“Mudaram as estações, nada mudou.” De repente essa frase me pegou de jeito no dia de hoje porque o copo que há dias estava ameaçando transbordar, transbordou. Chega aquele momento em que você percebe que os anos passaram, as estações mudaram, mas nada mudou, como diz a música. Foi exatamente assim que me senti hoje quando vivenciei, pela terceira vez, uma situação que me gerou grande constrangimento.
Você dança conforme a música, joga conforme as regras do jogo e pede para Deus para nunca mais ter que passar por esse tipo de situação constrangedora novamente, mas de repente se depara praticamente com um flashback porque, aparentemente, viver a situação duas vezes não foi o suficiente. Uma terceira foi necessária. E aí você transborda e começa a pensar em como você está absolutamente desgastada com a vida e com as relações vazias, com a falta de intimidade, com a superficialidade e a banalidade das pessoas, do mundo.
Estamos vivendo um momento em que é praticamente preciso se justificar para tudo porque somos julgados incessantemente. As relações – sejam amorosas ou de amizade – estão perdendo o que havia de mais bonito delas: a delicadeza da naturalidade com que as coisas simplesmente aconteciam. A gente vive no medo: medo de demonstrar algo, medo de ser mal interpretado, medo de NÃO demonstrar algo, medo de não saber explicar, medo de estar pisando em ovos, medo de tudo. É como se tivéssemos que ser racionais em 100% do tempo para não colocar tudo a perder.
E aí eu paro e penso: se tem que ser assim, seja com o que for, vale a pena?
Hoje revivi, com minha melhor amiga, a noite dos corvos, exatamente como aconteceu anos atrás, quando passei por situações similares. E nada melhor do que saber que ainda existe no mundo uma pessoa com quem você pode simplesmente sentar, chorar e falar absolutamente tudo o que te dá desespero, tudo o que te aflige sem sentir medo de ser julgada ou mal interpretada. Sim, a liberdade de ser não tem preço. Me lembrei de tantos sentimentos que ainda estão mal resolvidos dentro de mim, recordei das duas situações que me arrombaram o coração e me feriram profundamente.
O mais triste de tudo, e falo isso do fundo do meu coração, é pensar que a vida enrijeceu o coração de uma garota que tinha tantos sonhos e tantas coisas boas para oferecer. Foram calejando tanto o coração dela que não restou praticamente nada além da atual falta de fé nas pessoas e nas relações – amorosas e de amizade, como já disse. Quando nenhum dos extremos e nem o equilíbrio funcionam, para onde você corre? Como age? Não há mais resposta, não há mais fórmula, apenas aquele conformismo barato de que talvez tenha sido escrito que deveria ser assim, uma vida que, em determinado momento, entraria no piloto automático.
As pessoas não conseguem enxergar além do óbvio e muitas passarão suas vidas correndo atrás de seus próprios rabos ou em círculos viciosos porque são ignorantes demais para ver ou administrar as verdades que estão embaixo de seus próprios narizes. É mais fácil lidar com a cegueira do que ter que arcar com a responsabilidade de que você está botando muita coisa a perder porque não tem a capacidade de se permitir arriscar ou viver uma experiência nova. É o tal do medo que aprisiona, que mantém as pessoas dentro da mediocridade.
Se o seu copo está transbordando, deixe que ele transborde. Repense toda sua vida, suas relações, suas atitudes. Saia da mediocridade do que parece mais simples ou fácil e se proponha a enfrentar o problema, a mudar. Permita-se viver algo novo, experimentar, aprender. Não deixe que o medo te aprisione e te prive de se conhecer melhor, de saber quem você realmente é e quais seus limites. Não podemos contar com as pessoas 100% do tempo, temos que contar com nós mesmos.
Não sei se minhas palavras fizeram qualquer tipo de nexo, mas eu precisava escrever para amortecer minha alma porque meteram o dedo bem fundo em feridas que não cicatrizaram e eu estou aqui, sem conseguir dormir e tentando entender qual o propósito de certas coisas. Às vezes, quando acho que avanço, vem a vida e me faz voltar 10 casas ou dois anos atrás ou uma dor. E enquanto não vejo sentido, deixo que o piloto automático me carregue, por mais triste que seja dizer isso. Eu perdi a fé nas pessoas, no amor e nos sentimentos e tudo isso se deve a um aglomerado de experiências muito ruins. Passei anos esperando por um grande momento, mas depois de perceber que ele talvez nunca chegaria, preferi começar a trabalhar com a realidade.
Se você não entendeu o porquê da noite dos corvos, a imagem abaixo não deixará dúvidas:
14 comments
Ana
Poxa,eu me sinto exatamente assim Paula,mas eu espero, sinceramente, que o resultado seja muito bom pra você e você possa se conhecer melhor e aproveitar todas as boas oportunidades que surgem em nossa frente e que por medo ficamos cegos pra enxergar.Desejo que não perca a fé,como eu perdi(me sinto mal por isso)e que você passe a ter dias inesquecíveis e encontre pessoas maravilhosas,para que te mostrem que o melhor da vida é que a cada dia que nasce,você tem uma chance de fazer desse dia o melhor dia de sua vida!Abração :).
Paula Bastos
Ana,
Eu também tenho essa esperança de que os ciclos se renovem com pessoas que estejam aquém dessas coisas que descrevi no texto. Sair da cegueira não é fácil, mas assim como um dia fiz essa escolha, ficaria muito feliz se aqueles que me cercam também a fizessem! Um dia a gente perde a fé, no outro recupera e assim vamos vivendo…
Beijos!
Alyce
Eu vivi outra época..aliás…são poucos anos, mas tanta coisa mudou que parecem séculos e mais séculos de distancia do que vivo hoje.
As pessoas mudaram drasticamente e eu acho que acumulei mais decepções depois de “grande” do que quando descobria que Papai Noel e Coelho da Páscoa não existiam.
Tudo mudou tanto que eu não consigo admitir que não era bem isso que eu esperava que fosse acontecer.
Vivi uma adolescência plural e hoje vivo na singularidade de uma existência fria e tão distante do que eu quero pra mim.
Sempre criei laços, me doei sem pestanejar, porque acreditava que eu amanhã poderia estar morta e mais nada poderia ser feito.
Não tinha medo de morrer, de tão forte e intensa que minhas relações eram.
Não tinha medo de nada… Destemida me enfiei em situações que acabaram moldando o que sou hoje
Ainda que da forma mais cruel.
Porque é assim que as pessoas em sua maioria são.
Cruéis.
Vi meus valores serem questionados a cada mês que se passava e a cada assoprar de velas, eu via minha vida mudar drasticamente.
E quem dera fosse só a genética ou as rugas chegando…não…não eram.
A preocupação com a síndrome de Peter Pan deu lugar á questionamentos muito maiores.
Deu lugar a descrença.
Nas coisas e nas pessoas.
Não sei se vislumbrei a vida de forma romântica ou se tudo se perdeu.
Mas ainda prefiro acreditar na minha versão da história, ainda que seja difícil desenhá-la perante ambientes e pessoas tão hostis…
Eu queria poder te dar o mundo e quando falo isso, não é bobagem.
É a mais pura verdade.
Queria poder arrancar cada dor sua e nos transportar para um mundo, onde tudo o que vivi entre 2004 e 2010 fosse verdadeiro, real e contínuo.
Queria poder te dar o mundo, arrancar suas dores, resolver seus problemas…
De preferência de uma vez só, pra deixar você toneladas mais leve.
Mas na maioria das vezes me sinto tão impotente, sem o que fazer…
Sem ter o que fazer porque a maioria das coisas dependem das pessoas e não de mim.
Queria poder curar nossos traumas e poder nos dar dias sabáticos em que pudéssemos usufruir do silêncio de uma bonita paisagem.
Mas não consigo…não agora, nem sei quando…
Por isso tento te fazer sorrir, rir, gargalhar, ainda que pouco, ainda que com besteiras, mesmo que seja para sanar por um segundo sua dor, seu sofrimento.
Ainda que não faça nenhuma diferença daqui há 2 minutos.
Porque pra mim é isso o que amigos fazem.
Compartilham.
Ainda que não seja suficiente, 100% suficiente.
Eu queria poder ter uma vida boba, sem problemas…
Mas aí não seria eu, não seria você, não seríamos fortes entendem?
E acho que talvez a graça seja essa, poder achar uma fresta por onde respirar, ainda que pareça que tudo esteja se fechando.
Porque a vida pra gente, nunca foi fácil e nem nunca será.
Mas por mais que o que tenhamos pareça pouco, perto da superficialidade das demais coisas é MUITO.
E você sabe disso!
Não existe meu problema, minha dor ou minhas coisas.
São nossos, nossas…
Porque partilhar é vital, uma vez que a vida é uma só e pra ser vivida da forma mais intensa possível.
Espero que 2012 seja mais grato e se não for, estarei do seu lado, ainda que pra te ouvir chorar em silêncio.
Ainda que pra te dizer que no final das contas, o que importa mesmo é que a gente não usa viscolycra e drapeados numa peça só.
Não que isso faça muita diferença, mas pelo menos, não é um problema a mais pra lidar! 😉
Admiração é pouco, o que sinto por você não tem nome.
<3
Paula Bastos
Minha amiga querida,
Eu passei a noite de ontem despejando um balde de lágrimas no chão da sua casa, no seu ombro e se tem uma coisa pela qual agradeço a Deus todos os dias é pela sua amizade. Você é mais do que especial: você é um presente. Obrigada por enxergar, por saber, por compartilhar e por estar ao meu lado constantemente, seja nos bons ou nos piores momentos. Você me faz rir, gargalhar, chorar e é, definitivamente, parte do meu processo diário de aprendizado e crescimento.
Amo você!
Celina Alves
Ah! Paula! se você soubesse quantos motivos eu tenho pra estar infeliz e eu estou feliz e quantos motivos você tem pra ser feliz e está triste e decepcionada…
BjoBjo;)
Celina Alves
Luxos e Luxos
Paula Bastos
Celina,
Eu bem queria te dizer que as coisas são simples assim, mas há tanto mais que você sequer imagina….rs. A vida é assim: há momentos em que estamos tristes e descrentes e momentos em que vemos esperança até onde não tem. É a vida e faz parte do aprendizado!
Beijos
Adriana
Paula, se este texto tivesse sido escrito por mim não seria tanto auto-retrato..
Atualmente transbordando por vez e viver em meio a tanta hipocrisia, falta de afeto e acaso… e a percepção é de que a vida caminhará sempre neste rumo, distância e falta de emoções, reciprocidade e interesse pelo próximo.
Paula Bastos
Adriana,
Sinto muito que você tenha se identificado com minhas palavras porque esse sentimento que está em mim é tão horrível que não queria que ninguém se sentisse assim. Sei que as coisas podem mudar, que um dia é diferente do outro, mas a verdade é que mudanças são necessárias: em nós e nos outros!
Vamos tentar ter fé porque é o que resta! Um beijo!
Claudia
Querida Paula, consigo entender todos os sentimentos expressos neste texto. Imagino que todas as pessoas, uma hora ou outra, passam por situações que nos fazem perder a esperança e fé nas pessoas. Convenci-me que a vida é cheia dessas coisas, entretanto, quero te dizer que a gente sempre acha, nesta caminhada, alguém que vale a pena e que nos faz renovar a crença de que tem pessoas diferentes neste mundo. Quero também aproveitar para te dizer que, como te conheço há um bom tempo, te vejo cada dia melhor. Fico admirada de te ver evoluindo na velocidade em que o faz, mesmo em situações adversas. Sua resiliência é um modelo a ser seguido, embora eu entenda o quanto é difícil viver assim. Um grande beijo da sua prima que te admira muito!
Alexandre Silva
Gostei muito do texto. Ele mostra uma triste realidade que está presente na sociedade atual, moderna e imediatista em que vivemos. Que as pessoas são cada vez mais tratadas como produtos descartáveis. Isso se enquadra em todo o tipo de relacionamentos, não apenas à vida amorosa. Eu sei que sempre existiram pessoas falsas, mas a impressão que tenho é que na época atual, esse número aumentou muito.
É difícil encontrar um motivo para isso. A sociedade e a cultura são coisas mutáveis. Vivemos em uma época onde não tentamos reparar erros alheios, mas sim eliminá-los de nossas vidas por ser uma maneira mais rápida e eficaz, um fruto do imediatismo.
Vivemos em uma época onde boa parte das pessoas não entende bem o significado da palavra “reciprocidade”. Às vezes, algo que pode dar certo com o tempo acaba sendo comprometido pela ânsia de querer que dê certo depressa.
Como consequência, mágoas acontecem com maior frequência em nossas vidas, pois pessoas imperfeitas desejam perfeição do seu próximo, ou um padrão acima do que a própria pessoa consegue manter.
A cada ano que se passa eu perco mais a fé em pessoas e idéias. O que me sustenta é um círculo bem restrito de amigos que – mesmo em meus piores momentos – são sinceros na vontade de me ver bem e feliz.
Vivemos em uma sociedade que, na minha humilde opinião, estimula a misantropia.
Raissa Kahn
Faço minhas as palavras do amigo acima: “Que as pessoas são cada vez mais tratadas como produtos descartáveis. Isso se enquadra em todo o tipo de relacionamentos, não apenas à vida amorosa. Eu sei que sempre existiram pessoas falsas, mas a impressão que tenho é que na época atual, esse número aumentou muito.
(…) Vivemos em uma época onde não tentamos reparar erros alheios, mas sim eliminá-los de nossas vidas por ser uma maneira mais rápida e eficaz, um fruto do imediatismo.”
Acho triste ver tantos relacionamentos descartáveis. Passei por isso há um tempo atrás e sofri bastante. Não cheguei a chorar litros pq fiquei tentando arrumar desculpas por ter sido descartada por tanto tempo…que quando percebi aquilo já não era mais tão importante. Mas me fez mal, eu confesso.
Mas assim como não perdi a fé nas pessoas (Deus também fez pessoas especiais como você), gostaria que você também se desse uma chance e desse uma chance para tantos milhões de desconhecidos bacanas que estão vivendo numa boa por aí 😉
Mary Ellen
Não resisti… Precisava comentar… Precisava dizer que quando li o seu texto no trabalho chorei por alguns minutos, chorei por sentir sua dor, por me reconhecer em suas palavras.. Estou cansada de ser usada, cansada de pessoas que só querem usar.. Chorei porque me reconheci em sua dor, e palavras.. Mas, acredito que Deus tem o melhor para mim.. E com certeza terá coisas melhores pra você também.. Beijos
Paula Bastos
Mary Ellen,
Obrigada pelo carinho e pelas palavras. Às vezes a vida é difícil e a gente se decepciona demais com as pessoas, mas quero acreditar que Deus está fazendo isso para renovar meus caminhos e colocar gente que realmente valha a pena nele. Vamos torcer por isso porque é o que resta!
Beijos
nem
A palavra chave é, uma vez mais e graças a deus, INDEPENDÊNCIA. Quanto mais se independe menos as relaçõs são imprescindíveis.