Eu queria ser dessas pessoas que ri muito, que vê a vida com leveza e alegria, mas sou o oposto disso. Talvez a minha aparência reflita mesmo o que sou por dentro: pesada. É difícil admitir isso, mas sim, sou pesada. Não consigo ser leve, mesmo depois de tanto apanhar da vida para aprender algumas coisas. É o oposto: sou pesada porque guardo muita dor, muitas feridas e cicatrizes em mim. Vivemos um tempo em que o egoísmo reina. Cada um já tem um super fardo, então por que se preocupar com o outro? Por que tentar entender, considerar, estender a mão? A maioria não se importa e você começa a nadar no oceano da solidão.
Desde o ano passado venho enfrentando muita coisa sozinha. É difícil explicar porque parece não ser nada, mas ao mesmo tempo parece ser tudo. Eu nunca fingi ser algo que eu não sou. Nunca tive um perfil maravilhoso e feliz no Instagram cheio de lugares badalados, amigos cool, cenários maravilhosos e compras ostentadoras. Às vezes acontece de ir pra um lugar bacana ou comprar uma coisinha ostentação depois de muito sacrifício, mas são situações atípicas e não costumeiras. A internet está cheia de gente brincando de faz de conta e a gente cai nessas ciladas e entramos em um universo de comparações nocivas. O virtual, em 90% dos casos, não condiz com a realidade.
Quantas vezes já vi blogueiras deixando de aproveitar uma viagem para ficar trocando de roupa e fotografando looks do dia, postando tudo no Snap ou no Insta, passando recibo de tudo? Quantas vezes vi gente enxugando lágrimas e retocando a maquiagem porque precisava tirar uma foto e o click tinha que ficar impecável e feliz? Quantas vezes vi gente postando sem ter a menor vontade ou inspiração para escrever porque aquilo era uma obrigação?
Já faz muitos meses que venho dizendo a vocês o quanto estou desanimada com o blog, o quanto tenho me sentido frustrada. Isso não é novidade alguma e, por isso mesmo, se não estou bem, se não estou afim, não faço nada. Não tem foto, não tem texto. Estou me respeitando porque está bem difícil me entender e me suportar neste momento. Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas ando extremamente deprimida. Acredito que possa ser uma reação do tratamento medicamentoso aliado à restrição alimentar que passei a ter, mas meu quadro é depressivo. Às vezes faço piada no stories ou apareço mais contentinha, mas o meu humor oscila demais. São poucos momentos que me trazem alguma alegria.
Talvez seja também uma crise da idade. Acho que pode ter muito a ver com isso. Eu tinha uma expectativa para a minha vida e nada do que eu sonhava aconteceu até agora, nada. Dói muito. São questões de realização pessoal, profissional, financeira e até de saúde que não se cumpriram. É a somatória das listas de “resolução de ano novo” não cumpridas que não me levaram até onde eu pretendia chegar. A culpa de muita coisa é minha, eu sei, mas a vida e a forma como as coisas acontecem gera em você um desânimo e uma descrença em si mesma. Muitas vezes você não consegue ter sangue de barata para continuar dando a cara a tapa. Às vezes desistir pode ser uma coisa boa, mas às vezes a desistência destrói tudo.
Eu só queria desabafar, dizer que se você também tem dias ruins, você não está sozinha. A vida não é fácil, não. Já tive também aquelas fases de pegar e me comparar com quem mora onde tem guerra ou de quem passa fome para tentar crer que meus problemas não tinham importância, não eram relevantes. Não faça isso. São coisas diferentes, em situações diferentes. Os meus dilemas têm um grande peso na minha vida e influenciam demais a minha conduta e não dá para fazer de conta que eu não sofro e que eles não me afetam demais. Admitir que se está mal, que alguns dos seus comportamentos são nocivos e precisam ser mudados já é bem difícil. Depressão não é sinônimo de drama e nem de fraqueza, é um problema real e só quem está passando ou passa por isso é que entende.
Tomara que passe logo… enquanto isso vou desabafando quando sentir que devo, fazendo piada quando der vontade e simplesmente tentando fazer o meu eu pesado aprender a ser leve porque este peso está realmente sendo um fardo bem pesado para mim. Sentir tanta tristeza é muito ruim. Eu não desejo isso para ninguém!
P.S.: O título do texto é um trecho da música “Dança da Solidão”, música do Paulinho da Viola cantada por Marisa Monte: https://goo.gl/oUlnqB
2 comments
Camila
Paula, não sei se você já tentou ou já está tentando, mas acho que a terapia lhe daria um norte. Digo isso porque eu entendo suas palavras, já passei por isso. Estive num lugar dentro da minha cabeça onde a falta de esperança dominava e eu não conseguia sentir gratidão ou felicidade por nada do que eu tinha, eu só focava no que eu não tinha e nas pessoas que me fizeram mal. E isso não é uma escolha, sua mente simplesmente faz isso. Sei que é difícil arrumar um(a) psicólogo(a) que a gente se sinta à vontade e sei que a terapia não vai ser a solução de todos os seus problemas. Mas ela te dá forças pra você saber lidar com o que não pode ser mudado e persistir em coisas que você achava que não teria mais forças para fazer. Ir à um psiquiatra também ajuda. Eu precisei tomar antidepressivos (em baixa dosagem) por 6 meses para entrar nos eixos. Depois, levei alta do psiquiatra e segui apenas com a terapia. Hoje, até mesmo da terapia levei alta. Minha vida não está como eu gostaria, mas hoje eu domino minha mente e não o contrário. Existe uma saída sim, não desista, não importa quanto tempo você já viveu nesse mundo pesado que sua mente te leva, o importante é nunca desistir de você mesma. Fique na paz. Beijos!
Paula Bastos
Oi Camila!
Obrigada pelo comentário. Eu fiz terapia por uns 10 anos ou mais e hoje faço um outro tipo de terapia, mas continuo fazendo. Na realidade percebi, depois de escrever o texto, que eu realmente fico mais suscetível e deprimida em momentos específicos e tem a ver mesmo com o tratamento. Depois do dia que escrevi o texto, por exemplo, não tive mais essa onda de tristeza. Como a médica havia me explicado, poderia acontecer mesmo devido a todo um novo estilo de vida que estou tendo agora e principalmente por causa dos medicamentos, mas eu tô bem e essa fase “pesada” tá me transformando bastante e eu acho que será para melhor!
Grande beijo <3