Outro dia eu estava numa cafeteria de um shopping, num raro intervalo entre uma correria e outra, distraída nos meus pensamentos enquanto aquecia o estômago oco com pequenas doses de cafeína, quando fui abordada por uma senhora.
Uma senhorinha assim, acima de qualquer suspeita, devia ter uns 50 anos. Bem apanhada, e coisa e tal, encostou ao meu lado e tocou meu ombro, como se quisesse perguntar alguma coisa. Apesar do susto de quem é subitamente chamada de volta à realidade, me recompus rapidamente e respondi com o meu “irresistível” sorriso de “pois não?”
Imediatamente a tiazinha puxou a cadeira e sentou ao meu lado (?), abriu a bolsa, tirou um bolo de papel que dava pra notar – eram contas telefônicas, e começou a me falar que estava indignada, porque a Telefônica estava cobrando valores exorbitantes dela, que nos últimos meses estava recebendo contas absurdamente altas, e blablablablabla.
Ooooi?
Minha cara de ué não foi suficiente, e a tiazinha continuou falando pelos cotovelos, desenrolando aquele amontoado de contas e esfregando no meu nariz, como se eu tivesse algum poder de resolver seja lá o que fosse.
Falei uns dois ou três “hum hum” e “nooossa, que absurdo!” – exclusivamente por educação, mas depois de cinco minutos eu já estava realmente incomodada com a inconveniência daquela senhora.
Fingi que precisava atender uma ligação no celular, mas ela não se fez de rogada e ficou pacientemente esperando eu terminar a ligação sem arredar pé da minha mesa.
Agora, gente, fala pra mim: Por que eu???????? Por quê???????? Ah, essa minha surreal capacidade de atrair tudo quando é gente doida em qualquer lugar que eu esteja… ainda morro disso!
Eram meus únicos 15 minutos de folga em um dia totalmente punk, então por que raios eu tinha que ouvir os problemas telefônicos de uma maluca que nunca vi na vida???
Eu sei, eu sei, eu poderia ter sido grosseira e expulsado a louca da mesa, mas, né? Uma senhorinha, eu nem consigo ser mal educada com pessoas mais velhas, e além do mais, coitada, né? Doidinha, desorientada, pior que eu! Tenho compaixão, gente… Tenho sim!
Só sei que a tiazinha continuou me alugando durante todos os minutos seguintes, e quando meu tempo de pausa terminou, pedi licença e disse que realmente precisava ir, ao que ela segura meu braço e diz:
“_Olha, minha filha, você é tão simpática, tão atenciosa, tão gentil! E tão linda, bem vestida, bem maquiada… sabe que se você fosse um pouco mais magrinha, eu ia jurar que você era artista?”
…
Sim, minhas queridas, isso aconteceu DE VERDADE comigo, e eu prefiro olhar o episódio pelo lado engraçado do que pelo lado deprimente, porque, né? É deprimente MESMO.
Quer dizer então que eu só teria condições de ser uma artista se tivesse uns quilinhos a menos? O que uma coisa tem a ver com a outra?
Tudo. Infelizmente, TUDO.
O que me deixa mais irada é saber que esse não é o pensamento isolado de uma senhorinha maluca que cruzou meu caminho, não! Até porque se fosse, existiriam de fato várias artistas grandes em destaque na mídia. E não, não existem.
Elas são poucas e em geral pagam um preço alto por serem como são.
Se pegarmos como exemplo as atrizes, encontraremos meia dúzia de mulheres grandes que trabalham com freqüência na TV e no Cinema. Invariavelmente interpretando personagens estereotipadas ou cômicas. Como se uma grande mulher nunca pudesse fazer o papel da mocinha, da sedutora, da heroína. Ela tem que ser sempre a engraçada, a glutona, a complexada. E isso nem de longe reflete a realidade!
Porque sim, podemos ser engraçadas, alto astral ou, num outro extremo, complexadas com nossas imperfeições. Mas enquanto mulheres somos muito mais do que isso, e seria digno se houvesse espaço também no mundo do entretenimento para que as Grandes Mulheres pudessem demonstrar tudo o que podem ser.
Quantas vezes ouvimos a famigerada frase: “… mas você tem um rosto tão bonito!”? Quantas vezes vemos no olhar das pessoas que nos fazem meios elogios a lamentação de quem pensa algo como “ah, se ela não fosse gorda…”
Tudo fruto do culto ao modelo pré-determinado. Tudo fruto dessa cultura de padronização das pessoas, que exclui um universo de possibilidades ao deixar de lado o diferente, como se ele fosse necessariamente inadequado.
Assim como no mundo da moda, no mundo do entretenimento também existem barreiras gigantescas a serem quebradas.
Espero viver para assistir um dia uma novela onde a protagonista será uma mulher gorda que não será nem cômica nem complexada. Será apenas uma mulher como todas as outras, às voltas com os dilemas do universo feminino. Aí sim poderemos pensar que as coisas estão mudando.
Uma das armadilhas do preconceito é colocar o adjetivo na frente do substantivo. Então se você é uma Grande Mulher, as pessoas te vêem como “a gorda”. Antes de te verem como mulher, te veem como Gorda. E é isso que precisamos combater.
Porque nenhum adjetivo muda o substantivo que se é. Antes de mais nada, somos mulheres. E enquanto mulheres temos o direito de ser muito mais do que apenas “a gorda”.
Somos um universo de possibilidades. Ser ou estar grande é apenas uma delas.
Beijos Fartos!
4 comments
Nome*Gegena
Comentário Da. Farta, adorei sua crônica! Não sei porque já te sigo no twitter há alguns meses. E tenho certeza que não foi por acaso, neste sites de se conseguir followers. Desde que entrei no twitter, há uns bons 9 meses, pelo menos, que fiz uma busca dentro dos meus interesses e você apareceu. Gosto do seu jeito de expor e alegria de viver a vida explícitos nos seus comentários. Um grande abraço e parabéns! Gegena
Nome*Valkika
Comentário
Sempre tem um FDP pra dizer isso ” SE vc fosse mais magra”, ela pelo menos verbalizou e n° de gente olha e pensa isso ? É triste!
Nome*Jacke
Tem gente que não se poem no seu lugar né???
Thelma Tavares
Tenho 1,77 man 52 e moro nos Estados Unidos onde consigo me vestir da forma jovial que gosto. Estou montando um site de consultoria para atender brasileiras PLUS SIZE como eu:
http://hx7.hostseguro.com/~tudobig/
A ideia e’ a cliente pedir o que quer e como quer, entao eu vou as lojas ate achar o que ela deseja do tamanho, modelo, cor e valor maximo que ela se destine a pagar. Eu nao possuo mercadoria, eu dou a assessoria na compra aqui do que a cliente desejar, envio fotos do que encontrei e so’ depois da aprovacao, cobrarei pelo meu servico e enviarei a nota da compra junto com o pedido. Aqui posso achar uma infinidade de possibilidades, por isso digo que a cliente escolha o que deseja, realize o sonho de ter aquela roupa que nunca achou no seu tamanho. Por isso por telefone fica mais facil de se tirar todas as duvidas e me disponho a telefonar sem pressa, basta me enviar o numero de um telefone convencional (nao posso ligar para celular) atraves de email para:
[email protected]
Aguardo o seu contato.
Muito obrigada.
Thelma Tavares