Por diversas vezes quando escrevo aqui ou no meu Blog pessoal sobre a necessidade de revermos os padrões estéticos que nos impõe a indústria da moda e a sociedade de um modo geral, recebo comentários ácidos de pessoas que dizem que “isso tudo é papo de gordo conformado”, que “não devemos fazer apologia à obesidade por tratar-se de uma doença”, e outras pérolas do gênero.

Pois bem. Vamos desenvolver este assunto então!

Antes de mais nada, preciso dizer que não sou médica, nem nutróloga, nem tenho nenhum conhecimento técnico que me capacite para falar profundamente sobre obesidade enquanto doença, mas sou uma Grande Mulher e tudo o que falo baseia-se na minha própria experiência de uma vida às voltas com a balança e todos os clichês que recaem sobre pessoas que estão acima do peso.

“Todo gordo é preguiçoso, se praticasse exercícios físicos emagreceria”;

“Todo gordo come porcarias demais, com um pouco de controle emagreceria”;

“Todo gordo é doente, tem colesterol alto, triglicérides elevado, hipertensão, etc.”

Qualquer pessoa que esteja acima do peso já foi, em algum momento da vida, confrontada com essas afirmações. Muitas vezes elas vêm como acusações, porque as pessoas não se contentam em te excluir por ser gordo, elas ainda precisam fazer com que você se sinta mal e culpado por estar fora dos padrões.

Eventualmente pode até haver alguma verdade nestas frases, mas como tudo na vida, cada caso é um caso, e generalizar é no mínimo uma grande imbecilidade.

Porque, desculpem-me a obviedade, mas nem todo gordo é preguiçoso, nem todo gordo se alimenta mal, e nem todo gordo é doente. Eu ousaria dizer, aliás, que a maioria não é. Mas existe essa necessidade insana das pessoas de julgar o outro pela aparência o tempo todo, uma característica muito deprimente da raça humana, e por conta disso muitos gordos acabam desenvolvendo doenças, mas doenças emocionais, de baixa autoestima, depressão e afins, e em casos extremos até distúrbios alimentares graves que podem levar a conseqüências trágicas.

Eu mesma conheço muitos gordos extremamente saudáveis, e eu me incluo neste grupo. Nunca tive problemas de colesterol, ou triglicérides, ou qualquer distúrbio supostamente associado à obesidade. Mas sempre tive sobrepeso, desde criança. Meus exames periódicos são, por exemplo, muito mais equilibrados do que os de uma amiga magra que vive às voltas com colesterol alto. Conheço também muitos gordos, assim como eu, que praticam atividade física regularmente, tem disposição para correr, nadar, praticar esportes, dançar, sem que o sobrepeso lhes provoque qualquer impedimento, ao passo em que conheço muitos, MUITOS magros que nunca calçaram um tênis para fazer uma caminhada. E estes são apenas alguns exemplos.

A verdade é que, sim, há comprovação científica de que a obesidade pode aumentar o fator de risco para o desenvolvimento de algumas doenças, mas isso é apenas um dado estatístico que não pode e não deve ser considerado de maneira equivocada. Um gordo doente precisa se cuidar, eventualmente emagrecer, e para isso existem as alternativas que vão desde o uso de medicamentos de controle de apetite até medidas mais extremas como as cirurgias bariátricas e afins. Mas se o gordo é saudável e está feliz com o seu tamanho, ora! Há que ser deixado em paz!

Isso não é apologia à obesidade. Isso não é papo de gordo conformado. Isso é apenas o exercício máximo da autoestima, coisa que falta a muita gente obcecada pela estética e que por isso se submete a alternativas altamente contestáveis em busca do corpo perfeito que nunca terão!

Se há uma doença crônica – e muito grave – da nossa sociedade hoje em dia é justamente essa cegueira que impede as pessoas de enxergarem além do óbvio. Um culto excessivo ao corpo que faz com que os valores sejam distorcidos e a felicidade depositada naquilo que menos importa, que é a nossa casca.

Pessoas vazias, gordas e magras, que não conseguem viver em função de outra coisa que não seja o próprio corpo. Pessoas vazias, que não conseguem enxergar o outro como ele é, mas apenas como ele aparenta ser. Pessoas vazias, que têm um apego doentio à matéria, e esquecem de alimentar a alma.

Eu sempre bato na tecla de que precisamos mudar nossos conceitos. Precisamos enxergar o belo que há nas diferenças, precisamos enxergar as pessoas em seus contextos, e parar de querer jogar todo mundo na vala comum onde só pode sobreviver quem copiar o padrão.

 Santa falta de personalidade!

Cada um é o que é, tem o direito de ser o que quiser ser, e a beleza maior de uma pessoa, na minha opinião, está justamente na maneira como ela se valoriza dentro daquilo que ela é. Inclusive fisicamente.

Conheço gordinhas lindas cheias de sensualidade que param o trânsito por onde quer que andem, enquanto muitas mulheres recalcadas sofrem horas e horas na academia, passam fome a semana inteira, conseguem um corpo esguio mas nem assim conseguem se sentir belas e atraentes. Porque o padrão que elas buscam é praticamente inatingível; porque elas querem, na verdade, ser alguém que não podem ser. Isso sim é triste. Isso sim é doentio.

 Se eu faço apologia à alguma coisa aqui, queridos leitores, é apenas à autoestima. Porque, desculpem mais uma vez o clichê, mas a beleza verdadeira vem de dentro, a beleza verdadeira, pra transparecer aos olhos dos outros, precisa nascer na alma, na autoestima elevada, na compreensão daquilo que se é, na compreensão de que se somos todos iguais enquanto raça humana, somos também todos diferentes em nossas formas, e é justamente aí que reside a grande sacada da vida.

 Há que se ter personalidade. Chega de querer ser quem não somos. Chega de querer ser igual aos outros. Eu, por exemplo, não quero ser a Gisele Bündchen. Acho-a lindíssima, sem dúvida, mas quero ser apenas eu, a Dona Farta, e ser linda dentro daquilo que nasci pra ser. Experimentem vocês também!!!

Beijos Fartos!

Comentários

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8 comments

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Adorei!

Somos todos lindos… de maneira sempre particular, qual a graça em generalizar?

Beijos Querida e Congrats!

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Assino embaixo. E digo mais, com o aval do educador físico e personal trainner [e namorado]: peso não é saúde. Ele mesmo tem alunas que são “corpudas” [eu gosto dessa palavra, hehehe], e se alimentam direitinho, e malham direitinho, e são lindas. E não vão emagrecer mais. Já meu irmão é super magro, médico sedentário e hipertenso, vejam só.

Tamanho não quer dizer nada, minha gente. O importante é ser feliz com saúde, do jeito que se é.

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Antigamente diziam que “a beleza está nos olhos de quem vê”. Só que hoje, antes mesmo de alguém poder ver a beleza do outro prefere ver as diferenças achando que são ruins. Mas vejam só: a maior beleza está na diferença.

É só abrir a cabeça e deixar o mundo entrar. E logo depois se descobrir lamentando por perceber o tempo que perdeu fechando toda essa beleza do lado de fora.

Lindo texto, Dona Farta.

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Otimo texto!
Acho que a gordura incomoda mais os outros do que a propria pessoa, é triste!
Como diz aquela musica ” me deixe em paz” que amo…

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Adorei!
Falou tudo!!!!
Me vi em casa lerinha do que ela escreveu!

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Acho que a gordura incomoda mais os outros do que a propria pessoa, é triste. [2]

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ComentárioEu acho que é importante a pessoa se aceitar como obesa, mas não para permanecer gorda, e sim para ter a consciência de que obesidade é doença. Portanto, se ela se aceita e tem uma boa auto-estima, vai querer restaurar sua saúde. Pessoas obesas (doentes) e anorexicas (doentes) precisam se aceitar como doentes para poderem mudar. Sou totalmente contra conformismo com obesidade, pois obesidade é doença e doença nenhuma deve ser aceita, muito menos incentivada. Realmente, existe uma ditadura da magreza e existe SIM muito preconceito contra obesos que traz sim MUITO sofrimento a eles. Mas acho que o preconceito contra o obeso pode servir de “limonada” para que ele se esforce para emagrecer por questões de saúde…pense: se não existisse o preconceito contra os obesos, a maioria estaria aí, morrendo das doenças que a obesidade causa….obeso esperto é obeso que quer deixar de ser obeso. Não para ser aceito, mas para ser saudável. E se não fosse o incômodo causado pelo preconceito que eles sofrem, a maioria estaria acomodado, pois não é nada fácil emagrecer. Não acho que a obesidade deva ser incentivada nem aceita, pois é doença. Mas a exigência por um padrão de magreza inatingível é realmente um grande perigo e jamais deveria ser incentivado, pois excesso de magreza forçada também é doença. Eu acho que as pessoas deveriam aceitar suas imperfeições e as imperfeições dos outros, pois perfeito, só Deus. Um pneuzinho aqui, um quadrilzinho largo ali não mata ninguém e são só meras características, que deveriam servir de fator de subjetividade, já que padrão sugere pessoas iguais em larga escala….e é bem chato ver as pessoas perdendo suas identidades, não se reconhecendo mais no espelho, só pq tem que se enquadrar em um padrão para serem aceitas. Hoje em dia vc não vê mais pessoas com cabelos de cores e texturas naturais, pq as pessoas simplesmente se descaracterizam para se enquadrarem nesses tais padrões tão cruelmente cobrados. Concordo com vc sim, qdo diz que, em nossa sociedade, quem não pertence ao padrão estabelecido é simplesmente posto de lado, descastado. Seria muita hipocrisia dizer que não. Mas o ideal é que isso não existisse, ou fosse minimizado. Por isso, graças a Deus, existem as leis.
Existe preconceito contra gordo sim! É é uma ditadura tão cruel que nem sequer uma barriguinha pneuzinho de bicicleta é aceita com naturalidade. Até as pessoas com sobrepeso são tratadas como obesas. Não se pode engordar 5 kg que já virou mostro! Pura verdade! Imagine o que não fazem com os obesos mórbidos! Por isso as pessoas estão virando anorexicas ou se entupindo de remédios para emagrecer ou até mesmo se entupindo de coisas para ganhar músculo e arrebentando as articulações nas academias!
É realmente muito difícil a pessoa se aceitar sem nenhum incentivo, se aceitar vendo que ninguém a aceita. É fácil falar para o gordo não ligar, difícil é estar na pele dele! atualmente, nenhuma “imperfeição” é aceita! Essa é a verdade! Não existe respeito às características individuais das pessoas. Querem que as pessoas sejam cópias em larga escala de um modelo estabelecido pela mídia. As parcelas da sociedade que não se enquadram nestes padrões e que por isso são execradas devem lutar por seus direitos! Eu apóio tudo nesse sentido!

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Ninguém consegue todos os nutrientes de que precisa com uma alimentação baixa em calorias. Há alimentos indipensáveis como as oleaginosas, leguminosas, peixes gordos, óleos vegetais que são muito calóricos. E no entanto não se pode se abster deles. O que significa que a genética gorda, com uma uma alimentação completa e correta em nutrientes, vai engordar sim ! O problema é que há mais curandeirismo do que medicina neste país. Ciencia é somente para as civilizações sérias.

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