Faz muito tempo que estou perdida. A Paula, blogueira do Grandes Mulheres, entrou em crise muito antes da bariátrica. Um ano antes de passar pela cirurgia eu estava um caco. Meus stories eram um verdadeiro muro da lamentação e vira e mexe eu aparecia chorando. Estava em crise comigo mesma, a saúde indo ladeira abaixo, sem saber o que eu queria exatamente da vida, sofrendo por um amor que me ferrou a vida, sem vontade de escrever, sem saber o que fazer ou falar. Foi uma fase terrível para mim e, ao mesmo tempo em que temia o julgamento das pessoas e a intromissão delas na minha vida, meu vitimismo, minha necessidade de tentar agradar e o medo de decepcionar me faziam ir para a internet expor o que eu sentia porque a “Paula blogueira” se fez assim: expondo suas dores pessoais, criando essa identificação com quem a encontrava pela tortuosa virtualidade.

Eu fujo quase que totalmente do estereótipo da capricorniana. Sou mega sentimental, zero frieza, drama queen, chorona e vítima. Com anos de terapia aprendi que o vitimismo é a raiz da maioria dos meus “problemas de ordem emocional”. Ainda não descobri o que me fez ser assim, mas estou buscando essa resposta com avidez no meu interior. Talvez seja um episódio da infância; talvez um mecanismo que criei para conseguir algo ou para me proteger. Pode ter alguma raiz com meu pai ou não. Ainda não faço ideia, essa é a verdade. Quanto mais aprendo sobre o vitimismo e quanto mais percebo ele operando em minha vida, mais o detesto, mas ainda não sei bem como me livrar dele.

Da realidade para a escrita

Sempre amei escrever. Sempre fez parte da minha essência, não à toa sou jornalista. Meus textos, como este que redijo agora, são os responsáveis por eu ter alcançado tanta gente em 11-12 anos de blog. Naquela época não havia ninguém falando como eu falava, ao menos nunca soube. Peguei tudo que eu tinha de dor, medo, dúvida, questionamento, raiva, insegurança e joguei nos textos porque passei a vida indagando se tudo aquilo era algo só meu ou se haviam outras pessoas no mundo que passavam pelas mesmas coisas e se sentiam como eu. E foi assim que “me fiz” na internet. A Paula do textão, a Paula da profundidade, a Paula que comprava as brigas, que peitava empresas, que questionava, que apontava, que se expunha sem pensar nas consequências.

Eu paguei preços altos pela exposição. Hoje tento aprender com os episódios do passado.

A verdade, no entanto, é que todas as vezes em que tento me reinventar, não sei como fazer isso. Não sei como sentar aqui e escrever apenas textos frios para alimentar um blog que, há 11 anos, é totalmente pautado na minha vida, nas minhas experiências, no que eu errei, aprendi e acertei. Não sei ir lá e ficar fazendo micagem criando reels de moda, apenas mostrando looks ou postando receitas. A minha essência grita, pois ela quer estar presente. Pô, se for pra ser assim, não preciso estar aqui: é só ler uma revista qualquer que ela oferecerá certa imparcialidade ou, então, seguir apenas a galera da “vida perfeita, da oestentação”. Eu não. Eu não consigo.

Sinceramente, e de todo coração, estou bem cansada de me expor. Isso me exauriu e foi por isso, principalmente, que já faz uns quase dois anos que não escrevo de verdade pro blog. Tem um texto ou outro pingado por aqui.  Perdi o gosto, fiquei sem saber o que falar, já que não queria me expor tanto. E vivo nesta dicotomia: expor ou não me expor? Como é que posso expor o que vivo e poder ensinar, ajudar e agregar outras pessoas sem que eu me exponha tanto? Sem que eu vire algo de julgamentos, com a minha vida completamente exposta? Ainda não encontrei essa fórmula, mas estou disposta a tentar, de alguma maneira.

Não dá para fugir da minha essência. Estou aqui para evoluir e para tentar agregar algo de bom a quem cruza o meu caminho. Não quero ser um peso morto neste mundo e estou comprometida com o meu plano pessoal de evolução. Escrever faz parte dele. É tão fácil para mim sentar e escrever isso tudo agora: quando os textos saem do meu coração, simplesmente fluem. Tenho muito a falar, mas preciso pensar em como falar. Não quero que meus dramas pessoais virem textos que reforcem o meu padrão comportamental vitimista: tenho que tomar cuidado com isso também. A verdade é que, quando escrevo, reflito muito. Os textos conseguem tocar a minha alma tanto quanto tocam as de vocês – ao menos eram esses os feedbacks que eu recebia no passado.

Não aprendi, ainda, a ser reservada. Ainda não sei como expor sem me expor tanto: talvez seja um exercício do agora. Não vivo mais pensando no futuro: hoje foco apenas no presente. Estamos em pandemia, não sei o dia de amanhã. Meus textos são meu legado, meu tesouro. Que a exposição do passado tenha valido a pena para quem já cruzou comigo e que, daqui em diante, eu consiga dosar o que irá ser bom para mim e para as pessoas. Quero ser instrumento do universo através das palavras, mas quero que elas me curem também.

Eu estou cansada. Ainda estou perdida, mas desistir de me encaixar com o meu propósito é algo que jamais farei.

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Eu acompanho aqui faz uns anos, mas nunca escrevi nada nos comentários e esse fora o texto no qual eu mais me identifiquei. Passei por isso, em tentar ajudar ao outro através da escrita sem me expor, no meu caso foi o inverso. Sou bem reservada e tive que aprender a me abrir mais, o problema que eu não soube dosar e me fez muito mal. Mas a vida e o auto-conhecimento é isso, a gente aprende todos os dias, a gente luta pra não apagar a nossa essência, tive que abrir mão de coisas que gosto, no fim, percebi que era só apego besta. Quando deixamos fluir e assumimos que também somos em parte sombras, fazemos as coisas sem se preocupar com julgamentos… As pessoas sempre julgam, algumas opiniões nos são válidas, pois há aqueles com sensibilidade e empatia, mas na maioria das vezes muito do que nos jogam suas palavras, o fazem de forma vazia. Sinceramente não sei se fui “entrona” por falar isso, mas você se questionar é um começo, reconhecer seus prós e contras faz muito por si mesma, explanar isso faz muito pelos outros…
Abraço e cuida-te

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