C&A, que decepção!

Talvez o meu timing esteja um pouco atrasado para falar da nova coleção da Preta Gil para a C&A e, embora não tenha tido a oportunidade de escrever sobre o assunto no mesmo instante em que a revolta das pessoas veio à tona, senti a necessidade de me pronunciar.

Quem realmente acompanha o blog sabe o quanto compro na C&A, o quanto indico a loja e o quanto gosto do trabalho deles. Quase em todos os meus looks do dia tem pelo menos alguma coisa da marca. Sempre achei a C&A a melhor loja de departamentos, pois era onde eu mais conseguia encontrar coisas pra mim. A loja do Iguatemi, em São Paulo, sempre tem muita coisa boa e eu dava sorte de achar várias peças que me servissem porque, como trabalhei por dois anos em frente ao shopping, passava na C&A pelo menos umas duas vezes por semana para garimpar e, assim, fui recheando o meu guarda-roupa.

A gente que bloga, que batalha pela democracia da moda e por mais coisas referentes ao “universo plus size” comenta que as coleções da Preta Gil são sempre mais do mesmo. Nunca tem uma novidade legal e as peças não são exatamente bem feitas. A discrepância de tamanhos é absurda e eu até comentei em detalhes os problemas que detectei na primeira coleção lançada aqui no blog, sem contar que nem são todas as C&As que recebem essas peças, levando milhares de mulheres à frustração por gerar o desejo e não disponibilizar a roupa para elas sequer provarem.

Não faço ideia de como algo tão absurdo foi feito com o corpo de Preta Gil em uma das fotos – que é a que está causando o maior frisson –, mas nas demais também se observa o uso excessivo do Photoshop. Preta está quase branca nas fotos, as sombras estão artificiais e afinaram o corpo da cantora em todas as imagens. Agora a pergunta é: se essa coleção é para o público plus size e se Preta se deu ao desfrute de ser a “garota propaganda” de uma campanha para gordas, por que usaram tanto photoshop assim? Por que usar efeitos de luz a ponto dela ficar praticamente branca e por que tentaram deixá-la mais magra?

Cadê o outro recorte no ombro? O que fizeram com o ombro dela que tá deformado e parecendo um trapézio ou um protótipo do Corcunda de Notre Dame? E essa ele branca? E esse rosto afinado? E o corpo que não condiz com as medidas reais dela…se quiser ler os comentários de chacota na página da C&A, clique aqui!

Infelizmente não tenho muito conhecimento da área de Publicidade para dizer algo certeiro e embasado em pesquisas, mas já ouvi comentários de profissionais dessa área que “gordas e negras não vendem” porque não trabalham o aspiracional das pessoas. Aspiracional? É sério? Tenho nojo de viver em uma sociedade em que os interesses das empresas sejam tão poderosos a ponto de criarem desejo para algo que 90% das pessoas não poderão ter ou ser, fazendo com que muitas passem a vida frustradas por passarem a vida tentando ter aquele tipo de beleza ou possuir aquele tipo de bem. O capitalismo é movido pela infelicidade de uma sociedade. É um gigantesco ciclo vicioso.

O que me intriga, nisso tudo, é que Preta é uma pessoa que sempre gerou muita controvérsia no universo plus size por já ter dado muitas declarações negativas no passado sobre essa questão do peso e, até onde sei, a grande maioria das mulheres gordas não a curtem justamente porque sentem que ela não as representa. Tenho nada contra ela, que fique claro, só estou dizendo o que sempre ouço das pessoas por aí porque eu trabalho há anos para o segmento plus size e fui uma das primeiras no Brasil a me envolver com isso. Por que a C&A não escolheu uma pessoa que realmente nos representa, como Fluvia Larcerda, por exemplo, que está sempre lutando para melhorar o segmento de moda plus size nacional?

Não sei quem faz as pesquisas de mercado para a C&A e acho que essas pessoas sequer estão tendo o trabalho de pesquisar o que o público plus size quer, precisa, pensa e etc. Sabe, é aquela coisa assim: vamos fazer qualquer porcaria aí só pra dizer que tem. As roupas são sempre mais do mesmo e não, não digo isso por se tratar de uma loja de departamentos. A C&A tem roupas lindas e bem diferentes para as mulheres magras, sem contar nas mil coleções especiais que tem lançado e que só vestem até o 44. Por que não pensar em oferecer ao menos algumas peças da grade convencional até o tamanho 56? Juro, pra mim às vezes é muita burrice e essas pessoas sequer procuram ouvir o que quem realmente está no mercado e entende do assunto tem a dizer. Vocês se lembram do caso da decepção com a Marisa? Meu texto repercutiu como pólvora, agora, pergunta se eles quiseram me ouvir depois de tudo o que eu disse para saber como as minhas percepções poderiam ajudá-los a melhorar? Tão lá, até hoje, fazendo as roupas mais ridículas que vivem paradas nas araras porque ninguém vai comprar algo horrível pra vestir.

As gordas de hoje em dia têm informação de moda, sabem o que querem e a maioria procura se informar. Se as revistas de moda ignoram esse nicho, há blogs bons tanto no Brasil quanto no exterior que oferecem dicas de como se vestir, do que usar e das tendências. Hoje a informação chega e as mulheres não são mais privadas desse conhecimento de moda. Enquanto blogueiras e alguns outros profissionais batalham para que exista uma moda democrática no Brasil, o mercado continua ignorando o fato de que temos poder aquisitivo e de que temos condições de gastar para nos sentirmos lindas tanto quanto qualquer outra mulher. Eu já disse isso tantas vezes que só estou esperando alguém encher um auditório com esses donos de empresa, me dar uma lousa e um megafone para eu começar a desenhar e explicar.

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