Se você está realmente antenada no mundo plus size, já deve ter ouvido falar em Crystal Renn. A top-model norte-americana começou a carreira de modelo nos padrões tradicionais exigidos pela moda, mas ficou realmente famosa quando, ao lutar contra distúrbios alimentares, assumiu suas curvas e se lançou como modelo plus-size.

Ultimamente, muito burburinho tem rolado em relação ao corpo da modelo: de magra à curvilínea e de curvilínea à magra, novamente a legião de fãs – em sua maioria mulheres plus size – que Crystal conquistou se sentiu traída quando a top revelou uma silhueta bem mais esguia nas passarelas e editoriais de moda.

 

Crystal no auge de sua carreira plus size
Crystal na atualidade, em um de seus últimos trabalhos para a loja Lord & Taylor

“Quando toda essa coisa de eu perder peso aconteceu, acho que muitas pessoas quiseram apontar o dedo a alguém. Acho que eles queriam encontrar uma conspiração onde não havia nenhuma. As pessoas colocaram em mim um título de ‘plus-size’ e têm, na mente delas, uma imagem do que é plus-size e se frustram porque eu não correspondo a essa imagem”, desabafou a modelo em entrevista ao blog da agência de modelos Ford.

A verdade é que Crystal já passou por vários distúrbios alimentares e sempre sofreu com seu corpo, tanto que até escreveu um livro sobre isso. Em minha opinião, ela nunca se encaixou nos moldes de uma real modelo plus-size, como a nossa Fluvia Lacerda e seu corpo de violão, por exemplo. Renn sempre foi aquela mulher que não se encaixava em categoria alguma: não era magra o suficiente, mas também não era gorda. Na via das dúvidas, jogaram a moça para o nicho plus-size e lá a deixaram.

Na opinião de Michael Gross, autor do livro “Model: the ugly business of beautiful women”, Crystall, de uma certa forma, merece toda a crítica que está recebendo. “Ela fez seu dinheiro ganhando peso e agora está emagrecendo. Não sei se seria hipocrisia, mas acho válido fazer uma observação sobre isso”, afirmou em entrevista ao site da rede de televisão norte-americana ABCNews.

Quando Crystal começou a fazer sucesso como modelo plus-size, ela realmente tinha curvas bem mais avantajadas do que as atuais. Ao acompanhar sua carreira, o tão temido “efeito sanfona” é facilmente percebido. Sua trajetória mostra silhuetas diversas, que geraram polêmica e decepção a muitas de suas admiradoras.

Em versão mais cheinha
Versão atual, mais magra

Recentemente, eu e outras meninas temos conversado muito sobre essa questão das modelos plus-size e da imagem que as marcas querem passar. Você dificilmente vê lojas que investem em modelos realmente gordinhas, de tamanho 46 acima. O que me parece, e novamente digo que é minha opinião pessoal, é que algumas marcas parecem ter medo de colocar uma mulher mais cheinha e curvilínea para lhes representar (isso não se aplica à todas as marcas, que fique bem claro).

O que me frustra dizer é que Crystal é apenas um espelho de como a sociedade ainda não consegue e não está pronta para aceitar aquilo que não condiz com o padrão por ela definido como ideal. John Galliano, o homem que pelos últimos anos elevou o nome da marca Dior, precisou de meia dúzia de palavras para afundá-lo ao ofender uma moça judia. Mas espere: ele também a chamou de feia e gorda – Galliano, o queridinho e revolucionário estilista, mais uma vez reforçou que para a moda, os gordos poderiam ser jogados nas câmaras de gás e extintos do planeta, porque assim como os judeus eram uma afronta à raça ariana para Hitler, para o mundo da moda, os gordos são uma afronta.

Palavras cruéis, eu sei. Difícil para mim escrever tudo isso, mas com todo esse combo Crystal e Galliano, me peguei pensando em como a sociedade ainda não consegue nos aceitar como somos. Temos que estar sempre em busca de uma imagem irreal, que aos olhos de muitos parece perfeita. Não podemos ser gordos, felizes e saudáveis ou simplesmente gordos. Temos sempre que estar de dieta, nos conformar em comprar roupas horrorosas e ainda achar bacana que lojas especializadas dêem preferência a uma modelo de manequim 42-44 do que uma que vista 48.

Consigo entender a frustração de quem admirava o trabalho de Crystal. É como muitas se sentiram aqui quando Fabiana Karla revelou a cirurgia bariátrica dizendo que não havia assinado um atestado de que seria gorda para sempre. As pessoas, e em especial os gordinhos, têm essa necessidade de se identificar com alguém e se inspirar na boa estima dessa pessoa para se sentir melhor consigo mesmo, mas não podemos intervir naquilo que o outro é e no que ele quer ser. Muitas vezes isso se mistura e as pessoas passam a criar um juízo de valor que não lhes cabe.

Gostaria de deixar aqui uma reflexão: da mesma forma que temos que parar de nos vitimizar, não deveríamos nos apoiar em ninguém para construir uma boa autoestima. As pessoas mudam, as circunstâncias mudam. E se amanhã Fluvia Lacerda dissesse que teria que emagrecer 20 quilos por algum motivo? Deixaríamos de admirá-la? Não! Crystal, por exemplo, sempre deixou muito claro que teve problemas seríssimos com questões de peso. E quem disse que ela ainda não sofre com isso? Se para ela estar magra é melhor, não devemos apedrejá-la. Queremos respeito, mas temos que aprender a respeitar. Vejam bem: não estou defendendo e nem criticando Crystal. Estou usando o exemplo dela para falar de posturas que nós, pessoas acima do peso, costumamos ter.

Não julgue para não ser julgado. Pondere!

Fica a dica para mim e para você!

Um beijo,

Paula Bastos

Comentários

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11 comments

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Excelente texto! li muitas críticas sobre a cirurgia da Fabiana Karla, temos o direito de decidir sobre nosso corpo, quem é realmente obeso e tem problemas de saúde com isso, sabe a dificuldade ocasionada pelo excesso de peso. Péssimo buscar no outro uma identificação, ótimo é compartilhar e isso o grandes mulheres proporciona. Seja você, sempre

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Paulinha,

Esse seu ponto de vista é muito parecido com o meu…
Eu até já escrevi em uma das colunas que o problema das pessoas é acharem que fazemos apologia à gordura, o que não é verdade… A única apologia que fazemos é à autoestima, e ao direito de cada um se sentir bem dentro do modelo que quiser, sem precisar ser escravo do padrão.
Se uma pessoa está infeliz com o seu excesso de peso, tem mais é que correr atrás de emagrecer! A pessoa não é obrigada a ser gorda o resto da vida se isso não a faz verdadeiramente feliz., da mesma maneira que ninguém é obrigada a emagrecer só porque a socieadade acha mais bonito.
Não conheço a modelo citada no seu texto, mas posso imaginar que pra alguém que já sofreu distúrbios alimentares, chegar a um peso alto e se sentir segura com ele deve ser bem difícil… Talvez ela estivesse infeliz, e se era assim, ora ora, que busque o seu caminho!
Não me sinto frustrada quando um símbolo plus size emagrece ou se propõe a, porque, com você bem disse, enquanto precisarmos de referências externas, continuaremos na contra-mão do caminho que nos levará à nossa própria autoestima.

Parabéns pelo texto! Arrasou!!!

Beijos Fartos!

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Na boa, ser ou estar gordinho ao me ver, não signifca ofensa, significa apenas q estamos acima do peso e se esse número se revela também em excesso nos exames médicos, estamos doentes! Existe muitos gordinhos que tem uma ótima saúde, mas a grande maioria ou é pre-diabética ou já é, fora problemas de hipertensão, de coluna, dentre tantos outros. A pessoa se aceitar como ela é, não significa se aceitar doente ou até mesmo com uns quilinhos extras. Exemplo: ” me aceito como sou, mas meu cabelo está horrível assim, vou pintar, vou cortar, sei lá…”
Não concordo quando alguém xinga alguém de gordo, aliás, pra mim, isso não é xingar, já que a pessoa é mesmo gorda, mas a pessoa q xinga acha que é, quer ofender, isso é ridículo,mas quem está acima do peso tem q aceitar que é gordo e não se ofender também, senão gosta, parta para uma dieta, uma cirurgia, sei lá, fora que tem gente , a maioria que precisa mesmo, por questões médicas. Não entendo as pessoas se decepcionarem com fabiana karla pq ela vai operar, queriam o q? Ela tem obesidade mórbida cedo ou tarde ela ia ter riscos de vida. Ser gordo não é motivo de orgulho como ser magro também não é. É somente uma condição. As pessoas estão sempre atrás de ícones para se identiicar e n se sentirem sozinhas no mundo.

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Concordo totalmente com você! É isso o que penso: a saúde deve vir em primeiro lugar. Se você é gordinho, está saudável e se aceita, é ótimo, mas não adianta se aceitar e estar com problemas de saúde. Temos que buscar esse equilíbrio, físico e emocional para estarmos bem!
Obrigada pelo comentário 🙂

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É isso aí Paulitcha. Eu sou contra ditaduras da moda, o que não significa que eu esteja 100% comigo mesma. Não tô satisfeita, vivo de dieta, mas to feliz, e daí? Claro que isso é possível! O problema não é ser magra ou gorda, é associar o seu peso à felicidade e buscá-la a qualquer custo – ficando doente por exemplo. Fico feliz pela modelo que superou os problemas de saúde e hoje está bem com ela mesma. Pra mim ela passa a ser exemplo em outra categoria. Comer demais, pra muita gente, é uma fraqueza emocional, e ninguém lida bem com as próprias fraquezas. Em uma bulímica a sensação de impotência, de falta de auto-controle, reflete muito mais na auto-estima do que o peso em si. É demais ver uma pessoa que venceu, não por estar magra ou gorda, mas por ter se tornado um ser humano melhor, mais equilibrado, com a mente e o corpo saudáveis. É isso que leva a gente pra frente.. Então vamo que vamo!

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Sil, matou a pau! É bem isso mesmo! Não tenho o que acrescentar!
=]

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Nunca li algo tão real e tão profundo sobvre a ditadura da magreza onde estamos todos cegamente inseridos.

É muito mais difícil se aceitar quando a sociedade não te aceita. É dificl assumir que veste 48, 50, quando as lojas só fabricam modelos até o 44.

Até quando, gente?

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Nossa..eu não tinha visto essa foto da Crystal, a segunda foto. Me assustei, porque ela parece ter passado fome.

Bom a Crystal tem sérios problemas com o peso uma hora bem fofinha, outra hora magérrima… talvez para a saúde isso não seja bom, esse efeito sanfona. Se ela ficar magrinha e estiver com uma boa saúde…não vejo problemas…

A respeito de cirurgias…é complicado falar..né… a mídia divulga como a 8ª maravilha do mundo, a Fabiana karla até afirmou que comeria tudo a vontade. Mas sabemos que não adianta nada fazer cirurgia e continuar comendo a vontade que certamente a pessoa engorda…. não inventaram essa cirurgia milagrosa ainda….kkkkkkkkk…

Eu olho no espelho e me vejo sozinha, acho que ninguém é capaz de aumentar ou diminuir a minha auto-estima somente eu mesma…

Ótimo texto….beijo

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Como especialista em Desenvolvimento Pessol, ´penso que no final é tudo uma questão de valores. O que pode ser valor para um, não será para o outro.

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Adorei o texto.
Dos outros citados já teci tantos comentários que cansei. Mas sobre a Crystal não posso me calar. A menina tem uma doença grave e imagino como deve ser duro conviver com criticas a vida toda. Acredito inclusive que ela não esteja tão magra por opção, penso que, infelizmente, seja mais uma fase da doença.
Bjks
Mel

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O tema do artigo tem direito a decidir sobre seu próprio corpo e eu tenho a liberdade de consciencia (gosto incluído) e expressão que a constituição me confere dentro dos limites legais: ELA FICOU PODRE APÓS O EMAGRECIMENTO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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