Nossa geração conseguiu se desenvolver com a “maneira fast e pronta” de viver a vida. Tá com fome? Pega fast food ou delivery. Quer a roupa da moda? Passa numa loja de departamentos que a última tendência está por lá também. Não gostou do emprego novo? Sai e parte para outro. Seu curso da faculdade ficou chato? Tranca e escolhe outro! Está se sentindo sozinho? Use um aplicativo de paquera que é rápido para chamar a atenção de alguém e o sexo acontece feito delivery: chega na sua casa, você come e acaba. A diferença é que você não precisa pagar, embora às vezes conquistar um indivíduo envolva algum gasto. Horrível ler isso, né? Mas é como as coisas estão agora: nossa geração é completamente diferente da geração dos nossos pais. Eles sabiam esperar, sabiam batalhar pelo o que queriam, sabiam persistir porque entendiam que a vida era feita de altos e baixos e, mais importante (devo ressaltar, em minha opinião): eles sabiam o que queriam. A geração atual cresceu mimada, sem saber esperar e com artifícios para tudo. Passa no fast food, no fast fashion, usa o aplicativo, silencia, dá block, mute, desfaz a amizade. Sempre existe um jeitinho pra tudo, há uma artimanha para cada situação, afinal tudo tem que ser rápido, do jeito que eles querem e sem dar muito trabalho.
A “geração fast” quer coxinha, mas 30 segundos depois quer o kibe. Fica olhando o cardápio, indecisa. Pede o kibe. Um minuto depois se lembra que tinha esfiha e quer trocar. Liga no delivery, faz toda uma confusão. A comida chega, você come. Não se sente satisfeita porque, desde o início, o cérebro apontava para a coxinha, mas se deixou envolver pela foto do apetitoso kibe. Outro dia você liga e pede coxinha. Fica por isso mesmo. As pessoas são volúveis, indecisas, não conseguem ter paciência, esperar, persistir; são impulsivas, não sabem controlar as emoções, tampouco os desejos da carne e se envolvem em ciladas emocionais porque não sabem nem o que querem. Na verdade acham que sabem, se julgam muito espertas: são aproveitadoras de oportunidades porque, o importante, é sempre viver a vida. Não funcionou? Não deu certo? Parte pra outra! Isso tem sido aplicado em empregos, amizades, escolhas de carreira, de lugar para morar, relacionamentos e, basicamente, em tudo. Essa geração aprendeu que a vida tem um mecanismo rápido para conceder seus caprichos e assim vai, deliberadamente, pulando de galho em galho buscando algo que nem sabe o que é, sempre na tentativa de suprir um vazio que sente lá no fundo da alma, mas que não gosta de contar a ninguém. A única coisa que essas pessoas sabem é que pular é preciso, pois ficar no mesmo lugar não está com nada. Persistir é um erro, coisa de gente boba!
Young people using smartphone de Shutterstock: http://goo.gl/iy8qK7
Os verbos “ficar e permanecer”, para mim, são tão fortes que eu tenho “STAY” tatuado na costela porque ele, em inglês, tem esses dois significados. Não consigo me encaixar na “geração fast”, embora eu, tecnicamente, faça parte dela. Sou dessas pessoas que sabe exatamente o que quer, como quer e que entende que tudo na vida tem um tempo. As coisas não se desenrolam do dia para a noite e eu quero quantidade, quero qualidade. Com a geração fast e os avanços tecnológicos surgiram as mídias sociais e os aplicativos. Entre no Tinder, escolha um livro pela capa, colecione “likes” para se gabar para os amigos, contabilize com quantos caras/garotas você saiu e faça um placar. Quanto de “sexo delivery” você fez? Ligou, marcou, pegou. Intimidade, romantismo, amor não vendem, não chamam a atenção. Quase ninguém quer se relacionar. Você fala a palavra “namoro” e as pessoas solteiras ao redor arrepiam, principalmente os homens. As mulheres também já estão desiludidas, não acreditam mais nos sentimentos e assim a geração fast segue, pulando de cama em cama tentando saciar a carne e dormindo com o coração vazio. Essas relações funcionam para algumas pessoas, é claro, mas a maioria, no fundo, ainda se dói com o vazio depois de uma transa sem sentimento, sem cumplicidade, sem intimidade. Fica aquele oco, aquele sentimento de uso e abuso, mas foi consentido e aí você se sente ainda pior porque, afinal de contas, você se doou porque quis: ninguém te obrigou, mas no fundo você se doou esperando que algo acontecesse ali, mas em 99% dos casos nada acontece porque como é que alguém vai dar aquilo que não tem?
Hoje as pessoas supervalorizam o sexo. Se você fica sem fazer por um tempo vira motivo de piada e logo seus “amigos” querem arrumar justificativas para a sua seca. Aí você acha que é a sua aparência, a sua personalidade. Talvez você seja feia, chata, boba. Você instala um aplicativo, sai com um cara, transa com ele e volta para casa se sentindo um lixo: vazia, usada, oca. Esse cara não vai te dar o que você deseja e provavelmente ele vai sumir no dia seguinte. Se ele não sumir completamente é porque está te guardando para ser “step”: sabe como é, quando a necessidade bate é importante ter alguém por perto para aliviar o desejo carnal. O sexo virou uma grande indústria: é preservativo de tudo que é jeito, é motel que tem lustre pra você pendurar em cima, é vibrador que pisca e gira, é lingerie assim e assado. Somos bombardeados com essa ideia que transar sempre e transar muito é preciso, que quem não transa é um perdedor(a), um coitado(a). Sexo virou um deus, a melhor válvula de escape e tem até um ditado que diz que “sexo até quando é ruim é bom”. Sério mesmo? Para mim quando é ruim é ruim mesmo! O sexo foi supervalorizado e superestimado. E aí te pergunto: como você se sente quando você transa com uma pessoa e é uma merda? Sua carne fica satisfeita, mesmo o cara tendo feito a função de encaixar o pênis dele onde deveria? Talvez você até goze, mas isso é o suficiente para que você se sinta aliviada, feliz, plena e satisfeita? Creio eu que, em 90% dos casos a resposta será não. O que você queria, no fundo, era alguém que se importasse com você: tanto na cama quanto nas pequenas coisas do dia a dia e isso, dificilmente, um cara de aplicativo vai te dar.
Passionate couple kissing de Shutterstock: http://goo.gl/KQP5pI
Escrevi tudo isso porque como eu trabalho demais e mal saio de casa, incentivada por amigas, acabei entrando no mundo dos aplicativos para ver qual era. Me arrependi bastante. Caras que não conversam, que parecem colecionar likes ou que, então, marcam de sair com você, saem e no dia seguinte agem como se nunca tivessem te visto na frente são os tipos mais comuns. Conheço gente que se deu bem e conheceu gente legal? Sim, mas são exceções. O que me motivou a escrever este texto foi alertá-las para as ciladas emocionais. Não importa há quanto tempo você não beije ou não faça sexo: não se doe para qualquer cara que te enviar um emoticon porque as chances dele ser um escroto da geração fast que está procurando sexo delivery é muito grande e você não precisa disso. E ainda existe aquele tipo que adora gordas porque pensa que somos carentes e topamos tudo e, por isso, às vezes nos tornamos “presa fácil”. É preciso ter muita inteligência emocional para lidar com essas situações, mas o que eu quero te dizer com tudo isso é para você não se deixar levar pelos impulsos da “geração fast” e ser fiel ao que você é e busca no seu íntimo. Não ceda à pressão da sociedade e não fique com alguém por ficar se você realmente não for super de boa e mega desprendida porque o vazio que você sentirá depois é infinitamente superior ao momento de prazer que você teve – e às vezes o sexo casual é tão ruim e tão sem conexão que nem prazer existe. Você não tem que dar satisfação da sua vida para a sociedade, pois o que vale é estar em paz consigo mesma, sendo fiel às suas verdades. Não ceda à pressão, pois no dia seguinte não é a sociedade que vai viver dentro do seu corpo, da sua alma e sentir aquele oco.
12 comments
Tatiane
Muito boa a abordagem!!! Penso exatamente como vc!
Paula Bastos
Tati, fico feliz que tenha gostado do texto e da reflexão!
Um grande beijo
Luana
Belas e sábias palavras … Hoje em dia eh tudo pra ontem, tudo indeciso, tudo vazio.
Onde estão aqueles que pensam “fora da caixinha”, que estão fora dessa margem?
Adoro seu blog!
Paula Bastos
Lu, muito obrigada pelo comentário. Infelizmente é bem isso que você disse!
Beijos
Ana Paula
Parabéns pelo texto. Muito verdadeiro e claro. Só não vê a realidade que estamos vivendo quem não quer e tem medo de se deparar com o vazio de sentido nas coisas em que fazemos. Admiro muito seu trabalho e me identifico com ele. Continue, precisamos de pessoas como você para fazermos uma sociedade diferente.
Paula Bastos
Ana, muito obrigada por suas palavras! Exponho o que sinto. Sei que muita gente não concorda com minha visão, mas escrevo sobre o que penso e vivencio e é legal saber que minhas reflexões tocam o coração de outras pessoas. Obrigada pelo carinho! Beijo grande
Ama
Nossa acho que este foi um dos melhores textos que li ultimamente. Me reconheci. Tb entrei na onda dos app motivada por amigas e só me decepciono.
Paula Bastos
Tá complicado, viu? Você não é a única, infelizmente!
Bianca Lemos
Me identifiquei muito com esse texto, Paula. Para mim as coisas pioram um pouco porque tenho 38, então nem sou dessa geração fast, mas sou de certa forma obrigada a conviver com ela.
Eu nunca gostei de fast-food sexual. Nada contra quem gosta, mas todas as vezes em que eu fiquei com um cara que mal conhecia, só porque minhas amigas faziam o mesmo, eu voltava para casa me sentindo mal. Eu fazia muito isso na adolescência e passei por cada cilada, que teria sido muito melhor eu nem ter beijado ou transado. No final das contas, isso nem valeu a pena, não é o que eu guardo até hoje. O depois, o lado ruim, é sempre mais marcante.
Eu prefiro ficar com quem tenha afinidade, já tendo um mínimo de interesse pelo homem e isso não acontece após uns likes, leva um tempo maior para conhecer alguém com quem valha realmente ter intimidade. Adicionando a essa conta o fato de eu ser gorda, então me expor para um babaca qualquer realmente não vale a pena, é cansativo ter que lidar com as idiotices depois, com aqueles que te querem na cama, mas não para apresentar aos amigos.
Enfim, o lado bom de não fazer tanto sexo com outros (porque sozinha orgasmos também existem, viu meu povo?!) é que a gente aprende a se curtir mais, a gostar de outras coisas, a ir em uma festa e realmente se divertir, porque não faz diferença se a gente vai “marcar ponto” ou não. Tem muitas outras coisas legais de verdade nessa vida e o que descobrimos sozinhas nos torna até mais interessantes para quando surgir um cara que realmente vale a pena conhecer.
Camila Duart
Realmente o mundo virtual está tomando conta das relações amorosas…
Esses dias estava vendo um blog que dava dicas para mulheres de como seduzir um homem na cama , que na verdade, só dava dicas de como mandar mensagens quentes por whatsapp!!
Ou seja, o contato físico e a sedução de verdade são meros detalhes…
Preferia do jeito antigo!!
Mariana Ceola
Paula, cheguei até seu blog por meio do Coisas de Diva e me encantei com suas palavras e principalmente com seus textos que fala de auto estima,beleza e felicidade.
Fico feliz, por me ajudar a perceber muitas coisas, que as vezes é tão difícil ver!
Obrigada e Parabéns!
Adorei esse texto, reflete o que realmente acontece!
Você foi muito feliz em suas colocações.
Beijinho *.*
Paula Bastos
Oi Mari!
Seja muito bem-vinda ao meu cantinho. Falo bastante de autoestima porque é tão difícil desenvolvê-la nesses dias de hoje sendo massacradas por tantas imagens e informações da mídia, mas a gente chega lá, pois nada como ser feliz em sua própria pele!
Um beijo grande e espero que volte sempre <3