As dificuldades de ser uma blogueira plus size

Eu já fiz alguns desabafos no blog e no Facebook sobre como às vezes é difícil escrever para o público plus size, mas hoje o meu copo transbordou. Ontem, ao perguntar para as leitoras o que elas gostariam de ver na página do FB e no blog, recebi diversas opiniões e sugestões ótimas, mas teve gente que me chamou até de exploradora e resolvi falar porque, o meu saco, vejam bem, ele tem limite.

Blogo há quase 5 anos e quando comecei, o termo plus size nem existia no Brasil. O meu blog foi um dos primeiros sobre o assunto. Falar para gordas, seja sobre o que for, é sempre delicado. Tem gente que se ofende se eu escrevo “gorda” num texto e outros acham que se falo “gordinha” estou sendo pejorativa; se eu posto algo elogiando uma marca que produz uma roupa que custa caro – e mesmo explicando porque ela custa caro – sou criticada porque “esse povo tá louco de cobrar isso numa roupa”; se falo que estou fazendo dieta, me chamam de traidora… E a lista continua.

Diferente de muitos blogs que fazem anúncios velados, ou seja, disfarçados de dicas ou o escambau, eu deixo tudo claro. Quando é uma publicidade, eu sinalizo e você sabe que uma marca está usando o meu espaço para divulgar um produto. Se é algo que eu não gosto, não aprovo ou não me interessa, por dinheiro nenhum eu aceito. Esse blog é meu, o espaço é meu e só coloco aqui – recebendo pra isso ou não – coisas que julgo interessantes para minhas leitoras.

Manter um blog grande custa caro. Tenho gastos com servidor, hospedagem, domínio, uma pessoa de programação pra me ajudar a arrumar bugs, layout, fotógrafo e sim, às vezes com roupas ou acessórios que não tenho e acabo comprando pra fotografar um look do dia e ajudar vocês a pensarem fora da caixinha e saírem do básico porque as revistas não fazem isso. São os blogs de moda plus size que ajudam as meninas a terem inspiração e ideias para se vestirem e ousarem porque nem todo mundo entende de moda e consegue adaptar o que as revistas sugerem para mulheres magras. Eu faço esse papel, assim como outras blogueiras e sim, eu acabo gastando pra isso.

Para poder manter o blog, eu preciso de dinheiro. Sou jornalista, trabalho e não vivo do blog. Tenho vida própria, emprego, contas pra pagar, compromissos pessoais; tenho que dormir, comer, morar e tudo o que uma pessoa normal precisa. Eu trabalho pra caramba e, diariamente, trabalho normalmente até às 23h todos os dias. Sim, isso inclui horas de dedicação ao blog e às redes sociais dele; isso inclui, às vezes horas de feriados e fins de semana, horas que eu poderia estar dormindo, viajando, descansando, lendo, coçando em frente à TV, mas não, abdico dessas horas que poderia gastar apenas comigo para ajudar a mulheres que têm a mesma dificuldade que eu, que sofrem dos mesmos dilemas que eu. Fiquei inconformada quando uma pessoa extremamente sem noção me chamou de exploradora por causa dos anúncios no Facebook do blog.

Vamos falar das publicidades do blog… Sim, eu tenho anunciantes e são eles que me ajudam a sustentar o blog. Essas lojas são de pessoas cujo trabalho admiro, pois são lojistas que estão preocupados em oferecer roupa de qualidade para nós, gordas. Não faço parceria com qualquer loja e recuso muitas ofertas de publicidade, pois se eu não gostar do que eles vendem ou achar a qualidade ruim, nada feito. Aí as pessoas reclamam dos valores das roupas e, embora eu já tenha explicado mil vezes, vou explicar mais uma vez: lojas de departamento produzem em grande escala, geralmente na China, e algumas até usam trabalho escravo. Elas compram tudo em uma grande quantidade, então o preço final para o consumidor consegue ser menor. A marca brasileira que resolve investir no nicho plus size tem que pagar um monte de impostos e elas vão produzir em pequena escala porque são pequenos lojistas. A diferença é que eles estudam modelagem, escolhem tecidos melhores, fazem costuras melhores e mais reforçadas e, muitas vezes, pensam em maneiras diferentes de adaptar uma roupa que “é pra magra” pra uma “mulher gorda”. Esses pequenos empreendedores pagam honestamente as costureiras e modelistas, por exemplo, pois não estão explorando ninguém. Por ser um mercado novo, essas pessoas estão fazendo o trabalho corretamente, começando com poucas peças, investindo aos poucos. Eles têm muito mais gasto do que essas grandes lojas e, para que eles consigam lucrar e se sustentar, o preço vai ser obviamente maior do que o da loja de departamento, que produz uma quantidade absurda de peças, muitas vezes com uma modelagem, tecido e caimento horríveis.

Eu posto e divulgo no blog aquilo que uso e gosto. Eu uso roupas dessas marcas e sim, uso roupas de lojas de departamento porque é onde eu mais consigo encontrar coisa pra mim no dia a dia. Sempre que compro algo ou estou andando pelo shopping e encontro algo, eu divulgo. Não sou rica, mas não uso coisa feia ou de baixa qualidade e essa é a minha realidade. Talvez você não possa comprar uma blusa que foi anunciada no Facebook do blog que custa R$ 200,00, mas pode entender que aquele modelo de blusa fica bem em você. Eu entro no blog da Thássia Naves e não posso comprar nem 1/3 do que ela usa, mas nem por isso deixo de me inspirar nas combinações que ela faz. Eu não tenho como agradar a todo mundo e, desculpem, eu não vou passar a usar roupa que considero descartável ou que me veste mal só pra agradar a maioria. O blog é quem eu sou. Eu posto a maquiagem que uso, o perfume que uso, a roupa que uso. Isso aqui é um espelho de quem eu sou e se eu trabalho pra caramba pra conseguir ter uma vida que me permita de vez em quando comprar uma calça de R$ 200,00, bom, eu tenho esse direito, da mesma forma que quando encontro uma blusa linda que comprei na C&A eu vou e divulgo. Se eu vivesse de blog, eu poderia virar “cool hunter de gorda” e passar o dia garimpando roupas, postando fotos e o escambau. E minhas contas, quem paga? Quem vai trabalhar no meu lugar pra eu ficar indo em loja montando look, fotografando, fazendo tudo isso? O blog não é minha profissão, não é meu ganha pão. É MEU HOBBY!

Outro dia comprei uma saia na Renner de R$ 79,90 e um monte de gente veio reclamando que a saia era cara, que isso e que aquilo. Sinceramente, pra comprar uma roupa que vista minimamente bem um corpo gordo querendo pagar menos do que isso é bem difícil no Brasil e eu não vou mudar meu estilo de ser e de me vestir por causa das outras pessoas. Se eu posso comprar nas lojas mais caras e nas baratas, é a minha vida, é o meu direito. Eu economizo, parcelo, guardo dinheiro e compro… cada um se vira como quer, cada um compra o que quer. Ninguém precisa usar o que eu uso e nem comprar o que eu compro. Se eu fosse comprar tudo o que vejo em uma revista, estaria falida e não conseguiria comprar nem 1/10 das coisas. E aí? Isso também não significa que, para agradar às leitoras, vou sair usando roupa de lojas baratas que eu não gosto. Moda é muito mais inspiração do que qualquer outra coisa. Se você não pode comprar, como eu já disse no parágrafo acima, absorva a ideia e saia para procurar algo similar que possa ficar bem e você e que caiba em seu bolso. É o que eu faço com os blogs de meninas ricas, por exemplo.

Escrevi tudo isso aqui porque eu realmente estou farta de tanto “julgamento alheio sem embasamento”. Eu sou um poço de sinceridade, jogo limpo com vocês a todo momento e eu não vou mudar minha forma de ser ou deixar de dar espaço para os lojistas plus size que têm peças mais caras porque nem todo mundo pode ter acesso a essas coisas. Sempre que eu encontrar algo bonito, bacana e barato eu vou divulgar – como já faço desde o começo do blog -, assim como vou continuar divulgando coisas bonitas, de boa qualidade e mais caras. Tem público pra tudo e infelizmente eu sou só a Paula Bastos e não uma salvadora da humanidade. Espero ter esclarecido o que eu penso e faço, pois eu já pensei em desistir do blog inúmeras vezes justamente pelo trabalho que dá, pelas dificuldades encontradas e por receber julgamento de gente que não tem a mínima noção de nada. Só não parei porque tenho leitoras especiais, que me motivam e que eu sei que precisam de ajuda e, para essas leitoras que sempre me acompanharam e entenderam o propósito do meu trabalho, peço desculpas pelo desabafo, mas eu não aguentava mais ler absurdos!

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