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Lembro como se fosse ontem, daquelas conversas aparentemente corriqueiras que ficam pra sempre na nossa mente. “Teve um acidente e um pessoal caiu numa ilha, e eles tentam sair de lá e não conseguem. E tem umas coisas estranhas na ilha, tem um pé gigante na beira da praia com quatro dedos e tem um barco no meio da floresta”.

Foi assim que um amigo me descreveu durante um churrasco o que era Lost, há seis anos, lá em 2004.

Tamanha empolgação e nonsense na descrição da história me estimularam a assistir o primeiro episódio. E o segundo, o terceiro, e até agora os outros 117 episódios da série. Todo meu lado nerd de ser nunca me fez parar de assistir as aventuras da ilha de Lost.

As primeiras temporadas assisti em DVD, desde a terceira temporada nunca mais vi Lost na TV, sempre no computador. Desde a última temporada assisto no máximo no dia seguinte a exibição da série nos Estados Unidos. Entre uma temporada e outra, assisto uns episódios aleatórios, leio coisas sobre a série, novidades das próximas aventuras na ilha.

E todo esse interesse só por causa dos mistérios? Pra saber o que é a ilha? Esse pode ser o primeiro mistério, mas Lost é muito mais que isso.

Nunca antes acompanhei um seriado tão bem escrito, tão completo, tão cheio de intersecções dentro da série e fora dela, com as infinitas referências culturais de todos os tipos.

Pra quem gosta, Lost não acaba nos quarenta minutos semanais dos episódios, vira assunto nas rodas de discussões entre os amigos, e vai para a internet, para as redes sociais, para a Lostpedia para esclarecer dúvidas sobre a série, entender o que acontecia na ilha e  degustar Lost ao máximo. Isso espontaneamente, sem contar o estímulo dado pelos produtores e diretores, que pensaram em Lost como um produto transmídia, produzindo conteúdo para a internet, celular e jogos de realidade alternativa, com direito a importantes resoluções de mistérios da ilha.

Entre os méritos da série está a mudança do comportamento das pessoas e da indústria do entretenimento nas transmissões de seriados de TV. Desde sempre, um episódio de seriado americano demorou meses (até anos) para chegar ao Brasil nas TVs a cabo, sem acesso pra todo mundo.

Em tempos de internet banda larga, redes sociais e a ansiedade à flor da pele dos espectadores, isso caiu por terra. Os episódios passaram a ser gravados pelos americanos e disponibilizados para download na internet. Isso podia até já existir, mas com Lost o costume se intensificou e hoje, ninguém mais precisa da TV para assistir a qualquer seriado.

Tudo isso junto com um perfeito, que mescla todos os mistérios da ilha e as mais diversas referências científicas e culturais com as mais lindas relações humanas. Os conflitos entre os personagens, seus amores e ódios são tão bem amarrados que dão o detalhe humano perfeito para o seriado ser sensacional.

Por tudo isso, Lost é sensacional,  um dos mais perfeitos produtos da cultura pop mundial e vai deixar saudades, muitas saudades! Foram seis anos acompanhando os mistérios, resoluções, conflitos e as relações construídas entre os personagens. É triste saber que o dia 23 de maio de 2010 ficará marcado na cultura pop como o dia da exibição do último episódio de Lost nos Estados Unidos. Mas tudo tem um fim. O fim.

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