A polícia do corpo alheio

Hoje, ao acordar, estava vendo o Instagram e a primeira postagem era da minha amiga Débora Fernandes. Ela compartilhou uma imagem que o site EGO fez da cantora Preta Gil com o seguinte dizer: “Tenho celulite sim e não me envergonho”. Cheguei de viagem já querendo gravar um vlog sobre esse assunto, mas decidi escrever um texto também porque nem todo mundo que me lê vai me assistir e vice-versa. Viajei para Maceió e quis aproveitar a paisagem maravilhosa para fotografar, todos os dias em que fui à praia, o biquíni que estava usando para empoderar minhas leitoras e ajudar mulheres a se desprenderem do medo de exibir seus corpos. Acredito eu que apenas uns 3% das mulheres do mundo tenham o que a mídia chama de “corpo de verão”: sarado, torneado, sem excessos, sem celulite. Só é assim quem já nasceu com uma genética muito boa e malha muito, o que não condiz com a realidade de 97% das mulheres.

Quando me libertei do medo de usar biquíni e postei as primeiras fotos que fiz em uma piscina aqui no blog, senti que realmente tinha vencido aquele meu medo e, estando na praia, percebi que mesmo estando mais gorda do que eu normalmente sou – porque engordei uns 10 kg nesse fim de ano devido a um problema de saúde que não me cabe falar aqui -, eu estava bem tranquila com a minha imagem e nem um pouco preocupada se alguém no local estava me medindo e falando de mim. Estava em um pedaço do paraíso, curtindo minhas férias, então porque me importaria com a opinião alheia? Tenho mais o que fazer! E usei meus biquínis livre, leve e solta!

Mas vamos falar da polícia do corpo alheio que está em peso na internet, aquela que se esconde por trás da tela de um computador, aquela que não sabe diferenciar opinião de ofensa, a que se denomina rainha da verdade, que critica os outros mas não olha para si mesma e ainda ajuda a reforçar a ditadura doentia da beleza… Ah, essa polícia! No primeiro dia de praia postei uma foto com um biquíni e um dos primeiros comentários era de uma mulher caçoando muito a minha imagem dizendo que eu estava me expondo ao ridículo. Mais de 400 pessoas responderam à ela me “defendendo”, mas o que me entristeceu é que a maioria das pessoas que revidavam faziam isso usando discurso de ódio de volta e esse não é o caminho. A mulher foi preconceituosa porque estava reproduzindo o discurso da massa de que só pode usar biquíni quem tem corpão e isso é o que a gente mais ouve por aí, mas não é com xingamentos e com mais ódio que vamos ensinar a ela que as coisas não são assim. Depois de ser tão xingada ela veio me pedir desculpas por mensagem privada e eu conversei muito com ela e expliquei várias coisas. Aparentemente ela entendeu e disse que nunca mais faria isso, que ela não tinha o direito de magoar outra pessoa. Uma das coisas que tive que explicar a ela é que opinião é bem diferente de ofensa, pois os primeiros comentários dela foram bastante ofensivos e ela achando que aquilo era opinião e não era.

O segundo caso, para mim, chega a ser engraçado… Postei outra foto de biquíni. Era o mesmo exato modelo do biquíni que mais elogiaram e algumas pessoas foram lá falar que estava pequeno, que meus seios ficaram feios, que ficou sobrando, caído e etc. Vejam bem: eu estava em uma praia, praticamente sem sinal de celular, de férias, relaxando e postei uma foto. Realmente eu não ajeitei meu seio no biquíni pra tirar a foto e eu vi esse detalhe antes de postar, mas nem me importei porque o conjunto da foto era mais bonito para mim. O que veio de polícia fiscalizar o meu peito e dar palpite e falar isso e aquilo não tá no gibi. E eu ainda me dei ao trabalho de explicar que estava grande – sobra bojo nesses biquínis pra mim porque meu seio é mediano e as costas largas – e elas caçoando que estava sobrando na lateral e bla bla bla. Detalhe é que se elas queriam fiscalizar tanto assim, era só olhar o outro lado do biquíni pra ver que não estava sobrando nada, foi apenas uma questão de não ter ajeitado o seio naquela hora, não estava pequeno, mas a polícia só faltou pegar uma fita métrica e medir. As discussões não acabavam: era gente querendo dar palpite nos meus seios e no que eu tinha que usar que não acabava mais. A resposta é muito simples: o corpo é meu e eu uso aquilo que eu quiser, gostem as pessoas ou não. É isso que você tem que ter em mente sempre, sempre. Você sabe o que fica bom em você, o que faz você se sentir feliz e é isso que você tem que usar. O que os outros vão pensar é problema deles.

Tem outra parte da polícia, aquela que diz assim: “se você não quer opinião, então não poste fotos, não se exponha”. Olha, eu tenho que ter mesmo uma paciência de Jó. Em primeiro lugar, eu jamais deixaria de postar algo que eu quero, que vai ajudar um monte de gente, com “medo” de julgamento de zé povinho. Não existe absolutamente nada que ninguém da polícia da internet possa dizer que vá fazer com que eu me sinta ofendida ou menosprezada porque eu fui muito bem curada disso. Minhas humilhações aconteceram até os 27 anos e tudo o que podiam ter feito para me ferir, fizeram até aí. Depois que eu me aceitei, me amei e entendi que eu não precisava ser de um jeito X para ser feliz, nada mais me abala porque eu realmente sei o meu valor, sou mais eu, então podem falar à vontade. Hoje, com 33, sou outra mulher, mas se as pessoas querem dizer o que elas bem entendem, eu vou responder o que é e aí já vem o discurso de “ai não sabe lidar com críticas”. Duas pessoas implicaram tanto que respondi a elas: “ué, se vocês estão tão incomodadas com o biquíni que escolhi e meus seios, é simples de resolver: façam uma vaquinha e me deem de presente o modelo que vocês julgam apropriado que vou usar feliz e contente” e aí elas ficaram incomodadas dizendo que eu não aceitava críticas!! Hahahahaha… Ai gente, tenho que rir alto, viu?

Escrevi tudo isso porque a real é o seguinte: você tem que ser você sempre e fazer os seus gostos. A tal “polícia” sempre vai existir porque felicidade e gente bem resolvida incomoda demais, então nem se preocupem com isso. Coloquem seus biquínis, maiôs, o que quiserem e vão à praia e à piscina com um sorriso no rosto porque ninguém tem o direito de intervir nas suas escolhas, de apontar o dedo para o seu corpo querendo dizer que algo é certo ou errado. Não existe corpo de verão: o que existe são mulheres bem resolvidas que entendem que seus corpos são partes de suas experiências de felicidade e que não são celulites, estrias, seios pequenos ou grandes, bunda ou a falta dela que vão fazer com que você deixe de aproveitar os melhores momentos do verão. E eu termino este texto com um trecho ótimo desse discurso de Preta Gil, que mandou muuuuuito bem:

“Aprendi a me amar e me valorizar pelo meu caráter. Meu corpo, minhas gordurinhas e minhas celulites não medem o meu caráter a minha garra!! Tenho celulite SIM e não tenho vergonha delas. Não vou me render nem virar escrava de um padrão de beleza que não é o meu! Eu também sou padrão de beleza, pois a maioria das mulheres brasileiras têm o meu biotipo. Gente, chega, guardem suas “opiniões” para vocês. Existem muitas mulheres que levam em consideração o que vocês falam e acabam pagando um preço alto para se encaixar no padrão imposto pela sociedade e mídia!! Tenho saúde, tenho amor e isso é o mais importante de tudo !! Tenho autoestima SIM e tenho senso, senso que um dia a terra come a nossa carne, mas a nossa alma tem que ser leve e livre!!!”

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