Quando estava escrevendo o editorial comentando sobre a lamentável declaração da atriz Betty Faria, houve outro tópico que eu gostaria de ter abordado no texto, mas ele ficaria muito longo, as ideias acabariam me misturando e eu preferi deixar para falar sobre isso no dia seguinte até porque quis observar como as pessoas reagiriam diante da polêmica. Faz uns três anos que publiquei um post chamado “Mulheres contra mulheres” no blog. Nele falo sobre como aprendemos a atacar nossas semelhantes, a ofender e julgar iniciando uma verdadeira guerra permeada por – e agora vou entrar no assunto que quero refletir hoje – discursos de ódio.
O que eu mais li nos comentários das pessoas que estavam opinando sobre a declaração de Betty Faria foram discursos de ódio: “aquela velha nojenta, caquética, magricela, horrorosa, podre” e etc. Como deixei claro no texto em que escrevi, ela até tem o direito de não gostar de pessoas gordas, mas para convivermos em sociedade, a gente não pode sair por aí dizendo tudo o que pensa, não. Ela foi, declarou e a(o) jornalista sabendo que isso ia dar muito pano para manga, foi e publicou. Nesse caso nenhum dos dois pensou apenas na parte emocional das pessoas. Betty quis dizer o que pensa mesmo, porque na cabeça dela é direito dela, e a(o) jornalista queria mesmo era ver o circo pegar fogo, caçar uns cliques e vender umas revistas a mais. Sou jornalista e sei o quanto alguns “profissionais” querem mesmo é ver a lenha arder na fogueira. Imprudentes, os dois.
Cresci sofrendo bullying e nunca soube bem como me defender. Nem sei qual é o grau da ofensa necessária para que eu realmente fique abalada emocionalmente hoje, pois graças ao meu bom Deus fui me aceitando e sou muito bem resolvida, mas existem milhares de pessoas gordas que ainda não têm a menor condição de se posicionar, que compram esses discursos de ódio como verdadeiros e, aí, os reproduzem. É um ciclo doentio que se repete como numa cadeia alimentar e isso precisa parar. Não vai adiantar você xingar a outra pessoa, nem ofendê-la. Sabe qual é o melhor retorno para quem te ofende? A sua aceitação e o seu amor próprio porque eles te levam para a felicidade e um gordo feliz e pleno incomoda muito. Quando você é bem resolvido, esses discursos de ódio não irão atingir mais e você não os reproduzirá.
Está bem difícil viver nos dias de hoje, lidar com tantas opiniões, pessoas de mentalidades diferentes e tudo mais, mas nunca podemos deixar que o ódio e o rancor vençam. O mundo precisa de amor, precisa de pessoas evoluídas, sábias. Se eu encontrasse com Betty Faria, eu a convidaria para tomar um café e contaria a ela um pouco da minha história e explicaria porquê o discurso dela é tão nocivo. Talvez ela não faça a menor ideia da profundidade que as palavras dela têm em algumas pessoas, talvez ela não consiga nem ver maldade no que disse e ela não tem mesmo como saber a proporção do discurso dela porque nunca viveu na pele de um gordo. Ela não sabe o que é ser discriminada por uma característica física e eu adoraria poder explicar para ela como é isso. Pode ser que ela nem desse bola para o que eu fosse falar, mas a minha parte eu teria feito e eu não a atacaria com palavras malignas porque o que é mal fere mais a mim do que a quem recebe: quando a gente deseja o mal, ele primeiro bate como uma bomba na gente e depois é como se o outro fosse atingido apenas por alguns fragmentos. Não faça isso com você, não. É desnecessário! Quando alguém te ofender, te magoar muito, ore por aquela pessoa. Peça a Deus que ilumine o coração e a mente daquela pessoa para que ela chegue ao entendimento verdadeiro do que as palavras ou atitudes dela causaram, mas não dissemine o ódio.
Se Betty aparecesse de biquíni numa praia hoje e as pessoas a criticassem, eu teria novamente o mesmo posicionamento que tive no passado. Não é porque ela sente repulsa do meu corpo gordo que deixaria de defender o direito de liberdade dela, entendem? Ela foi infeliz na declaração? Foi! Eu gostaria de ser amiga dela? Não porque ela disse que rejeita mulheres como eu, mas não preciso que ela goste de mim, nem que me aceite, apenas que me respeite. Neste caso, acho que mesmo eu tendo 32 anos e ela 74 sou bem mais evoluída e madura, pois eu não reproduziria discursos de ódio contra ela e ainda estou aqui, incentivando às pessoas a não fazerem o mesmo porque não temos o direito de ferir outras pessoas. O preconceito só acabará quando as lutas por igualdade forem justas e verdadeiras: o oprimido não deve se tornar também um opressor. Ódio se cura com amor. Por favor, pensem com carinho antes de ofender alguém: não vale a pena e não é o caminho!
8 comments
Karina
Muito verdade Paula,por isso que admiro tanto vc, é essa sua postura madura, sensata e educada que faz vc ser tão especial e respeitada! Obg por existir!!
Thai
Concordo! Foi triste e lamentável o que ela disse. É revoltante e me enoja pensar que uma simples característica física possa incomodar tanto outra pessoa. Mas, como você mesma disse, nada melhor do que rezar por pessoas assim…Não adianta rebater o discurso dela com xingamentos e mais ofensas, não acho muito sábio fazer isso e creio que só fortaleceria ainda mais esses pensamentos preconceituosos.
Karla
Belíssimo texto, Paula. Parabéns!
Espero que possa fazer mais pessoas refletirem a respeito.
Bj
Karla
Karina
Como sempre, um texto excepcional, cheio de respeito, de amor e maturidade. Como escreve bem essa menina!!! Talvez, falte a Betty conhecer uma gorda como você, para aprender não só a respeitar, mas para passar a admirar, como eu te admiro!!
Bjs!!
Raquel Almeida
Admiro tanto você, Paula!
Obrigada por sempre escrever coisas tão lindas e sábias. Acompanho o seu blog há um tempinho, mas nunca havia deixado nenhum comentário. Sou leitora-fã tanto desse blog quanto da pessoa que o gerencia. Que Deus te abençoe querida, hoje e sempre.
Desde já aguardo ansiosamente a próxima postagem 🙂
Izabel Drumond
Você sendo você, amo.
Seu posicionamento é super coerente.
Pensei exatamente o mesmo quando li os comentários.
Como podemos rebater discurso de ódio com ódio, com preconceito?
Fabi Travens
Paulinha….sábias palavras. Vem acompanhando o crescimento do movimento plus e como repercurte os comentarios e opiniões com foco negativo…muito mais que disseminar o bem ou as boas palavras.
Jéssica
Oi, Paula,
Adorei seu texto e, infelizmente, a proporção entre pessoas que são coerentes e têm o bom senso como você, é pequena em comparação as pessoas que ainda são consumidas pelo preconceito.
Depois da declaração da Betty Faria muitos escreveram sobre o assunto, mas um que eu li me chamou a atenção, que dizia:
“Betty diz que não gosta de gordas. A sociedade não gosta das pessoas gordas. Elas são maltratadas, espezinhadas, sempre acusadas de folgadas, sem força de vontade, preguiçosas.”
“E o mundo precisa decidir o que deseja: se a pessoa é gorda, está errada. Se diz que quer ser magra, está errada também. Todo mundo sabe que gordura faz mal à saúde, que a obesidade é um risco de vida e que ser gordo significa enfrentar o preconceito. A verdade é uma só: não dá para ser gorda e ser feliz.”
Esse texto é do Bruno Krasnoyev, que tem um blog (“Tá lendo por quê?”), não está na íntegra. Ele já escreveu outros textos péssimos, com opiniões tão preconceituosas quanto esse que eu mostrei. O fato é o poder de disseminação que a internet tem, ainda mais ele, tendo um blog num portal de notícias super famoso, como deixam ele publicar essas coisas dentro do portal?
Esse texto também me deixou com os pensamentos a mil, tipo: “gente, o que essas pessoas estão falando?” “com que propriedade e conhecimento essa pessoa está escrevendo essas coisas?”
Aliás, acho que esse texto me deixou mais chocada do que a declaração da atriz…
Acredito que o que mais chama atenção é como as pessoas não têm a capacidade da reflexão, não sabem mais separar o bom senso do mau senso e ainda, indo um pouco além, lembrando de outros acontecimentos, as pessoas acreditam que têm o direito de agredir, física ou verbalmente, aquele que tem opinião, aparência ou qualquer coisa diferente delas.
As pessoas só querem “vomitar” suas opiniões, querem que os outros concordem ou aceitem, querem ser respeitadas, mas não respeitam! É bem “doa a quem doer”. É triste!