Esses dias muita gente me marcou em um assunto que foi pauta no site Petiscos e que foi notícia em dezenas de veículos importantes do mundo todo esta semana: estou falando do “Project Harpoon”. Deixa eu te explicar: um grupinho de gamers – que inclui mulheres – pró-magreza de uma comunidade online que é conhecida no mundo (4Chan) todo por humilhar, trollar e vazar fotos íntimas de pessoas, incluindo celebridades – resolveu fazer algo realmente doentio para “conscientizar” pessoas de que não é ok ser gordo. Eles criaram contas no Facebook e Instagram para mostrar ao mundo como gordos ficariam bacanas se fossem magros photoshopando o indivíduo sem dó nem piedade. Celebridades, modelos plus size e pessoas reais caíram nas garras dos “caçadores de baleias”, pois hapoon, em inglês, significa arpão, “ferramenta” utilizada para caçar esses animais.

project harpoon - grandes mulheres

As páginas do Facebook do Project Harpoon estão sendo tiradas do ar devido ao grande número de denúncias e a conta no Instagram também foi desativada, mas eles criaram outra. Pessoas do mundo todo estão indignadas com esta atitude gordofóbica, mas há quem apoie, é claro. Eles usavam hashtags do tipo #belezamagra #feminismo #saúde #garotasfitness e etc. Muitas das publicações eram uma afronta ao feminismo, que vem lutando contra os padrões de beleza impostos pela mídia e sociedade, dizendo que as pessoas deviam parar de incentivar a obesidade porque é uma doença e que não há nada de bom em ser gordo.

Nick Baskins, um dos idealizadores do Project Harpoon foi entrevistado pela revista norte-americana PEOPLE. Ele declarou que a intenção do grupo não é ofender e sim inspirar pessoas a se imaginarem magras, saudáveis e mais bonitas. As imagens mostram a pessoa real e, ao lado, a versão completamente modificada pelo Photoshop. “Estamos mirando o movimento HAES (Healthy at Every Size – Saudável em qualquer tamanho) e acreditamos que isso simplesmente não é verdade. Respeitamos todos os indivíduos, mas cremos que é simplesmente errado aceitar que é ok ser obeso”, disse à PEOPLE.

project harpoon 2 - grandes mulheres

Agora que vocês puderam realmente entender um pouco mais sobre o tal projeto cabeça de minhoca, vamos ao que eu penso:

1. Obesidade realmente é uma doença e ninguém é ingênuo o suficiente para não saber que ela tem consequências e causa problemas às pessoas. Todo gordo sabe disso, todo gordo sofre isso na pele. No entanto ser magro também não significa ser saudável. Eu mesma estou em melhores condições do que algumas amigas minhas que são magras e têm colesterol e vários outros problemas ligados à má alimentação. Existem gordos ativos e saudáveis, sim e isso até já foi comprovado cientificamente em estudos.

2. Não é porque uma pessoa é gorda que ela se entope de comida e é sedentária. Eu mesma vivo de dieta. Se eu não controlasse minha alimentação e não malhasse como malho, eu sei lá o que aconteceria comigo porque tenho muita tendência a engordar, por isso me cuido muito. No entanto é muito difícil para o meu corpo eliminar peso e isso é algo do meu organismo. Vou fazer o quê? Me matar porque não emagreço com facilidade? Desistir? Me abandonar? Não! Procuro fazer escolhas conscientes e não sou nada acomodada em relação às atividades físicas, tanto que agora estou até fazendo aulas com personal para ver se consigo mudar meu metabolismo. Assim como eu, várias pessoas obesas procuram alternativas para viver melhor e se cuidam bastante.

3. Ninguém é obrigado a viver gordo para sempre. Quem realmente está incomodado vai procurar uma forma de mudar isso e eu dou todo apoio para quem quer emagrecer, mas batalho para que haja respeito, aceitação e amor ao corpo – independente da forma que ele está -, pois é ele que nos abriga e nos carrega. Mesmo mulheres mais magras têm “defeitos” como celulites e estrias e também são bombardeadas com a idealização de uma imagem que não é real, por isso eu “prego” o amor ao corpo, o abraçar das imperfeições. A indústria e a mídia nunca querem nos ver felizes porque se nutrem das nossas inseguranças e “falhas”. Uma hora o seu cabelo vai ser problema, depois seu nariz, depois os seios… Vejam o número de cirurgias plásticas como vêm aumentando. Isso só indica o quanto as pessoas realmente precisam buscar artifícios para se sentirem mais aceitas, pois julgam que a beleza promoverá suas vidas.

4. Quando alguém quer fazer o bem, ele não é feito com base em chacota, humilhação e discursos de ódio. Esse grupinho tem um nível de concepção humana tão baixo que sequer conseguiram pensar em uma forma legitimamente bacana de promover ajuda às pessoas que eles julgam sofrer de um mal. Quer inspirar pessoas acima do peso a mudarem seus corpos? Meu amigo, tem tantas formas saudáveis de fazer isso, tantas maneiras de “querer ajudar”, mas claro que é mais fácil humilhar, difamar, ridicularizar, expor e usar uma linguagem que vai colaborar ainda mais para aquelas pessoas que sofrem com a obesidade e se odeiam a se sentirem um lixo e indignas de viver. Será que eles pararam para pensar que algumas pessoas, ao se deparar com uma coisa dessas e se sentirem fracassadas, podem até tentar tirar a própria vida? Depressão e suicídio não são brincadeira e eles estão lidando com coisas sérias. O Project Harpoon é realmente doentio.

5. Ninguém tem o direito de querer impor um padrão ou conceito para outra pessoa. O que é certo para mim pode não ser para o outro. Veja a intolerância religiosa, por exemplo, que gera tantos conflitos mundiais. O seu conceito de beleza pode não ser o mesmo que o meu e cada indivíduo tem o livre arbítrio de escolher o que pensa e quer para a própria vida. Um indivíduo não tem o direito de querer impor algo para outro, por isso é importante que tolerância e respeito andem de mãos dadas. Você pode até aconselhar e tentar ajudar alguém, mas a palavra final é sempre da outra pessoa e se ela não quiser te ouvir, só te resta respeitar. Agora, há formas e formas de discutir e apresentar uma ideia e o Project Harpoon é uma grande falta de respeito à humanidade das pessoas, a começar pelo próprio nome. Alguém que tem boas intenções usaria mesmo um nome desses para um projeto que diz querer beneficiar e ajudar pessoas? Por favor, não ofenda minha inteligência.

6. Só consigo sentir muito por esse grupinho de pessoas. Nem compaixão eu tenho, é dó mesmo. Enquanto isso, continuo aqui, linda, gorda, me amando e me cuidando e empoderando outras mulheres. Beijos!

A Ju Romano, a Maristela, do Tamanho P, e a Mari Musuc do Moda Plus Size Brasil também escreveram sobre o project harpoon em seus blogs. Vale muito a leitura:

Tamanho P: http://goo.gl/ATastV

Ju Romano: http://goo.gl/gkyWn6

Mari: http://goo.gl/royaxi

E vocês, o que acharam desse projeto? Quero saber o que pensam nos comentários!!

Comentários

Recomendados

5 comments

Responder

Infelizmente essa é a realidade! Triste, muito triste, pois merecemos respeito…mas o que me deixa mais triste e indignada é que quando sofremos algum tipo de preconceito não podemos falar nada, pois somos taxados de de várias coisas e não somos defendidos….

Responder

Existem tantas coisas preocupantes no mundo! Pessoas se juntam para criar um projeto com esse nome e com esse objetivo?! Só podem ser pessoas totalmente alienadas e infelizes. Eu, com toda minha gordura acumulada, faço muito mais pelas pessoas.

Responder

Pois é, Débora… É muito triste pensar em como o ser humano pode ser egocêntrico e doente às vezes!

Responder

Infelizes,Nem a magreza nem a beleza estereotipada poderiam preencher a imensa infelicidade e vazio que essas pessoas sentem. Quem precisa humilhar,tratar com deboche mostra imaturidade e muito medo de pessoas que se amam e respeitam o que é diferente.Meus pêsames as pessoas deste grupo. Mortos e destruídos por dentro.Para eles cabe aquela frase, a melhor defesa é o ataque.abraços Paula querida.

Deixe um comentário

Seu email não será publicado. Required fields are marked *