Eu achei que o assunto estava na moda.

Achei que pelo menos as pessoas antenadas com a internet e que consomem informações de todos os tipos, de diferentes fontes, já tinham sido atingidas por uma reportagem ou texto de opinião sobre o orgulho gordo: sentir-se bem como você é. E sobre a tendência – de pessoas, de publicidade, de mercado – de falar sobre pessoas reais e estimular o debate sobre a opressão do padrão de beleza atual.

E mesmo em tempos atuais, com tantos blogs sobre o tema e com tanta luta pela valorização da diversidade, ainda vejo pessoas dizendo, sem nem ficarem vermelhas, que pessoas acima do peso, muito pequenas ou muito grandes, com biótipos diferentes, corpos que não se encaixam no padrão de beleza, são um grupo seleto de pessoas que tem um corpo específico e que não existe mercado para elas.

Tive vontade de gritar: grupo seleto é aquele das “angels” da Vitória Secrets, que podem se dar ao luxo de malhar duas vezes por dia e fazer, ao mesmo tempo, uma dieta líquida de dez dias. E não se engane: as fotos que você verá são retocadas. Esse é um grupo seleto, a imensa maioria, é de gente real.

E é inacreditável em tempos de tanta informação que isso seja visto como padrão de beleza. Que se mostre, para gente real, que trabalha, estuda, tem filhos, vida social, problemas de família e dá um duro danado para cumprir todas as tarefas do dia, que isso é ser bonito. Como se pode dizer, para essas pessoas reais, que se elas fossem isso, seriam bonitas de verdade?

Jura pra mim que vocês acham elas bonitas de verdade?

E quando se fala em orgulho gordo, tem sempre um super herói salvador para levantar a bandeira da saúde: mas obesidade mata. Mata sim, mas ninguém que defende o fat pride defende a obesidade ou pretende que as pessoas comam mais sanduíches por dia. É ridículo imaginar que um movimento que luta pela liberdade e aceitação estimula as pessoas a se tornarem escravas de maus hábitos.

Todos que se envolvem em movimentos pela valorização da diversidade defendem o cuidado com a saúde, a alimentação saudável, a prática de exercícios. O que não dá para defender é que todo mundo só vai ser feliz se entrar na calça 38. Mas dá pra imaginar que a pessoa que faz questão de dizer que gordura é incompatível com saúde se orgulha um pouquinho de ser mais magra. Gosto da frase: São as roupas que tem que se adequar ao nosso corpo, e não nós que temos que adequar nosso corpo às roupas.

A verdade é que é uma vantagem de mercado a gente nunca estar feliz do jeito que é. Nada contra se cuidar, comprar o que faz sentir bem, mas vamos acordar: somos mais do que isso. Temos vidas reais, propósitos e é inaceitável que o número da roupa diga algo sobre nosso caráter.

E por que os gordos incomodam tanto?

Há mais de um ano atrás, a americana Marsha Coupe voltava do hospital onde seu marido estava internado com câncer quando foi agredida por uma mulher em um trem. Marsha, com 135 quilos, foi vítima do ódio de uma mulher que a chamava de porca gorda e quase ficou cega de um olho.

Mas que direito essa mulher tinha de ofendê-la? E que direito tem as pessoas de ofenderem as outras pela forma de seu corpo?

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11 comments

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Dã um puta orgulho,chegar aqui e ler um post destes.
Eu faço parte das gordinhas pós menpausa e pode crer: apatrulha é violenta.
Não se pode envelhecer, tampouco engordar. E querem saber, tô ne, aí.

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Apoio tudo que apoie a beleza da mulher em toda sua grandeza!!!! Eu me amo do jeito que sou…

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Apoio você se sentir bem como é e buscar o que é melhor para a sua saúde.

Eu por exemplo fui no médico e vi que minha obesidade estava afetando a minha saúde, logo estou buscando emagrecer para não sofrer de dores nas costas, nervo ciático, etc….mas isso não quer dizer que eu deva me sentir feia e me vestir com um saco de batata até estar mais magra…

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Parece que vivemos em uma fábrica e todo mundo tem que ter a mesma forma, se não está conforme os padrões logo querem fazer um recall. É uma despropósito total ainda termos que aturar certos posicionamentos preconceituosos. Acredito que devemos nos impor mais e mostrar pro mundo inteiro que somos felizes assim e não queremos mudar.

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A diversidade embeleza a vida e o mundo e no entanto a moda parece querer emoldurar e manter reféns a todos. Temos que ter cabelo super liso, dentes super brancos, corpos super magros e tantas exigências a cumprir que nos falta espaço para sermos nós mesmas. Parábens a todas as mulheres fortes que enfrentam todos os dias uma guerra injusta simplesmente para poderem ser o que são. Parabéns pra você e também pra mim.

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Fico feliz em saber que nós as gordinhas estamos sendo vista com bons!! Nós gordinhas também temos nosso charme.Eu jamais emagreceria pra conquistar alguém, quem gostar de mim como sou!!! EU ME AMO!!!

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Estou orgulhosa em saber da existência desse grupo! É incrivelmente deploravel constatar que em nosso cotidiano as pessoas, que em sua maioria, se dizem liberais são desmascaradas diante do diferente, seja ele o gordo , o negro, o gay… enfim, aquele que é simplesmente diferente do padrão social. E chegamos ao ponto de ter de formar grupos para proteção do próprio orgulho e valorização da nossa auto-estima! Afinal eu também sou gordinha e ” apoio essa idéia”. Chega de perseguição!!!

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Já fui preterida em empregos por causa do corpo…apesar de ter preparo e experiência para tal. Me sugeriram q eu procurasse vaga num call center onde clientes não precisariam me ver…bom, na época isso me incomodou, hoje não mais…tento ser saudável e conviver com as medidas plus size…o corpo físico pode até ser pesado, mas a alma é leve feito pluma. Mas o que eu vejo na rua são mulheres (e homens tb!) que parecem ter sido feitas em fôrmas, louras, cabelos lisos, roupas estranhamente apertadas e curtas, coxas de jogador de futebol ou manequim 36…e aquela cara de tédio…e as calças skinny? O que é aquilo?? Ditadura da economia de tecido, isso sim!!

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Taí a prova que faltava… mulheres “gordas” quando ficam peladas, continuam lindas!

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Eu só não curto muito o nome “orgulho gordo” porque acho meio absurdo o que consideram “gordo” hoje em dia. As modelos plus size dessa foto por exemplo, elas não são gordas! Elas só tem barriguinha, pernas não esqueléticas, quadril grande, como a maioria das pessoas.

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E viva a diversidade!

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