No último fim de semana, nos dias 23 e 24 de julho, ocorreu o único evento de moda destinado à moda plus size. O Grandes Mulheres acompanhou o último dia de desfiles e aproveitou o momento para conversar com os principais estilistas e donos de marcas do segmento.
A estilista Ana Lisboa, no mercado há cinco anos com moda íntima e praia da marca que leva seu nome, conta que começou a confeccionar para as mulheres acima do peso devido às dificuldades com o próprio corpo. “Também sou uma grande mulher e não achava nada para vestir e me sentir bonita. Hoje, minha maior satisfação em manter a Ana Lisboa – Lingerie para Grandes Mulheres (sim, ela leva o GM no slogan) é a alegria das clientes.”
Segundo a estilista, as mulheres chegam em sua loja com a autoestima em baixa, infelizes com o corpo e com a vida. “Não é porque é gorda que não pode ser bonita, infelizmente muitas mulheres não conseguem entender isso. Mas ao colocarem uma lingerie bonita, que não apertam o corpo é uma vitória também para mim.”
Outra marca de renome é a Ness Lingerie, de Márcia Ramos. A dona da fábrica e responsável pelas criações revela que ainda é pequeno o público consumidor, embora esteja crescendo a cada ano. “Tenho clientes fiéis, já que há 10 anos a Ness está no mercado, mas muito precisa ser feito ainda. A moda plus size está restrita a São Paulo capital, disseminada em pouco municípios do interior paulista, mas para por aí.” A intenção de Márcia é expandir as vendas para o resto do País, atingindo também as gordinhas do resto do Sudeste, além de Nordeste, e Sul.
Sulistas
E quando o assunto é a moda plus size no Sul do Brasil, o tema é ainda mais crítico. A estudante e blogueira do Manual Prático da Gordinha, do Rio Grande do Sul, Litha Bacchi, 21 anos, revela que toda sua família é de gordinhos, e quem disse que se aceitam? “Somos descendentes de italianos, como a maioria das pessoas de lá [Rio Grande do Sul]. Entre nós existe até piada de gordo, ninguém se aceita como tal.” Moda? Outro assunto tabu. Quando há peças legais é um achado, mas a sorte nem sempre bate a porta. Assim, lança-se mão da criatividade.
Corroborando com a ideia de Litha, a modelo Lauren Sieminski, 30 anos, afirma que a maioria das pessoas da região está acima do peso, com o manequim entre o 44 e 46, mas nem assim há atenção para os consumidores em potencial. “É um mercado muito conservador. Nem os próprios gordos se aceitam. A começar pela confecção de vendas até chegar à contratação de modelos. Não há agência que empregue modelos plus size, é necessário dar a cara à tapa.”
Lauren ainda conta que quando aparece trabalho não existe cachê, na maioria das vezes. “É o esquema de permuta. Ou locação ou doação de roupas, dificilmente se ganha dinheiro”, por isso, não dá para sobreviver apenas com a profissão de modelo, que acaba se tornando um emprego alternativo ou hobby de fim de semana ou quando aparecem eventos.