Sua vida perfeita não me interessa, obrigada!

Às vezes levo uns baques da vida que, juro, me faz ter vontade de “matá-la”. É um saco: você mal se recuperou de alguma coisa e lá vem outra, pronta para te fazer sentir a menor das criaturas. Convivo com algumas pessoas que devem ter nascido com a tal “bunda virada para a lua”, como dizem, pois tudo parece fluir meio que bem na vida delas. Claro que existem problemas e tudo mais, mas parece sempre mais simples e envolve menos sofrimento. Já comigo é assim: se estiver tudo indo muito bem ou for meio fácil, corre… Mas corre mesmo porque vai dar muito errado depois. Sim, estou bem pessimista hoje e não vou me desculpar por isso: tenho motivos para estar chateada e eu não sou a blogueira que finge ter uma vida perfeita e de sonhos em fotos, vídeos e textos para fazer vocês quererem ser eu ou ter a minha vida. Eu tenho uma vida tão cheia de problemas e tenho que lidar com tantas crises existenciais como qualquer outra mulher gorda.

Estou cansada de ver essa vida “perfeita” das pessoas nas redes sociais. É como se ninguém mais tivesse problema, todo mundo fizesse trocentas viagens incríveis várias vezes por ano, tivesse grana para comprar insanamente, só tivesse amigos lindos, frequentasse festas e eventos badalados, estivesse sempre perfeita e pronta para tudo: oi? Sério mesmo? E o pior é que as pessoas gostam de ver isso e se iludem muito com a vida alheia e aí passam a projetar a própria em cima desses sonhos e ilusões que os outros vivem. Esta semana uma moça me escreveu agradecendo por eu ser como era, por não fingir ser uma gorda que super se aceita e não tem problema algum de autoestima ou com a própria imagem, de eu falar dos dilemas que as gordas enfrentam, de ser transparente, de gravar vídeo desarrumada, de tirar foto do meu dia a dia sem produção e etc. Eu fiquei refletindo em cima da mensagem dela por um bom tempo: sou o que sou e minha vida não tem glamour algum.

Pegando o gancho em cima disso, esta semana várias amigas vieram me mostrar o post de uma blogueira magra e famosinha do FHits que deixou muita gente embasbacada. Nele, ela fala como ficou a vida dela depois de ser blogueira e eu li um absurdo atrás do outro. Ela fala muita baboseira, mas das que mais me lembro são: a de ter sempre que emagrecer mais porque todas as blogueiras são suuuuper magrinhas e lindas; a de nunca poder sair de casa desarrumada; a de nunca poder discutir ou se chatear em público porque alguém pode te reconhecer e pode ficar super feio para você e a de ter que sempre tirar foto do prato de um restaurante bacana antes de comer para postar nas redes sociais e a lista continua. Eu dei uma lida rápida porque não tenho saco para esse tipo de futilidade e fiquei assim, passada. Sério que é essa imagem que ela quer que as pessoas tenham dela? E aí cria-se esse estigma de que as blogueiras têm vidas perfeitas.

Eu saio mais desarrumada de casa do que arrumada, inclusive a maioria das leitoras que já conheci na rua me conheceram sem maquiagem, sem aplique, sem produção e eu não me senti nem um pouco constrangida de não estar “montada”. Sabe, chega de fingir que a vida é perfeita porque a de ninguém é! Nem a da Angelina Jolie e do Brad Pitt é. Ninguém vive uma vida perfeita e tudo o que é postado é manipulado com o intuito de passar ao outro uma imagem que você quer ter de si mesmo. Eu trabalho das oito da manhã até às onze da noite todo santo dia e trabalho muito também de fim de semana e feriado; não tenho férias e tenho que fazer malabarismo para continuar com o blog, para ser assídua e fazer o mínimo que considero ideal para apresentar a vocês um trabalho bom, mas eu gostaria de fazer mais, muito mais, só que ainda não dá. Eu não posso parar de trabalhar para viver do blog ou morreria de fome. Minha vida é dura, é solitária, eu tenho que juntar moedinhas para poder fazer uma viagem ou para comer num restaurante bacana – e vou dizer que até nisso tenho espírito de pobre porque eu detesto essas comidas gourmet cheia de coisas que eu não como. Sou muito mais feliz comendo em um restaurante normal, simples.

A verdade é que todo mundo tem problema e para cada pessoa, o problema tem um peso. O que pode ser muito simples de resolver para mim pode ser um monstro para você, então não podemos julgar as limitações do outro. O que você não deve é ficar se iludindo com publicações nos blogs e redes sociais achando que essas pessoas têm vidas perfeitas, cheias de glamour. Eu aposto que até a Thássia Naves – que é uma blogueira que eu gosto e vou usar como exemplo -, com toda a fama, dinheiro e inúmeras viagens dela deve sofrer com muita coisa que não cabe a nós julgar. Talvez ela tenha que ser escrava de uma “imagem de vida perfeita” que ela construiu e talvez “não possa” mesmo sair da casa dela sem se arrumar com medo do que as pessoas na rua podem pensar – estou apenas fazendo uma suposição como exemplo, ok? Imagina que saco não poder sair de casa de qualquer jeito para ir à padaria comprar um pão? Imagina que saco ter que aparentar estar se sentindo sempre linda, feliz e sorridente quando você está desmoronando por dentro?

Não se iluda: a vida perfeita não existe e você nem deve ostentar e desejar isso para você: olhe para a sua com mais amor, pense nos aspectos que você pode melhorar, vá fazer sua viagem bacana ou jantar naquele restaurante legal realmente dando valor ao momento que você está vivendo e se permita sentir felicidade, sabe? Talvez você só viaje uma vez por ano e coma num restaurante legal a cada dois meses: não importa! Curta tudo aquilo que você conquista, enfrente suas crises, se regozije nos dias bons, mas nunca se iluda com a aparente perfeição da vida alheia: infelizmente, em nossa sociedade, a perfeição é forjada e não passa de ilusão. Querer crescer mais, se amar mais, ganhar mais dinheiro e conquistar coisas que você deseja não é nada errado, mas cuidado com as projeções que você faz para não se frustrar depois:  a vida real não é um álbum de fotos do Facebook ou as publicações do Instagram!

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