse lugar que me dá forças, que me recarrega, que faz com que eu me sinta amparada de alguma forma – mesmo na solidão – e eu nunca conseguirei explicar o que é isso.
Quando cheguei aqui, ouvi de um amigo carioca que “ou a Bahia te aceita, ou ela te devolve”. Ele explicou que se a “energia” do lugar não batesse com a sua, ia dar um jeito de você ir embora, que as coisas não iam fluir. Vocês não sabem, mas por razões pessoais eu tinha decidido voltar para Bauru, pra casa da minha mãe por um tempo. Não consegui: todas as vezes em que eu começava a falar sobre o assunto, começava a chorar um choro doloroso, não me via longe daqui, não me via feliz longe daqui. O que é que esse lugar tem comigo eu não sei, juro, mas a minha ligação com essa cidade é algo que vai além do meu entendimento. É apenas uma questão de ser e estar que talvez apenas o mais profundo de minha alma entenda.
Eu queria ser “toda menina baiana“, mas me tornei “toda menina paulista-baiana que Deus dá” porque Deus me deu; Deus me deu esse amor por esse lugar, me colocou em contato com o carregador da minha bateria e fez eu me apaixonar pela música, pelo povo, pelos poetas, pelos lugares, pelo jeito de falar e ser do baiano, pela alegria e pela cultura. Claro que eu também me apaixonei, literalmente, por um baiano. Na realidade o que me trouxe para Salvador foi o amor que eu sentia por ele – que com o tempo e, depois de muito sofrimento, foi embora -, mas de certa forma acredito que ele tenha sido a ponte para me trazer até aqui e cá estou. Esses homens… se você nunca ficou com um baiano, cuidado: baiano tem uma coisa diferente, que prende, que mexe, que vai fazer você ficar assim, meio zonza, meio sem chão, meio abestada mesmo. A gente gama e gama bonito.
Obrigada, Bahia, por ter me aceitado; obrigada Salvador por me acolher com tanto amor a ponto de não me deixar ir embora; obrigada por me dar uma carga de energia, alegria e esperança todas as manhãs quando acordo. Eu não sei porque você me quis, não sei o que você viu em mim, mas sei o que eu vi em você e sou grata por estar aqui e por sentir essa felicidadezinha de ser e estar que sinto todos os dias. Obrigada pelas descobertas, pelo meu filho baiano – o Dom, que é o meu amor maior, o baianinho da mamãe – pelos amigos que conquistei, por experiências únicas que tive até agora, pelo mar e pela plenitude que sinto em apenas ser e estar. Eu quero fincar raiz e eu espero que o resto de minha história seja escrita nesse lugar que mudou a minha vida.
17 comments
Aline
Paula, que texto lindo! Sou soteropolitana e me senti super orgulhosa em saber que minha terrinha te acolheu tão bem. Obrigada pelo carinho e adoraria ter uma pessoa tão delicada como amiga. Grande abraço!
Miucha
Ah, que coisa mais linda… Saiu uma lagriminha aqui…
Sueli
Paula, você é fantástica mesmo! Sua delicadeza, seu jeito humano de ser, foram fatores que me atraiu muito a te seguir todos os dias. Sou soteropolitana e fico imensamente feliz em ver você falar de nossa Salvador, e confesso que também sou louca por essa cidade da qual nasci e espero viver o resto de minha vida aqui. Trabalho com o turismo nacional, e diariamente tenho contato com turista de varias regiões do Brasil, e pela primeira vez vejo um paulista falar tão bem de Salvador, sem pejorativos ou preconceito, mais de uma forma bela e encantadora, quando diz ” quisera eu ter nascido aqui pra falar assim, que sonho!” E simplesmente lindo!!! Sucesso querida sempre !!!Sinta-se abraçada por essa baiana.
Carolina Curi
Paula,
Sou soteropolitana e casada com um paulista. Somos um casal soteropaulistano….rsss…então entendo um pouquinho do que relatou pois meu marido relata a mesma sensação dessa energia da Bahia. Realmente minha terrinha é boa demais! Também sou uma “grande mulher” e apesar de nunca ter comentado nada por aqui acompanho com muito interesse seu blog. Parece que ás vezes leu meus pensamentos. Enfim. Moro aqui em Salvador e adoraria um dia poder conhecê-la. Bjs
deborah freitas
Muito bom ter coragem de mudar de vida assim!
Parabéns pela sua atitude!
comemore mesmo…é para poucos
Matt
Que história linda! Amei.
Maria Faria
Nossa, como passou tão rápido! Lembro de seu texto despedindo de São Paulo e jurei que você voltaria. Existem coisas para as quais não há explicações, fico feliz em saber que você está em uma cidade que gosta. Tenho muita vontade de conhecer a Bahia, especialmente Salvador. Também sinto que aí tem algo que não encontrarei em outros lugares, mas não penso em morar, gosto da minha terrinha mineira.
Adriana
Não conheço Salvador ainda, mas conheço a sensação de estar onde o coração quer. Você tem tanta coisa boa dentro de si! Espero que a vida lhe traga sempre mais felicidade. Lhe agradeço por proporcionar um momento tão bom ao meu dia ao ler esse lindo e emocionante texto.
mili
Paula, que escrito incrível, me tocou profundamente!
Faz tempo que acompanho o blog, adoro seu jeito de vestir, suas reflexões, torço por você. Apesar de ter problemas e inseguranças bem diferentes dos seus, seus textos sempre acrescentam algo positivo à minha vida. Talvez você nem imagine até onde chegam as suas palavras, o poder transformador que elas têm. Como eu gostaria de ter uma amiga como você!
Lígia
Que história linda!!!
Me identifiquei muuuito com vc e sua história!!!! 😀
Vou explicar o pq:
Sou santista e sempre fui apaixonada pela Bahia.
Meu sonho sempre foi morar aí, e desde pequena eu dizia que iria casar com um baiano.
Os anos passaram e eu casei, não com um baiano rs tive 2 filhos e me separei.
Durante anos pensei que meu sonho de encontrar meu amor baiano e ir morar aí, havia sido enterrado pelos caminhos que minha vida seguiu…
Mas adivinha só oq o destino me reservou?…
Conheci meu baiano S2 e tenho certeza de que ele é o grande amor da minha vida!!!
Ainda moro em santos, mas pretendo sim realizar meu sonho!!! Arrumar minhas malas, pegar meus filhos e ir morar na Bahia ao lado do homem da minha vida!!!
Que Deus e o universo permita que eu tenha pelo menos um terço de felicidade como vc tem aí, amei sua história!!!
Felicidades mil pra ti!!!
Paula Bastos
Oi Lígia!
Infelizmente eu tive que me mudar da Bahia e voltar para minha cidade natal. Não tem sido fácil, mas a vida tem dessas coisas. Espero que você tenha sorte com sua história de amor e que consiga realizar seu sonho!
Beijos
Priscila Diaz
Oi Paula, acabei de ler seu comentário que voltou para sua terra natal e fiquei triste, poxa que pena, poderia contar um pouco sobre essa mudança?
Paula Bastos
Pri, eu vou contar sim, em vídeo!!! Aguarde <3]
P.S.: também estou muito triste por ter tido que voltar 🙁
Flavio
Olá, Paula.
É muito bom ouvir falas agradáveis sobre Salvador. Essa cidade também me encantou desde a primeira vez que visitei. Por sinal, sempre disse que não iria à Bahia no carnaval, pois nunca tive muita afeição por carnavais. Para queimar a língua, fui no carnaval, gostei, e pra “piorar”, comecei a namorar uma baiana. Foi um ano muito bom, de idas e vindas à Salvador para vê-la.
Bem, o namoro chegou ao seu fim – apesar de ter esperança no retorno, mas a paixão por essa cidade somente aumentou pela saudade, distância. As vezes, para aliviar, escuto Caetano, Bethania, Gilberto Gil. Independente da atual circunstância, penso em residir naquela cidade que exala alegria e vida.
Muito boa suas impressões. Fico curioso no motivo de sua saída. Espero que não tenha sido por algum fator tão trágico.
Fique bem. Abraços!
Paula Bastos
Oi Flavio!
Que legal saber um pouco da sua história que, de certa forma, não deixa de ser parecida com a minha. Eu acabei indo embora porque não trabalhava em Salvador e sim para São Paulo e tinha que viajar muito, os gastos estavam ficando altos e eu fui para lá tentando conquistar um amor que tive e também não deu certo, então achei mais prudente voltar. Não foi fácil, sofri demais, mas a vida tem dessas coisas, né?
Abraços!
Daniela
Oi Paula.Eu sou de SP e estou morando em Salvador .Viemos a família toda devido ao trabalho do meu marido.Ainda estou me adaptando,qdo sinto vontade de ir embora vou ver o mar e passa a vontade.Já ia querer saber onde vc morava,pra tomarmos um café tb me sinto só bjs
Paula Bastos
Oi Dani!
Infelizmente eu tive que ir embora de Salvador por questões de trabalho. Se eu estivesse aí com certeza iria encontrá-la para um café! A cidade tem muitas coisas boas e essa vantagem que estar pertinho do mar quando você quiser é algo realmente incrível, que eu sinto muita falta! Fique bem! O período de solidão vai passar e você vai se adaptar bem, vai ver só!
Beijo grande