Setembro está chegando ao fim. No mês de valorização da vida, senti de contar um pouco da minha experiência com burnout, que me abalou demais emocionalmente. Saúde mental tem estado em pauta, cada vez mais, mas os assuntos ainda são mais genéricos e quase nunca vemos alguém compartilhando uma experiência pessoal. Muitos sentem vergonha, temem a exposição, o julgamento ou simplesmente não gostam de falar sobre algo que causou tanta dor. Mas eu gosto da partilha, pois a minha história pode trazer alívio ou reflexão para alguém.

Antes de mais nada, a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio emocional causado pelo excesso de trabalho. A pessoa se sente completamente esgotada, com exaustão extrema, muitos picos de estresse e esgotamento físico. O abalo emocional pode ser tão intenso a ponto da pessoa pensar em dar fim à própria vida para acabar com toda a dor e angústia, por isso decidi falar sobre isso agora, no setembro amarelo.

Como desenvolvi burnout?

A resposta é bem simples: fuga. Após passar pela perda da pessoa que amo (não estou falando de morte dela), para suportar a dor, tentar manter o emocional no lugar e não pensar muito no assunto, fui me enfiando, cada vez mais, em trabalho. A coisa foi evoluindo gradualmente, sem que eu percebesse. Ia acumulando tarefas, novos desafios e, quando dei por mim, estava trabalhando de 15h a 16h por dia.

O trabalho, de fato, me ajudou a suportar esse “luto interno”. Eu não tinha tempo para pensar no que estava acontecendo, na perda e na dor. Era mais fácil lidar com aquela pilha imensa de trabalho do que entrar em contato com tudo que eu estava sentindo. Na minha cabeça, a fórmula estava funcionando bem e, nos primeiros meses, tudo estava correndo bem, sendo suportável, até que comecei a entrar em pane.

Os meus sintomas de burnout

Síndrome de burnout: meu relato pessoal

Embora eu parecesse bem, dando conta de tudo, eu estava desmoronando dia após dia. Meu corpo físico começou a mostrar os primeiros sintomas. Insônia, uma dificuldade imensa para “desligar” a cabeça na hora de dormir. Aceleração mental a tal ponto que às vezes, sem notar, eu atropelava minha própria fala. É como se estivesse pensando mais rápido do que pudesse falar. Minha imunidade vivia em baixa e, por isso, minha boca vivia estourada de herpes. Minha dermatite também fica atacada em picos de estresse. O pior, no entanto, foi quando me apareceu algo do além no corpo que, inclusive, vai precisar de cirurgia para remoção.

– Mas como isso se desenvolveu, doutora?

– Estresse. Questões emocionais. Seu corpo está tentando colocar pra fora o que é preciso!

Além disso, o burnout ainda me rendeu desmaios, crises de calafrio, febre interna, inúmeras dores musculares de tensão, queda de cabelo e oscilações na balança. Não cheguei a fazer exames para ver meus índices de cortisol, mas imagino que, muitos dos fatores que mencionei, têm relação com ele.

Ao mesmo tempo em que meu corpo físico dava esses sinais, outras coisas aconteciam.

Não tenho conseguido chorar ou rir, gargalhar. Eu, que sempre chorei por tudo, sequer tenho conseguido chorar este ano. Também não sei mais o que é dar uma risada gostosa. O máximo que consigo é dar um sorrisinho amarelo. Falei sobre isso na terapia. Falei sobre isso tomando um passe. Essas coisas doem tanto quanto as questões físicas. Fiquei apática, mais quieta, mais na minha e perdi aquele viço, aquela alegria que muitos diziam que eu tinha. Para muitas pessoas eu era engraçada, mas hoje só me sinto chata, velha, rabugenta e ranzinza. Na maior parte dos dias, nem eu quero conviver comigo mesma.

Culpa, drama ou fragilidade?

Síndrome de burnout: meu relato pessoal

Apesar de fazer terapia e de ter passado pelo psiquiatra – pela primeira vez na vida -, não senti mudanças. O médico me receitou um remédio que tomei por uns dois meses. Não me senti bem com os efeito colaterais dele e parei, por conta própria. Deveria ter voltado e conversado, mas acabei não retornando. Sigo com a terapia, mas a vontade é de parar, pois eu mesma estou cansada de falar sobre as mesmas coisas sem sentir que estou fazendo progresso.

O mais louco do burnout é que ele toma a sua vida e se torna algo automático. Eu sinto CULPA quando não estou trabalhando. É como se eu tivesse que produzir o tempo todo, caso contrário me sinto inútil, culpada, como se estivesse desperdiçando tempo. Não consigo sentar para assistir um filme, por exemplo. Se tento, fico mexendo no celular ao mesmo tempo “caçando” algo de trabalho para fazer. É automático, não percebo na hora, apenas depois.

Burnout não é brincadeira e nem drama. Hoje digo que tem sido uma das coisas mais difíceis de enfrentar. Sair disso não é tão simples quanto parece. Não basta apenas diminuir a carga de trabalho: é necessário tratar para curar uma série de questões que estão atreladas a isso. O abalo emocional não é mimimi. Pessoas com burnout precisam de acolhimento e empatia, não de julgamento. Cada pessoa tem sua questão. A minha foi fuga e eu estou, agora, tentando olhar para isso com mais amor, tempo e cuidado.

Há luz no fim do túnel?

A solução não é tão simples quanto a maioria acha. É preciso de tempo e de cuidados que envolvem a saúde física e mental. A partir de outubro devo conseguir dar uma desacelerada no trabalho. Estou voltando a praticar atividade física, a me alimentar adequadamente, a olhar para a questão principal, a falar não e a me priorizar. São muitas coisas para lidar ao mesmo tempo, mas estou vivendo um dia de cada vez, fazendo o melhor que posso dia após dia.

Meditação, exercícios de relaxamento e cuidados com a parte espiritual têm me ajudado a lidar com todo esse turbilhão. Acho, inclusive, que se eu não fosse uma pessoa espiritualizada, que tem ajuda de boas pessoas ao redor, eu teria sucumbido ainda mais. É importante cuidar do todo, não apenas do físico ou do mental. O burnout afeta tudo.

Eu espero que, em um futuro próximo, possa escrever o relato de como superei o burnout. Por enquanto sigo vivendo um dia de cada vez, tentando colocar a casa em ordem!

Comentários

Recomendados

Deixe um comentário

Seu email não será publicado. Required fields are marked *