Acho que todo mundo já sonhou em viver no mais absoluto ócio. Não ter compromissos, deveres, obrigações. Fazer o que der na telha, na hora que quiser. Sem agenda, sem relógio, sem chefe, sem cronograma.

Mas, acho que só quem já viveu assim sabe o quanto isso se torna irritante. Terminei a faculdade em dezembro. Aproveitei as “férias escolares”, mesmo que elas já não existissem, e passei a me preocupar com minha vida apenas depois do carnaval: Quase março.

Não posso reclamar dos dois primeiros meses. Os sonhos ainda estavam vivos, ainda acreditava em meu potencial, os “nãos” ainda não eram tão constantes. Até o meio do ano já estaria empregado. Enquanto isso, faria alguns cursos, escreveria para meu blog, para o Grandes Mulheres, twittaria profissionalmente, expandiria meus contatos profissionais e tudo iria caminhando.

Nada, ou muito pouco, do planejado aconteceu. A inércia foi tomando conta da minha vida. A falta de horário para dormir, para acordar, para fazer refeições, para tomar banho resultou em um dia de 24 horas mal utilizadas, que passam em um piscar de olhos. Além disso, a má alimentação e a falta de exercícios físicos por causa de um problema no joelho (adquirido no carnaval) resultaram em um ganho de peso.

Tentei disciplinar-me, me colocar uma rotina, fazer uma agenda, um cronograma, ter horários. Ser meu próprio chefe. Pedi demissão em uma semana. O estilo de vida “Seu Madruga” tomou conta de mim. E claro, ficar em casa o dia inteiro significa comer o dia inteiro.

Da cama para o computador. Do computador para a cozinha. Da cozinha para o sofá. Do sofá para o banheiro. Do banheiro para o computador. Do computador para a cozinha. Da cozinha para o computador. Do computador para a cama.

Junho chegou, e com ele a Copa do Mundo. Mudei-me para a África do Sul psicologicamente. Assistia a todos os jogos, a todos programas de debate futebolístico, respirava futebol 24 horas por dia. Quando a Copa acabou já era Julho, mais umas “férias escolares” pra eu aproveitar.

Passei agosto esperando setembro. Vésperas de eleições, havia a esperança de conseguir emprego em alguma campanha para deputado. Mandei meu currículo para todos os candidatos a deputado federal e estadual de um partido político que tenho certa afinidade. Obtive duas respostas, quando falei que tinha pretensões salariais fui descartado. Mais esperança despedaçada. Enquanto isso, quem se formou comigo vai conseguindo emprego. Enquanto isso, quem se formou em qualquer uniesquina consegue emprego.

Não tem como segurar a autoestima. O que estou fazendo de errado? Será que sou tão incompetente assim? Será que meu currículo é tão ruim assim? Tá certo que não fui nenhum aluno exemplar na faculdade. Não fiz estágio, não fiz iniciação científica, não participei de muitos projetos. Mas mesmo assim…

Quando me olho no espelho vejo os quilos a mais. Mais autoestima que desaparece. Sou só um e não tenho tanta força de vontade para: manter uma rotina sem ter o que fazer, ter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos, mandar currículo, enterrar o passado, viver o presente, planejar o futuro. Poxa, esse papo de virar adulto é mesmo um saco!

Ainda mais quando você não sabe se escolheu a profissão certa. Vivo em crise com o jornalismo. Vejo a grande mídia atual e me enojo. Não quero seguir isso, não quero trabalhar nisso. Será que eu quero ser jornalista mesmo? Já pensei em prestar ciências sociais, mas penso: “Passar quatro anos dentro de uma faculdade para ficar desempregado (ou subempregado) com dois diplomas?

E o pior de tudo é ter que sempre responder perguntas como: “Arranjou alguma coisa?”, “Mas você está mandando currículo?” Não! Estou super feliz em casa, engordando, vendo o tempo passar enquanto eu assisto a todos os filmes da “Sessão da Tarde”.

Comentários

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2 comments

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Muito bom o post, é real. Eu acho que esse tipo de depoimento – que não foca na solução – é muito reconfortante para qualquer jovem que sai da graduação, porque afasta um pouco a solidão que sentimos nesse momento da vida. Ao contrário da época do vestibular, quando tínhamos nossos amigos ao nosso lado nos estudos, me parece que nessa fase estamos sozinhos com nossas angústias e pressões sociais. E o medo vem de todos os lados: da família, dos amigos e, mais grave, de nós mesmos.

Não adianta o quanto eu me esforce para não perguntar para meus recém formados amigos se estes conseguiram alguma coisa, no final alguma coisa vai se conseguir, sendo feliz ou não.

Por isso que eu acredito que o mais importante é se conhecer, e dar um jeito de fazer o que você gosta – pelo menos na maior parte do tempo. Porque no final, alguma coisa você vai ter que fazer. E se não for agradar os olhos da família e dos amigos, que pelo menos tenhamos coragem de nos agradar, e ser ligeiramente felizes.

Boa sorte para todos nós.

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Concordo, o ócio é a pior coisa…ficar na frente do computador vicia e muito!!!
Eu continuo estudando apesar de ter terminado a facul…isso me faz bem, mas foi terrível aguentar 2 meses de férias.
O mercado de trabalho tá concorrido demais…e muitas pessoas com um currículo enorme de boas referências, além do quesito “sorte e QI(quem indica).

Mas tem q ter força de vontade pra mudar o rumo da vida…
Crescer é tão chato!!!

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