Ai gente, lá vou eu fazer o momento desabafo.
Hoje minha janelinha do MSN subiu com uma observação da @AliniBiomed. Indignada, ela perguntou se eu havia visto um post no site Chic, da Glória Kalil. Eu disse que não e fui ver o que estava acontecendo. No post, entitulado de “Sem noção 2”, há a foto de uma mulher gorda usando um vestido curto, de malha rosa e sem forro. Comecei a me preparar no que iria ler, pois Alini parecia revoltada, mas estranhei, pois Glória sempre foi muito delicada e “chic”, até mesmo para falar de temas delicados.
Comecei a ler e me deparei com as seguintes frases que me chocaram:
No entanto, você vê nas ruas pessoas usando peças que mostram tudo o que elas têm de mais complicado, como se fizessem questão de piorar o que já não é grande coisa.
Andando por uma das grandes avenidas de São Paulo, vi na minha frente uma mulher com um dos maiores quadris que já vi na minha vida. Pois sabem o que ela estava vestindo? Um vestido curto de malha rosa claro, bem justo, sem forro nenhum!
Será que essa mulher não tem uma amiga, uma irmã ou um espelho para impedir que ela cometa essa maldade com ela própria?
Bem, eu li e me choquei. Aí uma leitora do GM veio me dizer no Twitter que as pessoas têm mania de vitimização. Sim, eu concordo, principalmente quando se trata de mulheres gordinhas – a gente tem a mania de se depreciar e se colocar para baixo – mas neste caso, não foi vitimização. Foi falta de delicadeza e má escolha das palavras mesmo. Como jornalista que escreve para um público de mulheres gordinhas, posso dizer que, a cada texto que faço, penso muito bem nas palavras e na construção que usarei para falar de temas que muitas vezes são complexos. Até hoje – e eu me orgulho de dizer isso – nunca recebi nenhum xingamento ou crítica em relação à forma como trato dos assuntos aqui no GM, muito pelo contrário: ouço vários elogios por saber como expor as coisas sem ofender à ninguém.
Mas por que eu talvez consiga fazer isso? Porque eu sou gorda. Porque eu vivo neste corpo desde que nasci e porque eu sei das dificuldades que uma mulher obesa ou com sobrepeso enfrenta. Eu sei onde o calo aperta e onde a ferida sangra. A Glória e outros jornalistas talvez não saibam e talvez não se importem em saber. Não, eu não sou perfeita e nem sou uma jornalista excepcional, mas eu tenho uma preocupação e um carinho enorme por quem me lê e minha intenção sempre foi a de ajudar a melhorar a autoestima de mulheres que, assim como eu, se sentem massacradas diariamente pelos olhares e comentários maldosos e pelas araras das lojas de roupa que quase nada oferecem a quem usa um manequim acima do 44.
O que pensam essas pessoas, afinal? Falar de moda para quem usa 38 é muito fácil. Fazer roupas para quem usa 38 é muito fácil. E o resto das mulheres do mundo que não se encaixam nesse padrão e que, chutando, diria que são uns 80% da população mundial? O que é que vocês fazem com a gente, hein, jornalistas, comentaristas, produtores, críticos, estilistas e todo mundo que trata de moda? Como eu disse à Glória no comentário em que deixei no post: o real desafio não é ensinar uma mulher gorda a se vestir. Isso seria posterior ao desafio da indústria da moda deixar o preconceito de lado e começar a produzir roupas que vistam diversos manequins. Quem é que encara este desafio? A moda plus size brasileira engatinha com lerda movimentação e pouco dela vemos por aí. Quem ainda tem o privilégio de morar nas capitais encontra algo, mas e quem não mora?
Não vou me delongar neste post. Essas coisas realmente me cansam e acho que resumi muito bem meus pensamentos sobre o assunto no comentário que deixei no post dela. Coloco aqui para a leitura de vocês. Vim desabafar porque o post está bombando e muitas pessoas estão comentando. Quem me conhece sabe que não consigo ficar calada. Pois eu me decepcionei e espero, que de alguma forma, tantas pessoas se manifestando negativamente ao texto de Glória façam com que ela, que é uma personalidade do mundo da moda, reveja seus conceitos e faça melhor uso das palavras quando for tratar de temas delicados.
7 comments
Alini
Sim, fiquei revoltada…. pois não é “chique” ser preconceituosa com as pessoas.
Quando eu li..não acreditei que uma pessoa pública como a Glória Kalil (que é super culta), iria abordar esse assunto de uma forma tão grosseira.
A moda para nós gordinhas aqui no Brasil se resume em “roupas de senhora e cores neutras”, mas graças a Deus, algumas marcas nacionais estão mais dedicadas com nós fofíssimas.
Beijossss
Tati Lopatiuk
Fiquei chocada com este post da Glorinha. Nunca achei que ela fosse das mais gentis, mas delicadeza é o mínimo para tratar deste assunto! Seu comentário no blog foi perfeito e endosso o que você disse: “Falar de moda para quem usa 38 é muito fácil.” Nem em revistas bobinhas como Capricho, com o tradicional “Certo Ou Errado”, vi algo tão ofensivo. É de se espantar o chauvinismo da Glória.
Ana Maria
Paula, adoro seu blog e venho acompanhando. Também faço parte do time das Plus Size. Vi o twitt e fui ver do que se tratava. Concordo com você e demais leitoras que se queixaram que ela deveria ter escolhido melhores palavras, que algumas delas até soaram um pouco ofensivas e compreendo a revolta. Ela enquanto jornalista deveria ter tomado esse cuidado antes de publicar. Mas também acho que não devemos levar isso pro lado pessoal, ou achar que o ataque foi feito pela moça em questão ser gordinha. O post dela é uma crítica a mulheres mal vestidas, aliás, função que normalmente a Gloria Khalil exerce, a de criticar mal comportamento, ou mal vestimenta. Esse Sem Noção é o nome da coluna, chequei a edição anterior e ela fazia comentários duros a uma moça magra que deixava o soutien a mostra. O que muitas vezes me incomoda, e acaba sendo uma postura que gostaria que todos que se sentem excluídos ou algo assim tomassem, é não tomar as críticas como uma ofensa pessoal, é não se fazer de coitadas, mas sim cada vez mais mostrar o que há de bom e especial em nós. Não sou nenhuma advogada da Gloria Khalil, nem aqui quero prestar esse papel, mas acho que se fosse assim, a moça do soutien foi igualmente ofendida, se formos analizar desse modo. E acredito que muitas de nós gostamos e lemos colunas de certo e errado, que normalmente são uma boa pra ver erros que as vezes nos passam despercebidos. Eu enxerguei naquele post uma crítica a roupa que não ficou legal na moça (e ó deus, nós sabemos como é difícil comprar roupa!) e até sugeriu o que, ou qual cor ficaria legal.
Bjs
Fabio Rodrigs
O problema é que, com certeza, muita gente pensa a mesmíssima coisa que a “Glorinha” pensaescreve, apenas tem a “delicadeza” de não expor, numa tentativa estranha de mostrar-se ético ou sensível aos menos privilegiados (de acordo com padrões).
O que esperar de uma senhora que inclusive, ja teve a deselegancia de ensinar a comer com 345 talheres e louça de porcelana na TV às 13hs, quando muita gente acabara de almoçar humildemente em seus pratinhos de vidro e talheres de aço inox.
Mas fica a questão: Quantas de vcs, gordinhas, querem viver assim pra sempre? se não querem, é porque concordam que gordura não é “uma boa”, se não é uma boa, não ha porque discordar do que a mulher disse…right?
=
Andrea
Complicado…e fácil falar quando se está dentro da bolha do padrão que pois outros são sem noção…mas onde está a noção dela de respeito ? Não existe nada igual no mundo.
Cléo Fernandes
Em poucas palavras, vc arrasou…depois do q vc disse n tenho nadinha a dizer…assino embaixo!
Ah, obrigada pela visita linda, e por colocar meu blog aqui! Fiquei mt feliz!!! Me senti lisongeada!!!!
Beijosssss =D
Cléo Fernandes
BBB Fan
Vai gordinha! Estou torcendo pra você no BBB!