“Conforme você relatava o acontecido, eu conseguia ver, nitidamente, a menininha esperneando e implorando para que ele desse a ela o que ela queria, enquanto a mulher madura e assertiva em tantas outras áreas que conheço ficou sem voz e sem espaço”. Essa foi a fala mais marcante de minha terapeuta quando relatei uma briga estúpida que tive com uma pessoa. Aquilo veio como um soco que me nocauteou. Fiquei dias refletindo, analisando e tentando entender o motivo de tudo.
Os comportamentos são aprendidos conforme nossa convivência com o meio. Devido a várias circunstâncias que sofri durante a infância, desenvolvi um talento para fazer drama, dar chiliques e a exagerar em determinadas situações. Isso sempre me prejudicou muito e embora algumas pessoas falassem desse meu defeito de forma brincalhona, não conseguia perceber o quanto isso iria afetar meu futuro.
Não entrarei em detalhes, mas tive que aprender a usar do drama e do chilique para conter meu pai em situações de brigas com minha mãe. Essa era a única arma que eu tinha e a desenvolvi com maestria porque por um tempo isso foi necessário, mas quando o “problema” acabou, continuei com as mesmas atitudes. Conforme fui crescendo, o comportamento foi me acompanhando e a menininha dramática que habita dentro de mim muitas vezes ofuscou a mulher madura que também está aqui.
Para cada um de nós, às vezes é difícil perceber o quanto um defeito é prejudicial para nosso desenvolvimento e, principalmente, para a conquista de algumas realizações. Até passar por uma situação que me obrigasse a perceber o quanto eu mesma estava estragando cada vez mais uma amizade com alguém que gosto muito, não tinha a menor noção de como o meu comportamento era grave. E claro, eu poderia ter percebido isso em várias outras situações, com outras pessoas, mas a ficha só caiu agora.
Muitas mulheres também sofrem com essa “coisa do drama”. Mas estou aprendendo que isso só funciona com gente que não é bem resolvida, porque pessoas assertivas jamais caem nessa e pior: assim que percebem que essa é uma tendência de comportamento, elas se afastam – e estão certas! Tem coisa pior do que conviver com gente que fica “chilicando”? Fazendo tempestade em copo d’água e transformando algo simples na próxima novela mexicana transmitida pelo SBT?
Eu não conseguia perceber o quanto esse comportamento me prejudicava porque as pessoas mais próximas sempre relevaram e o último cara por quem me apaixonei conseguia ser mais dramático do que eu (por incrível que pareça). Mas a vida sempre nos dá chances: eis que ela coloca no meu caminho um outro cara, que é bem prático e racional e foi por causa dele que a minha ficha caiu – com a ajuda da terapeuta, lógico!
Algumas situações, ocasionadas por mim mesma, fizeram com que chegássemos a discussões bem chatas e ai a menininha birrenta e histérica que mora dentro de mim resolveu “sapatear” pra ele. Sabe aquela cena que você já deve ter presenciado de uma criança que se joga no chão e esperneia dentro do supermercado querendo algo? Pois é, minha amiga, só que muitas de nós agimos da mesma forma. É nessas horas que você vê que toda uma boa imagem construída pode ir pro ralo. Graças a Deus esse ser é abençoado de uma paciência de Jó e de compreensão, porque se fosse outro cara, não tenho dúvidas de que teria me cortado pela raiz.
Quantas vezes um comportamento seu pode estragar tudo e colocar valores positivos e conquistas importantes a perder? E estou dizendo isso porque já até comentei em um dos primeiros editoriais que escrevi que aparência não é tudo, mas que comportamento é crucial. Um cara pode sim, te bancar com uns quilos a mais, mas ele definitivamente não vai querer uma mulher chiliquenta, que fica fazendo drama para chamar atenção. Homem detesta isso e minha ficha demorou demais para cair.
É muito difícil desconstruir algo que foi aprendido e praticado por anos e anos. Estou com 29 e sou assim desde muito pequena, mas mudar cabe apenas a mim mesma, por isso estou matando, dia após dia, a drama queen que existe em mim. Desde que entendi que ela destruía meu lado maduro, tomei a decisão de me despedir dela. É um enorme exercício de observação e de racionalidade, mas não deixarei que ela sapateie para mais pessoas. Eu não preciso mais desse comportamento e estou lutando para me livrar dele.
Eu nem ia colocar isso aqui, em um editorial, mas fiquei pensando que muitas de vocês talvez passem pela mesma situação ou tenham algum outro defeito que precisa ser mudado e trabalhado. Às vezes olhamos tanto para a aparência que esquecemos que o comportamento pode ser o grande motivo da repulsa e ficamos ai, sem entender, nos torturando pelo motivo errado ao invés de enxergar e mudar o que realmente precisa ser trabalhado.
Espero, de coração, que o meu aprendizado possa trazer algum tipo de luz para vocês. Não é fácil quebrar um padrão, mas eu sei que vou conseguir e sei que você também pode melhorar algum aspecto seu que a prejudique. Não adianta falar que ninguém te quer porque você não é a Juliana Paes: adianta enxergar onde você esta errando e decidir fazer diferente. Colocar a culpa na aparência às vezes é mais fácil do que assumir um defeito e fazer esforço para mudá-lo! Pensem nisso!
Enquanto isso, todos os dias eu encaro a menininha chiliquenta que existe aqui dentro e me despeço dela…um dia não a enxergarei mais, tenho certeza disso!
Beijos,
Paula
6 comments
Liz Micheleto
Olá.
Adorei o post.
Eu já perdi algumas pessoas por algo parecido com o tal drama queen.
Hj, acredito que consegui mudar e muito esse comportamente em mim.
O primeiro passo para superar um defeito é admitir a existência dele.
Muita sorte pra vc.
Bjossss
Rick
Mais um belo texto, parabéns e obrigado por dividir com a gente.
Realmente, aparência não é tudo e compartamento é crucial. Vc mesma se deu a resposta quando diz isso…se o comportamento é maduro, saudável e te faz crescer como pessoa e enrijece o relacionamento, aparência vem em segundo plano.
Qdo o comportamento é fraco, é fácil MESMO jogar a culpa em outra coisa. Seja na sua aparência ou em algum outro defeito/circunstancia qualquer. É sempre mto dificil reconhecer que nosso comportamento pode estragar as coisas boas que estamos vivendo.
E pra finalizar, é como aquela coisa dos dois “bichos” que moram em nós: prevalece aquele que é mais alimentado. Deixa a sua “drama queen” morrer de fome que ela desaparece!
Beeijo! s2
Paula Bastos
Rick e Liz,
Obrigada pelo carinho de sempre! Adorei o “deixa sua drama queen morrer de fome que ela desaparece!!”
É, vamos lá…o lance é viver um dia de cada vez para aprender a frear essa chiliquenta! haha
Beijos!
Isabela
Paula querida, mais uma vez, vamos lá: Parabéns!!!! belo texto. Mais um fantasma saindo desse corpo e dessa mente que definitivamente, não pertence a ninguém, a não ser a você mesma. Fiz terapia por seis anos,sem faltar um dia sequer. Foi o dinheiro melhor gasto em toda a minha vida e será insubstituível e sabe o pq? pq construí a minha casa interior. lembro q me comparava a uma massa de pão: meu corpo era uma massa de pão e a cada sessão iria modelando e moldando….e assim me tornei a Isabela que sou hj. As vezes me coloco no forno.. rss.. mas consigo tirar a tempo de não me queimar. Esse texto tem a ver com um lado da Paula existente em qualquer mulher, alias, qualquer ser humano, seja ele do jeito que for,pois ele pode ser mmuuuiitttooo bem “dotado” de muitos chiliques!!!. Seja feliz, sempre. Fica bem, beijocas
Klaus Roger
Que texto maravilhoso!
Você não é a unica. Me encontrei muitas vezes nas tuas palavras. Acho que chega certo ponto que você nem se quer percebe o quão dramático você está. O que é meu caso.
Algumas vezes acontecem situações que você simplesmente age de uma forma que depois, quando senta e pensa no que aconteceu vê que exagerou.
Transformar em uma grande novela mexicana eu acho que é a definição perfeita pro meu caso. Querer viver como se estivesse dentro de uma história. É aquela coisa que te falei do Dawson sabe? Ele vive analisando a vida, fazendo um grande evento de coisas simples para poder encaixar tudo isso em uma vida de fantasias, fingindo que tudo é um grande roteiro de um filme. É um mal de quem vive intensamente…
Falo por mim quando digo isso, vivo sempre nos extremos. Amo muito para todo sempre e amém, ou odeio com todas as forças até as profundezas do inferno. Porque assim como as novelas mexicanas o exagero tá presente na minha vida. Mas nosso primeiro passo já tá dado né baby?”!
Boa sorte para NÓS.
Rose
Como é importante a gente se conhecer e saber o que precisa mudar não é? Há um tempo atrás descobri uma coisa parecida, eu costumava a me “vitimizar”, não exteriorizava isso, mas ficava remoendo, tipo, aquela pessoa fez isso comigo ou tudo acontece comigo. Num dia de uma baita pressão eu parei pra pensar e notei que as dificuldades na minha vida são uma forma de aprendizado, para meu crescimento é a mão de Deus querendo me mostrar que tenho que evoluir, invés de ficar pensando coitadinha de mim.
A “lambadas” que a vida dá nos faz criar certas manias, defeitos, coisas que não queremos ser, mas nem percebemos e quando de repente “cai a ficha” nos cabe fazer algo pra melhorar, acho que consegui começar minha reabilitação. Que bom que você conseguiu descobrir e melhorar. Beijo