Esses dias fiquei pensando em minha vida: como foi que cheguei até aqui? Quem é a Paula de hoje? E, por incrível que pareça, algumas pessoas começaram a me fazer perguntas no Ask. Fm que me fizeram relembrar de episódios de minha vida que foram cruciais para que eu chegasse onde cheguei. Quando falo em “chegada”, estou simplesmente me referindo ao presente, a quem sou hoje – aos 29 anos –, aos meus valores, minhas conquistas.
As redes sociais nos proporcionam coisas engraçadas, né. De repente começa a “pipocar” na sua vida aquelas pessoas láááá do passado que você nem lembrava mais que existiam. Aí aparece a solicitação, você olha para a foto do avatar e começa a recordar das situações que vivenciou por causa daquela pessoa.
Minha adolescência foi cruel. Na escola eu era descolada, tinha vários amigos, participava de festas e até liderava bastante coisa porque eu tinha a personalidade forte, quer dizer, tenho! Já comprei briga com vários professores e persuadi muita gente da sala de aula a ficar ao meu lado; fui presidente da comissão de formatura e fui escolhida para ser a oradora da turma. Eu não era a gordinha excluída. Tinha piadinhas? TINHA! Alguns meninos tivaram sarro de mim? TIRAVAM! Mas ao mesmo tempo, eu era a melhor amiga dos caras mais “populares” que as meninas queriam pegar e muitas delas se doíam de ciúmes de mim. Eu, a gorda.
No colegial eu também não tive grandes problemas de chacota no colégio. Eu tinha vários amigos e meu lado de “liderança” ainda aparecia em situações pontuais. Eu tinha voz, não era uma gordinha oprimida e calada. Em termos de meninos, bem…eles queriam as outras meninas e eu nunca era a escolhida. Claro que me magoava porque eu sempre gostava de alguém e esse alguém nunca me dava bola, mas eu conseguia superar.
Meu maior problema foi na “vila”. Posso dizer que tudo o que vivi lá foi a minha maior escola e de onde vieram minhas maiores cicatrizes. Em meu bairro, lá em Bauru, muita gente nasceu e cresceu junto. Tinha uma galerona com a mesma idade e por isso havia uma turminha. Comecei a “participar” da turminha bem no início da adolescência, com uns 12 anos, e as aulas foram hardcore.
Na turminha, minha aparência era um problema sério. Eu era a única gorda da turma e ainda fui me apaixonar pelo cara mais bonito do pedaço. Já contei sobre a experiência nesse editorial e foi traumática. As meninas debochavam muito de mim e os meninos me xingavam, me expunham e pisoteavam em cima da minha aparência. Foi na vila que eu sofri e foi a vila que me fez aprender a ser mais forte.
Hoje, quando olho para trás, vejo a vida deles e penso: “vocês, que se gabavam tanto da ‘beleza’ que tinham, dos corpos magros e ‘gostosos’, agora estão aí…vivendo uma vidinha mais do mesmo. Algumas meninas se casaram com caras ‘nada a ver’, outros nem fizeram faculdade, outras foram mães adolescentes e alguns dos meninos se perderam na vida. E aí? E a gorda BV, miss capeta, Shamu, Free Willy? O que aconteceu com ela?
Não tenha a impressão de que estou me achando. Não é nada disso. Estou contando isso para vocês porque vejam: eu fui super debochada e excluída dessa turminha e, na adolescência, queria ser aceita e queria ser parte do universo deles, só que eu nunca me encaixei – não só pelo meu peso –, mas porque minha essência já era diferente. Eu estudei muito, fui morar dois anos no exterior, fiz Unesp – que é uma universidade pública – e hoje estou aí, dando a cara à tapa, exibindo meu corpo gordo em um blog bem sucedido, em revistas, colunas sociais, na TV e tal, mas tudo isso porque eu decidi mudar a minha vida para me ajudar e ajudar a você. Tudo isso porque um dia eu entendi que a Paula não era um corpo gordo: ela era uma mulher incrível, com muitas coisas boas para fazer, falar e viver! Eu escrevo pra mim e pra você. Não, eu não sou famosa, nem nada desse tipo. Eu disse essas coisas sobre exposição para que você entenda, de uma vez por todas, que sua capacidade não está em sua aparência.
Esse povo me tacou muitos limões e eu aprendi, a duras penas, a fazer com eles uma doce limonada. Aprendi a olhar para dentro, a ver quem eu era, o que eu tinha…aprendi a ser alguém melhor, aprendi que meu corpo não define quem é a Paula e que meu valor não mora no tecido adiposo que carrego. Hoje tenho a oportunidade de falar para muitas pessoas, de tocar vidas, de fazer a diferença. E eles? O que eles fizeram com toda a “beleza e magreza” que carregaram? Estão lá, vivendo suas vidas.
Pode ser que muita gente me interprete mal nesse texto e pense que estou me achando. Se você o interpretar desta forma, só posso sentir muito, pois o que eu quero dizer é que você tem a capacidade de mudar a sua vida e de reescrever a sua história independente do que os outros pensem. Se eu dissesse a eles, há 15 anos, que eu seria um dia uma jornalista bem sucedida que viraria referência sobre um assunto, eles teriam rido loucamente da minha cara. A GORDA? A MISS CAPETA? JAMAIS!
Seja você adolescente, adulta ou madura, a vida vai lhe trazer essas situações de julgamento alheio. Não permita que ninguém influencie o seu caráter e a relação que você tem com você mesma. Você é quem tem que saber quais são os valores que determinam o seu caráter, a personalidade que você está construindo e a beleza que enxerga em seu espelho. Liberte-se da opinião do outro para avaliar o que você realmente pensa de si mesma. Melhore, reinvente-se, comece algo novo…se aventure! A vida é uma só e depois, no futuro, não adianta reclamar da infelicidade. Ser feliz é uma escolha que você tem que fazer e, acredite, só consegue ser feliz quem é livre!
Beijos,
Paula
12 comments
Julis
Lindo post Paulinha, vc é uma mulher linda por dentro e por fora e vc (assim como tudo mundo) tem mais é que se achar mesmo e não importar com que os outros dizem, hoje em dia tem muita maldade nesse mundo e essa maldade sempre vem de gente que senta no próprio rabo pra falar dos outros. Acho que nessa vida o que importa acima de tudo é se amar em primeiro lugar, o resto vem como consequência!
Nome*Maria Eugênia Moraes
Parabéns Paula,
Eu sofri muito na adolescência, mas escolhi também ser eu mesma independente da opinião dos outros. Hoje eu sou feliz com as escolhas que fiz e com o meu caráter, que vale mais que tudo nessa vida…
Beijos
:***
Marília
Me identifiquei em muitos trechos!!! E digo mais…essas pessoas que antes eram as(os) perfeitinhas(os), hoje, além de levarem uma vidinha mais ou menos, estão embarangados, e veja só…GORDOS!!!
Na minha galera sempre rola um papo de “quem embarangou e quem melhorou”…e justamente as pessoas mais cotadinhas do passado, hoje são as que mais embarangaram. Enquanto as que não eram assim tão requisitadas, hoje estão mais bonitas, bem sucedidas e mais felizes!!
A vida é muito mais do que a beleza exterior de uma pessoa, muito embora eu não seja hipócrita a ponto de dizer que a beleza não importa…importa sim, mas não é o mais importante, é um plus, digamos assim!
Nome*Letícia Fontes
Perfeito esse texto! Está longe de ser um depoimento arrogante, você simplesmente exprimiu através das palavras o resultado de humilhações e chacotas. Também estou em busca de uma boa colocação no mercado, mas as vezes me sinto “velha” por estar prestes a completar 24 anos e ainda estar em uma empresa mais ou menos ganhando um salário mais menos do que mais. Já pensei em desistir do Jornalismo e pensar que não sou capaz… textos como o seu me fazem abrir os olhos 😉 espero que você vá ainda mais longe.
Lu
Que lindo, menina, suspeito que minha pergunta foi uma das catalizadoras pra essa reflexão hahaha. Que bom. Sabe que também penso em tudo o que passei na vida de trauma, sofrimento (que é um pouco mais do que a média das pessoas da minha idade, que eu conheço) e gosto de como isso me moldou pra o que eu sou hoje. Ninguém quer sofrer assim, claro, mas o que a gente tira dessas coisas que a gente passa é bom. Nos deixa melhores pra melhorar o mundo e melhorar as pessoas a nossa volta também.
Meiri
Passado igual! Presente parecido!
Somos várias e somos únicas, viva a nossa unidade e viva a nossa diferença!
Via a gente!
beijos
Natalia Maciel
Putz como esse post vai me ajudar a mudar a ser melhor, a me vermelhor.Sei que jamis serei magra, mas quero ser feliz poxa, poder passar na rua e se algum homem passar por mim, ter a certeza que foi pra mim!Tenho muito pra viver, pra sonhar, pra me decepcionar, mas tudo isso faz parte da vida, desde que nela eu esteja buscando minha felicidade o meu melhor!
Bjo
Marta Albergarias
Bem…
Custou mas chegou o editorial que eu esperava.
A minha lagarta que virou uma belíssima borboleta. Não uma borboleta qualquer…
A borboleta rara, forte, bela, em multicoloridas facetas. Bem sucedida, que é muito mais que um corpo.
Se você olhar ao redor e me disser que o padrão de beleza é o artificial que vemos hoje, com todas as mulheres com peitão (artificial), bunda enorme braços e pernas torneados à custa DE ANABOLIZANTES, eu digo pra você: não isto não é beleza. Isto se chama ditadura, de um corpo que absolutamente, jamais foi ou será a expressão de beleza da mulher brasileira.
Aquela que sempre foi ou magrinha ou gordinha.
Que sempre teve cabelos curtos, compridos, cacheados, loiros, castanhos, pretos ou vermelhos. Que sempre se orgulhou de suas raízes africanas…
Que sempre enxergou na mistura de raças a beleza natural deste povo miscigenado.
A que acha que é bonita e crê nisto e não tenta remar contra a maré a despeito destas Barbies turbinadas.
Você ao contrario malhou as ideias. Investiu no melhor que poderia ter: em você própria.
Estudou, morou fora, cresceu.
Apareceu, muito embora aquela turminha medíocre da vila chamava destes apelidos que eu nem repetiria aqui, não sonhasse que isto pudesse acontece.
Imagine ,encarcerados em seus padrões de beleza ideal. Esqueceram que a vida passa.
Que envelhecemos.
Há que curtir-se isto. Com disposição, saúde e sabendo que cada ano que passa e deixa em nossos corpos suas marcas, conta uma história maravilhosa de lutas, derrotas e sucessos.
No seu caso, mais sucessos!
E muitos ainda mais estão por vir. Tenho certeza.
Você merece cada um deles!
De verdade.
Parabéns e tenha certeza que o futuro esta apenas começando!
Luciana
Amei o post… Isso ai Paula… vida q segue… sempre acreditando em nosso potencial… Bjs
Ana
Paula,
Que oportunidade única foi conhecer seu blog… através da indicação de sua mãe. E te digo: fiquei impressionada. Este artigo é um exemplo claro!
Você tem uma sensibilidade incrível para se expressar, sem ser demagoga… tem um humor maravilhoso, que todos deveriam ter…. Enfim, você é puro TALENTO!!!
Muito sucesso com seu blog, com seu trabalho, enfim com sua missão e na sua Vida!!!
Ana Loturco
Bruna
Paula, navegando pela web encontrei seu blog. Eu me identifiquei de cara, pois você consegue tratar o assunto peso como muita leveza. E todo dia não deixo de vir aqui.
Ainda estou na fase de “reconhecimento de território” e me identifiquei demais com o seu texto. Sim, em vários momentos você me descreveu, e fez com que eu olhasse pro meu passado de forma mais carinhosa, pois hoje sou uma pessoa feliz e realizada também.
Você está de parabéns pela grande iniciativa e que continue assim, trazendo esse alto astral pra nós suas leitoas todos os dias.
Um grande beijo!!
Paula Bastos
Bruna,
Poxa, nem sei o que dizer! Fico extremamente lisonjeada em saber que você se identifica, que gosta do que escrevo e das coisas que falo. Não á fácil…blogo porque mais do que tudo, isso aqui é uma terapia para mim, é uma forma de me descobrir ainda mais, de testar meus limites, de aprender. Compartilhar minhas experiências com as pessoas é uma das formas mais ricas de aprendizado que tenho.
Espero que você continue voltando sempre e que a gente possa se ajudar, aprender e crescer porque estamos aqui pra isso: pra sermos sempre melhores!
Um beijo grande!