Cheguei ontem de viagem e estava exausta, por isso não assisti Amor & Sexo no horário em que foi transmitido. O burburinho no Facebook e a observação de um amigo, no entanto, me fizeram ir até o GShow para assistir o episódio transmitido ontem (09/03). A temática era autoestima e padrões de beleza. Quando vi que entre o júri convidado estava a psicanalista Joana Novaes, fiquei muito feliz. Tive a oportunidade de conhecê-la quando fiz a campanha da Dove em 2016. Joana é um bálsamo de inteligência, tem uma presença incrível e transmite mensagens que impactam a todos, sem distinção. Ela te faz refletir muito, inclusive recomendo que acessem o site dela para ver os livros que já escreveu, pois desenvolve um trabalho muito importante sobre doenças da beleza: https://goo.gl/JeJBHa.
Mas voltemos ao programa. Logo no primeiro bloco gostei da colocação da cantora Anitta falando que as pessoas que assumem as verdades – se referindo aos procedimentos estéticos e plásticas -, são muito criticadas. Concordo com ela: se você faz e fica quieta, fica aquela especulação que não tem fim, mas quando você faz e assume, a galera muitas vezes fica metendo a boca. O que as pessoas precisam entender é o que o corpo é de cada um e cabe a cada indivíduo fazer dele o que bem entender. Não vejo nada de errado em querer mudar algo e até em mudar de ideia. Hoje você pode dizer que jamais terá cabelos curtos, mas um dia pode querer cortá-los assim, por exemplo. Ué, qual o problema? A gente amadurece, muda e tudo na vida vive em uma constante mudança. Por que as pessoas insistem tanto em cuidar e vigiar a aparência alheia? A resposta eu já sei, mas fica a reflexão para vocês.
Quando um tamanho é plus size?
A edição contou com a participação da atual Miss Brasil Plus Size, Denise Gimenez. Eu conheço a Denise pessoalmente e ela é linda, mas nos meus conceitos pessoais de beleza não consigo achá-la gorda, entenda. Ela é alta e curvilínea e mesmo usando um manequim 46, que já é considerado plus size, vejo que as proporções dela não são de uma mulher gorda, mas sim grande. Sabe mulherão? Se eu tivesse que rotulá-la, a colocaria no curvilínea e não como plus size. Não gosto de falar sobre rótulos, acho que ficar categorizando pessoas é bem desagradável, mas usei essa explicação apenas para que vocês entendam o que eu – muito particularmente – penso.
Outra coisa que gostaria de esclarecer foi o que ela disse sobre as modelos plus hoje começarem no 42. Se formos analisar pela moda convencional, a grade regular contempla do 36 ao 40, sendo que os tamanhos 42 e 44 já são uma extensão. No entanto, com o passar do tempo, essas numerações foram absorvidas como regulares porque a mulher brasileira é cheia de curvas e tem mais massa corporal, então os tamanhos de 46 acima são tidos hoje como “plus size”. A informação não foi bem colocada, pois o que ela tentou dizer, na verdade, é que as agências já determinam que mulheres que vestem a partir do 42 não façam parte da grade de modelos regulares (as de passarela), mas modelos 42 e 44 entram para a categoria curvilínea. Esses termos são sim usados hoje para categorizar as meninas no mundo da moda e, de certa forma, são facilitadores mercadológicos para quem contrata e oferece o trabalho. O problema, no entanto, é que nada disso foi explicado, então entende-se que uma mulher que usa acima de 42 já seria “gorda”. Imagine o que deve ter de gente com nó na cabeça. Até a atriz Mariana, da bancada de júri, e Anitta comentaram que, então, podem ser modelos plus size!
Mas o que disse Otaviano Costa?
– Você não se sente mal sendo chamada de plus size, categorizada como plus size? Porque você é normal!
O júri interferiu no mesmo momento dizendo que somos todos normais e se espantaram com a colocação do apresentador. É claro que me incomodou, mas o que aconteceu é que ele se expressou mal. Entendi o que ele quis dizer, que foi, basicamente, o que disse acima sobre a miss: ela não é gorda, é um mulherão. Talvez você tenha vindo até aqui achando que eu iria detoná-lo, mas não, longe disso. Ele fez uma colocação infeliz e realmente não acredito que houve maldade alguma da parte dele. Sabe aquela coisa de “é a força da expressão”? Somos tão acostumados a ouvir e a repetir discursos que acabamos não observando isso no dia a dia. Pode ter certeza que eu e você ajudamos a repercutir vários porque ficam enraizados em nós, então rever esses discursos faz parte da desconstrução. Tenho certeza que ele refletiu depois disso e percebeu que a colocação não pegou bem, mas eu mesma já me referi a mulheres dizendo que “ela é normal” porque não era gorda, nem magra e eu não sabia bem como me expressar! Quem não tem teto de vidro?
Quando você repete bordões, usa expressões e semeia discursos que ouve, é preciso ter atenção. Quantas amigas já corrigi porque usavam o tal “eu não sou tuas negas?”. Quantas vezes tive que me corrigir dizendo que ia fazer uma gordice? Quantos amigos já repreendi para não usar “viadinho, boiola e etc” como xingamento? Entendem meu ponto? Todos nós fazemos colocações infelizes vez ou outra e esses episódios nos fazem refletir porque cai naquela de “força do hábito”. A gente reproduz até inconscientemente aquilo que ouve, então é legal prestar atenção não apenas no que os outros falam, mas no que nós mesmxs dizemos. Você vai perceber quanta coisa dá para mudar e eu fiz e faço muito esse exercício e ainda me surpreendo, viu?
Gostaria que todos refletissem sobre isso, pois a mudança precisa mesmo acontecer em cada um de nós e a gente reproduz mesmo porque está enraizado em nosso inconsciente, então as mensagens vêm. Uma das coisas que hoje gosto em mim foi essa capacidade que adquiri de analisar bem a situação antes de sair criticando, pois é muito fácil falar do outro ou colocar a boca no trombone e causar polêmica, mas nem sempre a gente olha para o viés real da situação. Acredito que a edição de ontem tenha sido importante para muita gente que assiste ao programa e não tem muito acesso a informações sobre padrões e desconstruções, mas adoraria ver um debate ainda mais esclarecedor e simplificado em diversos programas de TV porque a massa precisa sim ser atingida e esses debates precisam acontecer cada vez mais!