Eu queria um amor…

Algumas de vocês sabem que minha vó está internada e passou por uma cirurgia no fêmur porque ela sofreu uma queda e eu contei um pouco sobre isso no Facebook do blog. Ontem levei meu avô para visitá-la no pós-operatório e vivenciei uma cena que mexeu com a minha vida inteira. Meus avós são bem velhinhos e estão casados há mais de sessenta anos. O amor deles é dessas histórias de filme, sabe, pois mesmo na velhice você vê nitidamente que existe, que se completa. Para mim é aquele amor da Bíblia, o amor descrito em Coríntios, em que tanto acredito, mas não sei se é possível viver nos dias de hoje. Ela estava ainda grogue da anestesia e fiquei assistindo meu vô observá-la, como se nos olhos deles fosse possível ver que ele faria qualquer coisa para estar no lugar dela para que sua amada não precisasse passar por aquilo. Quando ela abriu os olhos, ele disse a ela: “Eu te amo, viu? Eu te amo!” e a beijou. Obviamente comecei a chorar porque sou o ser mais sentimental do planeta, mas a cena presenciada explodiu como uma bomba dentro de mim.

Eu converso bastante com meus avós e sei bastante da história deles. Namoraram um bom tempo a distância, se casaram, tiveram sete filhos, passaram pela morte de um e criaram uma família toda. Sempre vi cumplicidade, intimidade e muito amor. Minha vó é reclamona, briguenta e impaciente – muito parecida comigo – e ele ainda assim a trata e a vê como uma rainha. Sabe quando você vê que ele consegue transcender todos os defeitos e dificuldades porque ama, porque a valoriza? É isso. Eu cresci vendo isso e ao passo em que eles foram envelhecendo, tudo foi ficando mais interessante e mais nítido. Talvez seja “fácil” amar quando somos jovens, belos, quando a vontade por sexo lateja em nossas veias, quando somos capazes de nos movimentarmos e fazermos de tudo, mas amar na velhice, quando já “perdemos” muitas das nossas capacidades, não é para qualquer um. Só aqueles que realmente se amam, se entregam e conseguem entender a totalidade do que é compartilhar sua vida com alguém são capazes de entender.

Há pessoas no mundo que, assim como eu, ainda sonham demais com esse tipo de amor, mas realmente já não sei se ele existe mais nos dias de hoje, na minha geração. Aprendemos que tudo é descartável, que tudo pode ser deixado de lado porque sempre há uma substituição – há até a frase que diz que “ninguém é insubstituível” -, que se não está funcionando, é só partir para o próximo desafio (e isso se refere aos amigos, ao emprego, ao curso da faculdade, ao amor e muito mais). Não sei de que mundo eu saí por não conseguir pensar assim e apreciar esse modo de pensamento. Sou do tipo de pessoa que dá valor às minhas “coisas” e que só desiste de algo depois de ter tentado muito, de ter esgotado todas as minhas tentativas. Não trato ninguém como descartável ou substituível e tento, enquanto for possível, acertar as relações que estão fragilizadas, sejam elas quais forem. Deus não desiste de mim nem quando eu faço algo que o aborrece muito, então quem seria eu para desistir de algo simplesmente porque por algum momento algo ou alguém me desagradou? O difícil de viver nos dias de hoje é que apenas uma minoria pensa como eu e é aí que me ferro.

Vocês, que não me conhecem e não convivem comigo, talvez pensem que sou a pessoa mais fofa e divertida do mundo. Claro que sei ser assim, mas sou bem difícil de lidar, na verdade. Todo ser humano vem com uma bagagem de vivências e experiências e a minha vem com muitas feridas, sequelas, angústias e muitos sonhos, muita idealização e projeção. É um trabalho árduo e diário se desprender do passado e entender que idealizações e projeções só irão causar frustração. Quando vejo já estou sonhando, planejando, querendo mais do que tudo e aí as coisas não acontecem e eu caio num poço profundo de frustração, de inconformidade com a vida, com o fato de tudo parecer ser sempre tão difícil para mim. A gente se ilude tanto porque, principalmente, com a propagação das redes sociais, todo mundo parece viver uma vida perfeita: é o relacionamento dos sonhos, a viagem maravilhosa, o emprego perfeito, a família feliz, a roupa da moda. Raras as pessoas que compartilham fracassos ou falam da realidade sem que ela pareça ser uma fantasia.

De tanto assistir a filmes românticos, seriados com histórias de amor dramáticas, ler romances, conviver com meus avós e ler a Bíblia eu cresci acreditando no amor de uma forma muito minha que só eu e Deus entendemos. Hoje eu não consigo acreditar em fidelidade masculina – podem me xingar muito, mas não consigo e não estou brincando. O que eu vejo de gente falando numa boa que o homem é capaz de amar uma mulher e aí vai e transa com outra só por desejo e vontade, mas sem amor, só por instinto animal mesmo, e nada afeta o relacionamento com a sua “principal e amada”, não tá no gibi. Desculpa, isso para mim é algo de outro mundo. Se você quer sair por aí comendo todo mundo, amigo, então fique solteiro; se o amor e o cuidado de uma única mulher não são suficientes para te fazer feliz, então fique solteiro, mas não destrua a vida de uma outra pessoa que está querendo construir um caminho com você. Deus não nos fez para ficarmos sozinhos, mas do jeito que as coisas vão, infelizmente muita gente vai acabar sozinha, sim. E antes sozinha do que mal acompanhada, com certeza. Estar em um relacionamento podre, cheio de traições, desrespeito e mentiras só para colocar status no Facebook? Só para que as pessoas não pensem que você ficou encalhada? Não, obrigada.

Minha maneira de enxergar o amor pode ser idealizada para os dias de hoje, mas acho que estou bem próxima daquilo que Deus planejou para seus filhos originalmente. Eu quero alguém que me enxergue como um todo, não como uma parte porque não sou só defeitos, mas também não sou só qualidades; quero alguém que tenha paciência de saber entender que eu venho com feridas, medos, hábitos que foram adquiridos e que não irão mudar do dia para a noite, mas alguém que entenda que vale insistir porque tem tanta coisa boa ali e com diálogo e compreensão a gente vai mudando o que não é legal aos poucos. Adoraria que ele se tocasse que eu gosto de flores e que não é preciso ter uma data especial para isso, que ele se lembrasse dos nossos aniversários de namoro porque para mim importa, que ele ficasse feliz em ver que cozinhei a comida preferida dele mesmo depois de ter trabalhado exaustivamente em cima de um projeto; que passei uma gotinha daquele meu perfume que ele tanto gosta antes de dormir para que ele me abrace e me envolva com aquele aconchego que só ele tem. Quero alguém que me ligue para saber como está o meu dia e me diga que está contando os dias para me ver, quero alguém que ame a Deus tanto quanto eu amo e que deseje servi-lo junto comigo, que esteja disposto a criar uma família com princípios e valores. Quero alguém que me estenda a mão para enxugar as lágrimas quando algo me entristece e que ria comigo quando eu tiver uma crise de riso; quero alguém que cuide de mim se um dia eu precisar ficar acamada num hospital, que me dê forças para querer sair de uma situação ruim. Quero alguém que me queira mesmo eu sendo a bagunça que sou porque ele também é uma bagunça: todo mundo é, cada um de um jeito.

Quero ser mulher de um homem só, assim como gostaria que ele me honrasse sendo apenas meu. Mas tudo o que eu escrevi parece romântico demais, idealizado demais, viajado demais – para os dias de hoje. É triste demais porque não sei se algum dia encontrarei esse amor que procuro. Acho que nasci na época errada, de verdade, porque eu gosto de servir, de cuidar, de agradar: isso me faz feliz e é problema meu. As pessoas não sabem nem mais o que é isso e os homens ou abusam desse fator e me ferem profundamente ou sou taxada de louca e idiota por outras mulheres, mas o coração é meu, os desejos são meus e os valores são meus. Eu sei o que me faz feliz, o que me realiza e ninguém tem o direito de me dizer que é certo ou errado. É meu e ponto. Talvez exista no mundo alguém que um dia vá apreciar todas essas coisinhas que eu faço, que desejo, que quero fazer junto e quem eu sou no todo.

Eu queria um amor como o dos meus avós, mas só mesmo um milagre de Deus para que eu possa viver algo assim nos dias de hoje. Escrevi este desabafo porque sei que deve existir mais meia-dúzia de gatos pingados por aí que tem essa mesma concepção que eu e talvez assim eu me sinta menos “louca” e menos sozinha. Porque o melhor e mais nobre sentimento do mundo, o que mais deveríamos encontrar, é o mais difícil de vivermos na totalidade do que acreditamos com outro ser humano.

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