Ontem fiquei em choque quando uma amiga mandou o link de uma notícia dizendo que uma adolescente australiana havia cometido suicídio após o cantor Justin Bieber chamá-la de “baleia de praia”. Fui fazer uma pesquisa porque sei que nem tudo o que é publicado na internet é verídico. O que se sabe, de fato, é que o insulto realmente aconteceu, mas a história do suicídio parece ser uma brincadeira de má fé de um website de notícias falsas.

Eu realmente, de todo o meu coração, espero que a notícia da morte da garota seja falsa, mas o que sei é que milhares de meninas e mulheres de todos os lugares do mundo passam por esse tipo de situação diariamente. Justin Bieber pode ser famoso, mas ele é um adolescente altamente babaca como tantos outros que existem por aí. Claro que a decepção da menina deve ter sido ainda maior porque ela era fã dele – e eu nem vou perder meu tempo gastando palavras para xingar esse idiota sem fim porque não vale a pena – mas vou trazer a situação para a nossa realidade.

Quando li essa notícia da menina, a primeira coisa que me veio em mente foi uma lembrança da minha adolescência. Fui apaixonada por um garoto do meu bairro que era lindo e várias meninas o bajulavam. Eu era a gorda da turma, o alvo de chacota constante e ele zombava muito de mim na presença das pessoas, mas quando estávamos só eu e ele, o tratamento era completamente diferente: ele dizia que eu era super madura, que ele amava conversar comigo e que eu era linda, mas tinha que emagrecer um pouco para ficar “na medida”.

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Um belo dia um dos colegas convidou a turma toda para um passeio em sua chácara.  Todo mundo ficou cheio de empolgação e eu fui tomada de medo: lá tinha uma represa e a galera ia nadar. E a gorda? Naquela época eu tinha 13 anos e não era tão encanada como sou hoje porque não tinha nem celulite. Resolvi ir: coloquei meu maiô e fui. Quando subi no píer e estava prestes a mergulhar, o rapaz que eu gostava gritou: afastem-se porque a baleia vai pular e vocês podem se machucar.

Eu sentei no píer e desci delicadamente para a água com os olhos cheios d’água. Minha melhor amiga veio até mim para saber se eu estava bem e me lembro dela dizendo: “não chore na frente deles”. Fiquei um pouco na água porque queria tentar mostrar que eu estava nem aí – quando meu coração estava dilacerado de vergonha e dor por estar me sentindo julgada – e engoli o choro. O tempo todo em que permaneci na água ouvi comentários do tipo “ela está em seu habitat”, “vamos aprender a fazer truques na água com a baleia”. Enquanto escrevo a cena se repete em minha mente.

Muitas garotas passam por esse tipo de situação, especialmente na adolescência, que é uma fase cruel. Esses episódios ficam marcados como tatuagem em nós e só quem passa por isso sabe o quanto é difícil não se deixar abater por esse tipo de comentário maldoso. Nem todo mundo tem preparo psicológico para lidar com essas questões de forma madura e, mesmo que tenha, as cicatrizes e sequelas duram para sempre. Até hoje tenho problemas para me expor na praia e na piscina porque sinto como se todo mundo estivesse olhando para mim, me julgando pela aparência e fazendo piadinhas de mau gosto; sinto pânico só de pensar no dia em que tiver que me expor sob o sol brilhante em roupa de banho para algum cara com quem eu me relacione. Todas essas coisas marcam e doem demais.

Quantos Justin Biebers existem por aí? Quantos garotos fazem chacota de meninas com sobrepeso? Quantas “amigas” se referem a algumas meninas como a gorda da turma? Será que essas pessoas pararam para pensar, em algum momento, que todas essas palavras proferidas entram como uma bala na alma de quem recebe a ofensa? Esses insultos criam medos, feridas e comportamentos que às vezes levam uma vida toda para serem sanados e, pior, em alguns casos, nem o tempo e nem um acompanhamento psicológico dão conta de resolver.

Seria tão mais fácil se as pessoas se preocupassem em olhar apenas para os próprios defeitos e cuidassem da própria vida, buscando ser seres melhores para fazer o bem e colaborar com a evolução do mundo, mas não…ferir o outro e descontar nele todas as inseguranças que muitos têm é mais fácil. Posso não estar satisfeita com o meu cabelo, mas vou falar mal da gorda; posso ter a cara cheia de espinha, mas vou fazer chacota com a gorda; posso ser um zé à esquerda, mas vou pisotear na cabeça da gorda. É assim que muitas pessoas escolhem se comportar porque sim, você tem a escolha de praticar um comportamento: o mínimo de consciência todo mundo têm. É impossível não saber, mesmo sendo um adolescente, que uma ofensa vai criar sequelas em alguém, seja ela do tipo que for. Você tem a escolha de simplesmente não falar, de deixar passar, mas muitos decidem em propagar o mal.

Provavelmente você, mesmo que seja adulta, irá encontrar ou já encontrou muitos Justin Biebers por aí. Apenas tenha pena pela falta de evolução desse tipo de gente e tampe seus ouvidos porque você é muito mais do que um corpo. Os seus quilos não determinam nem a sua beleza, nem a sua inteligência e nem a sua capacidade. Não se contamine com a podridão alheia: mantenha seu coração puro e confiante sabendo que por mais que você encontre espinhos no caminho, existem pessoas que te amam e te apoiam do jeitinho que você é. Siga em frente, dê valor à vida que Deus te deu, mantenha seu coração feliz, sua autoestima lá em cima e siga radiante. Te garanto que quando você estiver reluzindo felicidade, a sua luz brilhará tanto que irá ofuscar todas essas nuvens negras que tentam se aproximar de você!

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11 comments

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Lembro de um menino na escola q fazia piada e eu pensava: “pra que isso?! O q vc ganha depreciando o outro?”
Infelizmente, por mais que a gente seja forte e tenha apoio, fica marcado.

Outra cena de colegio que lembro é a famosa medição da altura e pesagem no começo do ano pra aula de educação física. Nem sei se isso existe mais, mas, na minha época era um terror.
E o mais curioso, nao so pra quem estava acima do peso, sentia esse terror nos magrinhos também.

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Tenho muitas cicatrizes , pois tbm sempre fui ” a gorda da turma ” e ate hoje não consigo fazer amizades por esses medos que me deixam incapaz de fazer amizades . e me sinto muito mau por isso porque é bom ter um amigo de verdade pra desabafar brincar . nao que eu nap esteje contente com a minha familia e meu marido mais sempre temos que ter alguem de fora pra contar sempre :/ . Mais mesmo assim sou muito feliz .

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Paula..já tive muitos Justin Bieber na minha vida…mas o que doeu muito em mim, foi quando estava em uma balada com uma “amiga” e percebi se chega para ela, que tem corpo escultural, bonita e cheia de atrativos; um rapaz que não faz o gênero que ela gosta…ela diz que sou a “namorada” dela. Pois sou negra, gorda e nada de atrativo…né. Assim ela se livra “deles”…

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Acho bem chato a evidências que se dá a gordas quando se trata de bulling. Eu sofri bulling a vida inteira por que sou magra, chegavam a apostar durante a pesagem se eu passaria dos 30 kilos, fui chamada de esqueleto, costelinha e outros q não quero lembrar e que também me marcaram muito. Demorei anos para sair de shorts ou comprar uma bota cano alto pois diziam que era um canudo num copo. Bulling marca gordas, magras, feias, espinhentas e etc …. Só quero deixar claro que não foram só as gordinhas que sofreram na adolescência. E que também sou contra a qualquer tipo de bulling.

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Nossa, seu post resume minha infância. Carrego comigo essas marcas até hoje. O bom é que o “meu” JB hoje é um ninguém, e hoje eu já identifico de onde vem a maioria das minhas fobias sociais e tento administrá-las…
Obrigada por dividir suas experiências, pois vejo muito das minhas nas suas e é sempre bom ler sobre coisas que já senti na pele e que as pessoas ao meu redor nāo sabem como doeu, porque sei que nāo estou “só”
Beijos!

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Super texto Paula. Realmente os Justin’s são muitos. As marcas que isso causam em nosso comportamento adulto são incontáveis. Eu me acho uma pessoa super de bem com a vida, mas quando tenho que passar por uma multidão eu acho que todos vão começar a gritar “olha a gorda”, vão sorrir e fazer piadinhas. Eu parei de ir em show’s pois tenho medo de caçoarem de mim. Toda vez que um rapaz se aproxima de mim eu acho que é uma grande brincadeira, ou que ele está afim de uma amiga minha. Eu podia superar tudo isso, mas não é tão fácil assim.

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Paula, em primeiro lugar quero desejar um Feliz Natal a você! O seu desabafo tem todo sentido e não é fácil conviver com bullyng. Hoje já sou bem mais desencantada com estas coisas, mas de vez em quando me pego pensando no que pensarão se me verem de maiô em uma praia por exemplo. Bjo!

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Que, em 2014, você não perca o brilho nos olhos. Que você faça coisas, se dedique a projetos e se cerque de pessoas que, acima de qualquer coisa, despertem o brilho no seu olhar. Fique atento a tudo que te torna brilhante, te faz vibrar, sentir vivo. Independente da aprovação alheia, do reconhecimento de quem quer que seja. Deixe que esse brilho seja seu combustível de vida, o que te move a ir além.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

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Tive meus tempos de sobrepeso mas naqueles tempos ser gordo não era tão “criminoso”. Ainda assim, às vezes me chamavam de baleia e era sempre alguma magra feia. Eu então respondia com um altivo “barata”.

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Paula, tudo que você disse é a mais pura verdade. Como diz um velho ditado “o calo só dói quando é no nosso pé.” Só sabe a dor quem realmente passa pela situação.

Já tive muitos Justin Bieber na minha vida que, graças Deus, consegui deixá-los no passado. Mas acho que a pior situação que já vivi foi com minha cunhada, irmã do meu esposo. Na época em que ainda erámos namorados ou noivos, não me recordo ao certo, ela virou pra mim e disse: “Se você continuar engordando desse jeito, meu irmão vai te largar e homem nenhum vai te querer.” Aquilo pra mim foi a morte, chorei horrores, me senti a pior pessoa da face da terra. Isso deve ter acontecido há uns 6/7 anos, mas até hoje quando lembro consigo sentir a dor. E esse foi só um dos episódios de tristeza que ela me causou.

Mas é isso aí, a gente cresce, amadurece e realmente aparece. Deixa de se importar com a opinião alheia, descobre que nossos valores vão muito além da nossa aparência, e quem realmente gosta de nós não está nem aí para o ponteiro da balança ou para o número da minha calça.

Parabéns pelo seu trabalho, sempre acompanho e te acho incrível! Não pare isso por nada, não tenha dúvidas de como é importante 🙂

Beijos

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Eu sempre fui muito quieta, nunca fui de ter muitas paixões e nunca fui de me apaixonar por meros rostinhos bonitos, certa vez me afeiçoei por um menino da minha sala… Sim, ele era feio, mas eu nunca liguei pra isso… Ele parecia ser diferente, era tímido tmbm e muito educado, essa paixão durou anos, já que eu não tinha coragem de falar o admirava de longe, suspirando e com o coração saindo pela boca… Certo dia ele se juntou com outros meninos e começou a apontar meu jeito de falar, e meu jeito desengonçado de ser, mas de forma muito, muito cruel, ele não dizia nada, mas concordava, me olhava e ria, ria muito… Eu me segurei… Era a última aula, quando acabou fui pro banheiro e confesso que mesmo hoje não me lembro de ter chorado tanto na minha vida, eu sentei no chão e parecia que o chão me acolhia, me sentia parte dele de tão mal que estava me sentindo… Ah, eu chorei, chorei igual criança por mais de uma hora, minha amiga ficou preocupada, sem saber o que fazer… Tamanha foi a minha humilhação… 8 anos depois num belo dia… chego na igreja e quem está tocando bateria? Sim… Ele… Na hora meu coração queimou, eu engoli seco e descobri que gostava dele ainda… Eu repudiei aquele sentimento na hora… E a partir daí ele sempre me vê como quem quer dizer alguma coisa… Parece arrependimento… Me trata bem, me cumprimenta pra se redimir… Mas não se junta cinzas com a mesma facilidade com que se espalha … E essa ferida me dói até hoje, escrevo chorando… Com 25 anos… Parece exagero, mas quem foi humilhado uma vida sabe o que passou… As marcas que insistem em te acompanhar mas de certa forma me ajudou, me evoluiu como pessoa… Passei a vida tentando mudar meu jeito… Alvo de tantas chacotas.. Eu sei que eu sou esquisita… Mas hoje mais do que nunca, tenho orgulho de quem sou… Tem gente que ri, se diverte e ama meu jeito e são essas pessoas que quero pertinho de mim, quero conquistá-las a cada dia e ser eternamente responsável por elas, porque as cativei… Porque elas me amam assim mesmo, “esquisita” do jeito que sou…

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