Preocupação excessiva com a higiene (seja da casa ou pessoal), organização compulsiva e pensamentos obsessivos ligados à religião são as principais manias que podem evoluir para o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
O paciente geralmente inicia a doença com manias consideradas normais e toleráveis. No entanto, com a evolução da doença, novas manias e pensamentos obsessivos são cotidianamente praticados pelo indivíduo. O normal torna-se absurdo. O portador da doença passa a ter necessidade de manifestar determinadas ações compulsivas para se sentir aliviado, mesmo que momentaneamente.
As obsessões ou compulsões são prejudiciais para o desenvolvimento da vida do doente. O TOC acarreta estresse e interfere no trabalho, nas atividades sociais e nos relacionamentos entre as pessoas. Recente pesquisa aponta que 25% dos portadores da doença algum dia tentaram suicídio.
O TOC ainda se apresenta como um mistério para os psiquiatras e, portanto para toda a sociedade. É importante lembrar que as pesquisas a respeito da síndrome apostam em causas neurobiológicas e ambientais, mas ainda não há cura. Ser diagnosticado como um portador de TOC é encarar a doença e tentar manter-se estável, pois a doença acompanhará o indivíduo por toda a vida.
A forma de tratamento mais eficaz para a possível cura ou controle da doença é a junção do uso de medicamentos – antidepressivos e ansiolíticos – e a Terapia Cognitiva Comportamental. A intenção da terapia é reavaliar e corrigir os pensamentos do doente. O paciente deve aprender a dominar problemas e situações anteriormente consideradas insuperáveis.
Depoimento
L.S, 21 anos, começou a sentir os sintomas do TOC ainda na infância. Veja o depoimento do jovem sobre a doença e como ele conseguiu mantê-la estável.
” Eu comecei a perceber alguma coisa estranha em mim quando eu era criança e ficava com manias do tipo escrever e apagar a mesma coisa umas 10 vezes, pisar nos quadrados da rua alternadamente e muitas outras. O maior problema era que, se eu não fizesse esses rituais, eu ficava mal. Com o tempo, também começou a afetar a parte religiosa. Eu tinha que rezar várias vezes e, sempre em frente às Igrejas, eu me “benzia”. E isso só foi aumentando até chegar num ponto em que eu acreditava que iria literalmente pro inferno se eu não pensasse em Deus 24 horas por dia. Foi aí que meus pais perceberam e me levaram para uma psiquiatra, que me diagnosticou com TOC. Logo após a confirmação da doença, fiquei bem pior, a ponto de não falar, andar, assistir à TV por considerar pecado. Depois de aproximadamente cinco anos, parei de tomar remédio e hoje consigo equilibrar as manias, mas não sempre. Às vezes eu tenho recaídas, mas agora já sei como controlar melhor.”
*Letícia Ginak e Danielle Mota são jornalistas formadas pela Universidade Estadual Paulista. A matéria faz parte de um suplemento sobre doenças da contemporaneidade.