Imagem: Joanna Will / Shutterstock.com
Levei uns bons anos para usar o “rótulo” de feminista. Não sou muito fã de rótulos, mas sim, sou feminista. Jamais seria louca de dizer que sou super entendida sobre o assunto. Não li livros de estudiosas da área ou artigos científicos que me dessem um vasto embasamento. Minhas leituras foram mais simples, mais corriqueiras. Muito do que aprendi foi com amigas e com a minha própria vivência. Claro que tenho que estudar e pesquisar sobre, mas quis deixar claro que o meu conhecimento é nível básico. Dito isso, quero contar uma história real sobre machismo a vocês, pois acredito que pode ajudar a conscientizar muita gente que passa por aqui.
Tenho convivência com uma pessoa que é do futebol, meio super machista, todos sabem. No “Dia das Mulheres”, a pessoa em questão fez um post no Facebook dizendo assim:
“Vocês são tão perfeitas que é impossível amar só uma. Feliz Dia das Mulheres!”
Vi o post. Parei. A interpretação é dupla: ele poderia estar falando que ama várias mulheres, como a mãe, a vó, a tia, a amiga e etc, mas isso não foi o que ele quis dizer. Ele se referia a não conseguir amar apenas uma mulher, de ter que pegar várias, ter várias. Legal, campeão. Nota 10 – só que não. Aquilo me deu um nó na garganta e eu, que não dou ponto sem nó, fui lá deixar meu comentário, que foi super de boa – mesmo! Primeiro brinquei para chamar a atenção dele. Já imaginava a resposta e bingo, deu certo: ele abriu a brecha que eu precisava para falar. Sei que ninguém muda da noite para o dia, mas acredito muito no plantar da semente para que reflexões aconteçam e, assim, uma possível mudança de comportamento também.
O machismo nosso de cada dia
Imagem de Ms Jane Campbell / Shutterstock.com
“Ensine garotas a ser alguém e não de alguém”, diz o cartaz da protestante
Minha primeira argumentação foi sobre a brincadeira feita. Sei que ele não fez por maldade porque o conheço, mas é esse o X da questão: é mais um comportamento tão enraizado que a maioria das pessoas não percebe o quanto é nocivo. Ele quis ser engraçadão, colar de garanhão com a galera do futebol, mas não se tocou que o comentário em questão só perpetua uma imagem desnecessária de um modelo de sociedade que vangloria o homem e diminui a mulher como um simples objeto. Foi um post bem machista. Na cultura do futebol a mulher é um trofeuzinho pro cara pegar, se gabar e, depois, jogar fora. Nem preciso dizer o quanto isso é errado, certo? É machismo puro.
Eu parto do seguinte princípio: você não precisa concordar com ninguém, mas você tem o dever de respeitar as pessoas. Talvez na sua concepção seja um absurdo uma menina transar com vários caras, mas ei, guarde isso pra você. A vida é dela, o corpo é dela. Não é problema seu. Ninguém aqui é Deus para julgar o semelhante, ninguém aqui é santo. Talvez você se case virgem com o homem da sua vida, mas comete outros erros, então ninguém está em posição de julgar nada. Respeito é o mínimo que se deve ter por qualquer ser humano. Recomendo demais praticar a empatia também, pois tudo muda de figura quando nos colocamos no lugar do outro e tentamos ver a perspectiva sob os olhos dele.
Seguindo o meu comentário, um amigo dele sabiamente comentou que “brincadeira hoje, agressão amanhã”. Achei de uma sensatez extrema. As pessoas tendem a pensar em agressão apenas como tapa e soco, mas mulheres são agredidas de diversas formas, especialmente no psicológico. Muitas estão em relacionamentos abusivos e não se dão conta (inclusive recomendo demais que vocês assistam a esse vídeo que a Ju Romano e o Lucas gravaram sobre isso, é maravilhoso!), então preste atenção no que acontece na sua vida e se livre dessas amarras assim que se der conta delas.
Refletindo sobre o seu comportamento
O rapaz veio argumentar que era apenas uma brincadeira e que eu não havia entendido, mas voltei a corrigi-lo. Salientei que mesmo que feita sem maldade, a fala dele em uma rede social perpetuava um comportamento que acontece todos os dias na nossa sociedade e que, infelizmente, a maioria ainda vê como ok. O cara ser garanhão e pegar todas é super ok, mas se a menina se comporta da mesma forma ela é uma “biscate” que não se dá o valor. Isso ainda faz com o que o cara se torne mais cobiçado, pois “pegá-lo se torna uma disputa” e há anos mulheres foram ensinadas a competir por macho. O oposto, no entanto, é uma tragédia, pois se a mulher fica com vários ela perde seu valor. Vivemos um momento em que a desconstrução é necessária e esses discursos, mesmo que na brincadeira, reforçam o comportamento de que o homem pode tudo e a mulher está à mercê do julgamento masculino.
O machismo, o preconceito, o racismo, a homofobia estão escondidos em tantos bordões, piadas e atitudes que são propagadas como “regulares” que a gente às vezes nem se dá conta, por isso eu peguei no pé dele e quis reproduzir a situação aqui. Quero que vocês se atentem para essas questões, comportamentos e atitudes. São em momentos assim que a gente faz as pessoas refletirem e não repercutirem mais esses discursos que só corroboram para comportamentos opressores. Eu tenho pavor de situações que ficam parecendo guerrinha entre homens e mulheres. Acredito em igualdade e essa é a base do feminismo, então quero dar alguns exemplos:
– Se eu trabalho em uma empresa e ocupo o mesmo cargo que um homem, quero ganhar o mesmo que ele;
– Se eu tenho um filho, quero que o meu parceiro me ajude a cuidar dele tanto quanto eu. A mulher não faz o filho sozinha;
– Dividem o mesmo teto? Nada mais justo que as tarefas de casa sejam divididas, oras;
– Ambos trabalham fora? Dividam as tarefas, como preparar o jantar, olhar as crianças enquanto o outro cozinha e etc;
– O corpo da mulher e a vida dela pertencem a ela e quem julga o que fazer com eles é ela e apenas ela;
Sei que existem pessoas que me leem com as mais diferentes convicções e religiões, então quero deixar claro uma coisa antes de alguém vir falar algo: Jesus nunca julgou ninguém e Ele é filho de Deus, Ele tem poder para isso. Ele disse para amarmos ao próximo, então não cabe a você querer julgar ninguém. O seu dever, no entanto, é respeitar e, repito, ter empatia para se colocar no lugar do outro. Não corrobore com atitudes que destroem a mulher. Prestem atenção nos comentários e brincadeiras que vocês fazem, pois eles podem estar compactuando com atitudes negativas, que reforçam comportamentos opressores que vêm se perpetuando há décadas. Não seja essa pessoa, apenas não seja.