O que é o preconceito para você? Ultimamente tenho percebido que ele pode ser muito mais sutil do que imaginamos e que muitas vezes vem disfarçado e chega de mansinho, como quem não quer nada e, quando você vê, já está lá, entregue a ele, sem nem ao menos perceber o que está acontecendo.
Hoje em dia o “movimento plus size” vem crescendo. Que coisa bonita! Todo mundo fica feliz, ganhamos voz, espaço e nos engajamos em uma causa que achamos nobre, bacana. Mas o que muita gente ainda não percebeu e que, outras – talvez mais conscientes estão sacando – é que há sabotagem e preconceito dentro do próprio movimento. Sim, gorda que tem preconceito com outras gordas. Porque afinal, o que é ser gorda hoje em dia, minha gente?
Ai que esse “movimento” é criado e claro, a sociedade precisa de rótulos. Porque sim, se uma menina que veste 44 se sentir gorda ou achar que é plus size é a morte – porque se ela for gorda, então sou o que? Engraçado que muita gente que está levantando a bandeira contra a ditadura da beleza acaba rotulando com a maior facilidade do mundo. Sei que este é um tópico delicado. Se você me perguntar se eu acho que quem usa 44 é gorda, eu responderei que não, acho que esta pessoa tem um corpo “normal”, mas quem sou eu para julgar como aquela pessoa se sente? A coisa é muito mais embaixo.
Vivemos em uma sociedade que admira a magreza, em que o belo é ser uma gostosona malhada ou uma modelo de passarela. A mídia, as revistas e a moda valorizam esse biotipo, então, que direito você tem de querer gongar uma menina que usa 44 e se acha gorda? Falo por mim, pois apenas posso falar por mim, que minha preocupação é ajudar mulheres a encontrarem a beleza que existe nelas mesmas, independente de corpo ou de qualquer outro aspecto físico. Se você quer engordar porque se acha magra demais, tem meu apoio; se quer emagrecer porque se sente feia sendo mais cheinha, também tem meu apoio. Não faço apologia à obesidade nem à magreza: quero ajudar as pessoas a se libertarem dos rótulos e encontrarem a felicidade, pois eu acredito que há beleza em todos os biotipos etnias.
Como o tal “movimento” quer conquistar mais espaço se pessoas que estão “trabalhando” nele, que saem por ai pregando isso e aquilo, estão “gongando” outras pessoas? Temos que odiar as magras? Temos que nos indignar com quem veste 44 e se acha gorda? Nosso objetivo não é ajudar, informar? Minha querida amiga e colunista do Grandes Mulheres, Dona Farta, fez uma brilhante colocação no Fórum Plus Size que administro no Facebook: “rola muita desunião na comunidade plus e alguns dos maiores preconceitos acabam vindo de dentro do próprio movimento, justamente por esse lance de ‘a partir de quem tamanho é considerada gorda’? E, além disso, nós também tendemos a ser preconceituosas com quem não se encaixa no padrão que estabelecemos”.
E ai, deu pra entender o que estou querendo dizer?
O mundo está cheio de hipocrisia. Quem acompanha meu trabalho deve se lembrar do editorial que publiquei após o Grammy falando sobre a perda de peso de Adele, que foi criticada por muitos como traidora do movimento. Traidora? Ahn? Quer dizer que você tem que seguir um rótulo, um padrão e se encaixar naquilo que alguém estipulou porque senão você está fora? Francamente….
Em minha modesta opinião, como jornalista, como mulher e sim, como quem faz parte do movimento, o que nossa sociedade precisa é de simplesmente uma valorização do ser humano. Há beleza e espaço para todas e ao invés de criar mais rótulos e de querer instituir que a partir do manequim X uma mulher é plus size, a mídia e a moda poderiam fazer o inverso do que fazem: são simplesmente mulheres, que são lindas com seus ossinhos saltados ou suas curvas ou seu cabelo afro ou liso macarrão. POR QUE COLOCAR MAIS RÓTULOS? Será que não temos a capacidade de simplesmente ser, de enxergar além do que fomos condicionados a querer achar belo por uma indústria capitalista?
Poderia passar o dia aqui, debatendo sobre este assunto, mas eu precisava desabafar e vir aqui, em meu espaço pessoal, dizer que acho muito triste que haja tanta desunião assim em um “movimento” e que ele mesmo esteja gongando pessoas que talvez precisem de ajuda ou de mais informação. O blog Gordinhas Maravilhosas fez um post muito bacana que ilustra exatamente a crítica que estou fazendo e foi após ler esse texto que eles publicaram que meu sangue ferveu e me fez vir aqui, escrever estas linhas. Sugiro que leiam: http://bit.ly/Iehvly.
Espero, de coração, que você que me lê e que gosta do que eu escrevo e de como penso que pare para refletir um pouco em como você lida com esse tipo de situação. É fácil criticar, apontar o dedo ou rotular. Difícil é lidar com a ferida, é informar com amor, é aceitar a limitação do outro que às vezes sim, foi condicionado a acreditar que é gordo por usar um manequim 44. Aprenda a respeitar as pessoas e seus sentimentos e antes de rotular ou de gongar alguém, reflita. O mundo precisa de pessoas com mais amor e consciência e apenas assim conseguiremos avançar para que a hipocrisia perca espaço e talvez, apenas talvez, o mundo da moda e a mídia comecem a entender a mensagem que queremos passar.
Beijos,
Paula Bastos
@parispaula
18 comments
Debs
Oi, Paula, tudo bem? Eu sou a Debs e sempre leio você por aqui e agora pela TPM. Apesar de eu me encaixar na turma que usa 42/44, prefiro ler aqui do que os “blogs pra magras”. Explico: eu não sou gorda, eu sei disso.Mas eu não sou magra.Então não tem um blog pra mim, entende? As magras escarnecem a gente porque não somos modeletes, as plus size não nos recebem e nós ficamos em um limbo pro qual a moda ainda não olhou. Eu tenho duas alternativas: me abraçar na comida e nafalta de saúde pra virar plus de vez ou me abraçar na anorexia e na mais falta de saúde e bom senso… não quero nenhuma, né?
Mas de qualquer forma, acho que todos temos problemas. Porque esses dias mostrei um blog plus pra uma colega de trabalho plus e ela falou que amou mas que se sentia ridicula em curtí-lo publicamente porque era se assumir como “do clube das gordinhas”. Acho que ela não sabe o que ta perdendo, mas prefere ficar no clube das que não se encaixam nunca.
Um beijo e vou continuar voltando mesmo que eu não seja exatamente plus hehe.
Paula Bastos
Débora,
Fiquei super feliz em saber que você me lê aqui e na TPM. Eu te entendo perfeitamente…para quem está no meio termo, também deve ser difícil de encontrar informações mais condizentes com as suas necessidades, mas vem cá que eu te abraço, te aperto e te amo no seu manequim 42/44…hahaha! Você é linda, tem um corpo lindo e adoro seu estilo!
Esse lance que você comentou da sua colega de trabalho é bem comum, viu….infelizmente, só com muita conscientização é que talvez a gente possa tentar mudar a forma como as pessoas enxergam as coisas. Quero acreditar que um dia tudo isso vai ser uma grande bobagem e que todo mundo vai ser mais light com isso, pois como a Marília disse, o que realmente importa é ter saúde e ser feliz!
Beijos, amore
Alineh
Amei a página…. ♥, como a Debs disse, sou meio termo. Uns dizem que tenho o corpo normal e outros que estou gorda, mas não me sinto assim (mal comigo mesma) e pra ser sincera comecei a me incomodar com isso depois que os outros começaram e me cobrar os meus 55 kg de novo. Lógico que qualquer um gostaria de mudar algo no corpo, mas não me vejo mais com 55 kg e nem vestindo 36/38. Gostei do blog pq celebra o ser humano e não o tamanho da calça jeans ou o número na balança. Parabéns 😀
Marina Laterza
Paulinha, já tinhamos conversado sobre isso no twitter e eu concordo muito com você. Eu acho que magra ou gorda não está necessariamante no tamanho que a pessoa usa de roupa, mas na aparência, minha mãe tem 51 anos, veste 42/44 e as vezes até G em algumas peças, mas é aparentemente magra (levando em consideração idade também). Ninguém fala que minha mãe é cheinha, ainda que ela tenha uma ou outra gordurinha aqui. (Nem sei pq falei isso haha)
Bom, o ponto é que não importa se a pessoa é magra, gorda, ou algo nesse meio termo, se ela conhecer o próprio corpo e aprender o tipo de roupa/make que a valoriza, inevitavelmente ela vai se sentir um pouco melhor e talvez isso ajuda a construir e melhorar a autoestima.
Querer, por outro lado, “erradicar” o preconceito da sociedade, é impossível. Todo mundo tem um pouco de preconceito, porque as próprias gordinhas se sentem mal. Talvez se a mudança vier do outro lado, ela tenha mais efeito. Exemplo: Adele é gordinha mas sempre mostrou ser uma mulher segura quanto a isso. Será que se todas as gordinhas fossem seguras, o resto da população ia se preocupar em falar alguma coisa?
Enfim, de qualquer forma, é complicado colocar esse tipo de responsabilidade de mudança em um dos lados. O ideal (e na minha cabeça, utópico) é que todo mundo cedesse um pouco. As pessoas ficassem mais flexíveis pra entender o corpo do outro e por outro lado, mais flexíveis para entender o seu próprio corpo.
Desculpa se me prolonguei ou fui muito confusa, rs.
Beijos!
Amei o post 🙂
Paula Bastos
Marina,
Sim, é verdade. Não há como erradicar o preconceito, mas diminui-lo seria um sonho tornado realidade e me entristece muito ver que as pessoas às vezes fazem as coisas mais por conta de ego, inveja ou por pura maldade mesmo. Você está certíssima quando diz que o ideal seria que todos cedessem um pouco…acho que é bem por ai!
E por favor, comente sempre e o quanto quiser que os comentários são muito importantes para mim! Gosto muito de entender o que as pessoas estão pensando e sentindo, até porque as opiniões alheias sempre me inspiram para outras reflexões!
Um beijão!
stripolias
” eu não sou gorda, eu sei disso.Mas eu não sou magra.Então não tem um blog pra mim, entende?”
EXATAMENTE, DEBS. E-XA-TA-MEN-TE.
Marília
ADOREi o texto, e tb acredito que seja por ai…
Na minha opinião, o que faz com que as pessoas se autodenominem plus size ou não, são os tamanhos que a indústria da moda estabelece. Por ex.: até o tam. 44 a gente encontra roupas em sessões “normais”…mas a partir do 46 só nas sessões plus. Então, quem tá “dizendo” que a partir do 46 é plus, não sou eu…mas isso vai fazer com que eu me sinta assim.
Enfim…não sei se consegui me expressar direito. Tb acredito que esteja havendo uma banalização do “movimento”, e digo mais…há quem até sustente a obesidade como “legal”, “normal”, o que eu, sinceramente, não acho! Pra mim não importa se a pessoa é gorda ou magra, desde que ela tenha saúde! E, convenhamos…é MUITO difícil, senão IMPOSSÍVEL, uma pessoa obesa ser saudável. Portanto, independente do seu peso, dos seus pneuzinhos a mais ou a menos, há que se prestar atenção na saúde…o resto é bobagem.
Paula Bastos
Má,
Você disse tudo: o que importa é ter saúde e o resto é bobagem! E sim, eu entendi direitinho o que você quis dizer sobre a indústria da moda determinar o que você pensa a respeito de si mesma porque é isso que acontece. Amei as coisas que você colocou no comentário! É bem por ai!
Obrigada pelo carinho de sempre <3
Jessica
A cada post seu, sou mais sua fã. *O*
Sexta passada estava conversando com uma amiga sobre a Adele. A indignação porque a Adele emagreceu era notável nela… Você não precisa ser gordo pra continuar no “movimento”. Poxa, tenho amiga magras que se revoltam com essa ditadura da magreza… e amigas gordas que são hipócritas (digo isso em relação ao post que você compartilhou do “Gordinhas Maravilhosas”) e para aumentar seus egos, já que são rebaixados pelo próprio preconceito delas, acabam sendo rudes com pessoas que são mais “avantajadas” que elas… Acho ridículo isso!
Beijão, e continue sempre fazendo esses posts MARAVILHOSOS! :*
Tânia Oliveira
Tudo ficou seletivo demais!
Apesar de iguais, criaram muitas diferenças…
Lutemos pelo respeito!
Viva a diversidade!
Vc tem uma postura honesta quando expõe tua opinião… inteligente… elegante… tem graça… sem ser piegas!
Tô vendo que serei leitora assídua…. rs…
PAZ!
🙂
Daniela
Então,
Me incomoda demais a ideia de que as pessoas tem que fazer parte desse ou daquele grupo. Como se cada um tivesse que ficar em uma prateleira e só nela. Se vc é gordo fica em uma prateleira e se cria uma série de coisas pra turma dessa prateleira. Se vc for magro fica em outra e com outros produtos e por ai vai.
Não quero fazer parte desse ou daquele grupo, não agüento rótulos. Todos fazemos parte do GRUPO HUMANO e acabou.
Não quero roupas, acessórios, comida, sapato, modelo de vida, carros, revista etc etc etc para gordos ou magros, altos ou baixos. Quero tudo isso para todas as pessoas.
Monalisa
Gostei muito do post, hoje eu sou 52, mas meu tamanho normal é 42/44, e gostaria de dar minha opinião que seria quase um depoimento
Sempre me achei gorda, por ser maior que as meninas normais, em altura e largura, desde criança. Na adolescência, com todos os hormônios em alta e tudo mais, emagreci e cheguei ao meu peso normal, que permaneci dos 14 aos 18 anos, nesse peso, quando por um dia ter sido tratada como um objeto, passei a entender que se eu não fosse capaz de fazer alguém gostar de mim pelo que sou e não pelo meu corpo, eu não seria ninguém, e então engordei 8 quilos, passei para o n 48…
Comecei a namorar, e como acontece com muitas pessoas, engordamos juntos e cheguei hoje a 25 quilos a mais e ao manequim qual descrevo.
O que posso dizer é que há preconceito se você tem um bom corpo, tipo gostosa, por que você é tratada como um objeto e pessoas aproximam-se de você pelo corpo, no mesmo padrão há preconceito por que há garotos e garotas que acham um 44 gorda, simplesmente por que não aparecem na revista, e há preconceito com os tamanhos maiores por vários motivos, desde beleza (o que acho uma coisa completamente relativa) até desleixo, ou saúde, por isso eu digo que eu gosto do movimento plus size por que é a primeira vez que vão a público para dizer que todas temos nossa beleza. Sim, quando vejo um plus size 44 acho descabido, mas compreendo que assim como tudo no mundo é impossível agradar a todos e enfim, gosto mesmo é da ideia de deixar um pouco de lado o que a maioria das pessoas acham de você e ser você mesma. A grande mensagem é essa, seja você, se você acha que a sua imagem no espelho não te representa, então faça algo, mas se ela reflete o que há em você, então que os outros não abalem sua opinião sobre si mesma, e termino com a frase do nosso pequeno amigo principezinho… “o essencial é invisível aos olhos”. A vida é bem mais que uma calça Jeans.
Solange Branger
Oiiiiii….
Vi por acaso o nome dos seu blog e achei encantador… Encontrei o meu espaço, tenho 1,55m de altura e uso tamanho 42, e é muito dificil se encaixar nos padrões da moda atual, os jeans são de cós baixo, uma verdadeira maratona para encontrar o ideal, blusinhas justas ou um tamanho legal mas, sem atrativos. É bom encontrar um espaço que ajude a levantar a nossa auto estima, vejo que podemos ousar…
Parabéns pelo lindo trabalho…
Sol
Karina
Oii,
Não sou do clube das plus size, pelo contrário…Minha luta é para engordar mesmo rs…Até agora foram 10kg com muito sacrifício em 4 anos. Esses 10 kg me deram confiança e auto estima. O peso ideal é aquele em que a gente se sente bem e feliz consigo mesma. Eu era 10kg mais magra e nunca me achei bonita, hoje me sinto confiante e linda. Seu blog é um sucesso!
Paula Bastos
Obrigada, Karina!
Você disse tudo: a gente tem é que se sentir bem independente do peso!
Um beijo grande
JOSINEIDE
AMEI TUDO…………………..
larissa
Olá meninas, meu nome é Larissa e meu corpo não é condizente com o padrão perfeito, já que sou baixinha, 1,60 e possuo um quadril enorme comparado com meu tronco, não me sinto bem quando visito sites de moda já que quando pesquiso roupas que ficam boas em quem tem quadril grande, me mostram um mulher que veste 54. Me sinto mal já que em minha casa todos são magros. É difícil encontrar roupas e quando se entra em uma loja onde a vendedora já olha pra sua cara com sarcasmo, é dolorido. Comecei a seguir o blog e também curti no face. Estou amando tudo, já que não pertenço a nenhum grupo, top models ou plus, aqui sinto-me à vontade. Parabéns <3
Sonayra
Mas fiquei feliz, não fazendo propaganda, mas quando encontrei uma calça na marisa 51 e também encontrei 38 hahaha nunca vi isso gente, mas fiquei feliz,