Leitora assídua de jornais “passados”,deparei-me dias atrás com a edição de 6/6/2010 do Estadão com a pérola: “Professor de paquera dá aula aos sem-jeito”

O dito expert (gostaria de ver suas referências. QUEM ele já pegou?) classifica os “pegadores” de A a D, conforme o sucesso, e desenvolveu técnicas altamente sofisticadas de abordagem como:

“malhar o morto”o pegador insiste tanto que ela(e) ressuscita e percebe que ele é o máximo

“papagaiar” – imitar o jeito de falar dela(e)

“push and pull” (em inglês!) – se afastar uns passos durante o papo para que o outro seja forçado a vir até o pegador

“ejetar” – fugir do desinteressado(a) renitente antes de ser mandado embora .

Nas instruções preliminares da aula prática ele passa para os energúmenos a teoria do xaveco, incluindo a máxima: Vale mentir. O treinador dá missões para os alunos. A mais básica é “conversar com uma feinha” (somos sempre as buchas de canhão…) até “levar um papo com a bonitona”.

Bom, acho que isso é como votar no Collor: se tem mercado, vá em frente, e depois o trouxa que comprou que acorde um dia.

Meu ponto é outro.

Muitas pessoas maduras rompem relacionamentos longos e ao se verem de novo “no mercado” procuram desesperadamente se enquadrar na categoria “desejável”. Cirurgias plásticas, horas de academia e personal stylist.  Depois, continuam frustradas porque a sociedade em geral cobra que o homem arrume uma mulher mais nova e desejada, e a mulher que arrume um homem mais bonito e bem sucedido. Mesmo pessoas jovens sofrem esta pressão por não terem relacionamentos, principalmente os “sem jeito”.

A questão é: ONDE você está procurando, e POR QUE está procurando exatamente ALI?

Os caçadores(as) de bar e academia são o que o nome diz: caçadores. Pessoas que buscam um breve momento em que se sentem superiores a outra criatura. Abatem presas numa escala gradual de tamanho e periculosidade até chegarem ao seu nível máximo, depois, empalham e penduram na sala de troféus.

Mesmo que seja o rei dos animais, ele vai ter respeito pela presa durante os exatos 15 minutos que a caça durar, e, depois, vai procurar coisa maior e mais desafiadora. 

Eu nunca soube de um caso em que o caçador manteve um relacionamento ou conversas inteligentes com o troféu. Eles olham para os menorzinhos (feinhos) como prêmios de consolação e para os “grandões” (a loiruda, o garanhão) como objetos de desejo transitório. Vão “ficando” com a zebra até que apareça um leopardo na sua mira.

O mercado tem sempre duas pontas: o vendedor e o comprador. Se o nerd, por uma dessas coisas de loteria, pegar a loiruda, ele vai ficar contando isso durante anos para os amigos. Se a loiruda pegar o nerd ela não vai contar pra ninguém e vai chegar em casa pensando “Cruzes, que decadência, peguei um nerd”.

Este tipo de encontro nunca vai levar a nada mais profundo e recompensador. Não importa o objetivo a longo prazo, o resultado da caçada dá a eles a justa medida do seu próprio valor, o seu valor de mercado é a única forma como eles conseguem se avaliar.

Para encontrar pessoas que possam levar a relacionamentos em seu significado mais profundo, seria preciso esquecer a vitrine dos bares e voltar ao bom e velho conceito dos clãs.

Shakespeare disse: “it takes one to know one”, algo que poderia ser traduzido como: é preciso ser um deles para poder reconhecer o outro e compreendê-lo.

Em última instância, para ser FELIZ (ao invés de bem cotado), o nerd precisa de uma nerda que ame uma casa cheia de gadgets e entenda seu projeto de programação para apreciar sua conquista.
O economista precisa de alguém que possa entender a verdadeira e desesperada angústia que o mercado financeiro pode trazer à sua vida.

Ao invés de procurar em bares,eles deveriam frequentar o clã.
Gosta de ler? Vá a livrarias, bibliotecas, lançamentos de livros.
Gosta de lazer ao ar livre? vá a parques, lagos, etc.
Gosta de academia? Meus pêsames.

Para estabelecer uma rota no seu GPS é preciso antes saber ONDE você quer chegar, e para isto é preciso saber O QUÊ você realmente quer.

Você está “voltando ao mercado” em busca de troféus? Da emoção da caça? Para fazer pesquisa de opinião e saber quanto você está valendo no mercado?

Você está buscando um OUTRO que o complete, daquele tipo com quem se passa 4 horas conversando sem olhar no relógio, com quem não precisaria fazer concessões em 80% da sua vida para morar junto?

Jung escreveu: “O homem que olha para fora, sonha; o que olha para dentro, acorda.”

Pessoas que andam por aí com um destino confuso em seus GPS ficam “no mercado” por alguns anos, depois se cansam dos sacrifícios para manter a aparência, acabam acumulando uma frustração imensa e se tornam céticos e amargos. Rodaram e rodaram gastando um montão de combustível e não chegaram a lugar algum, porque não sabiam aonde queriam chegar.

O que você quer? + O que você tem para dar?
é uma equação tão importante quanto latitude e longitude para o seu GPS. Permitem traçar um destino em que padrões de aparência e status passem a ser detalhes agregadores ao invés de um objetivo em si. 

O seu valor “de mercado” não é o que você é de verdade. (mesmo porque uma antiguidade com a minha idade já deve valer uma grana preta…)

Particularmente eu nunca conseguiria ter respeito por um caçador, nem teria estômago para a caça.
Muito mais interessante é o domador, que tem coragem e respeito para conviver com a onça viva e solta.

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