Anualmente, milhares de brasileiros se impressionam com a beleza de corpos esculturais de pessoas selecionadas para o confinamento do Big Brother Brasil. Nos acostumamos com mais do mesmo porque é tudo um pouco previsível. No entanto, a 12ª edição do programa, que aconteceu no início deste ano, me deixou particularmente feliz porque, de alguma forma, me senti representada pela garota que “chegou chegando” com seu vestido curto e batom vermelho. Não foram os quilos a mais de Analice Souza que me chamaram a atenção – foi sua segurança.

Meses após o término do programa, conheci a garota que o Brasil eliminou logo na primeira semana de confinamento. Seja por sua personalidade marcante, por seus posicionamentos ou por sua aparência fora do padrão BBB, os espectadores do reality show não estavam preparados para encarar as verdades de Analice. Por sorte, tive a oportunidade de conviver minimamente com a moça para quem um dia olhei e pensei “posso aprender muito com ela” e, de fato, Analice tem me ensinado. Em um bate-papo descontraído, a mineira falou ao Grandes Mulheres sobre sua relação com o corpo, com a moda e sobre como a autoestima elevada pode mudar o rumo de sua vida.

Grandes Mulheres – Por ter um estilo bem autêntico e estar fora dos padrões de beleza do Big Brother Brasil, você acha que sua aparência chamou a atenção dos recrutadores justamente por fugir do óbvio?

Analice – Fiquei em dúvida. Fui para a seleção direto de um baile funk. Estava usando um vestido de caveira, salto alto e batom vermelho às oito da manhã. Quando cheguei, me deparei com aquelas meninas loiras, de corpão – as típicas BBBs – e achei que não teria a menor chance. Se eu não era a única, era uma das pouquíssimas gordinhas que participavam da seleção. Reparei que as pessoas entravam e saiam muito rapidamente da triagem. Quando chegou minha vez, o entrevistador fez várias perguntas sobre o que eu havia escrito e de repente soltou: “foram vários inscritos em Belo Horizonte e você foi a única que não colocou seu peso. Por quê?”. Respondi que não sabia, pois não me peso, não fico me preocupando com esses detalhes. De repente soltei: “a balança fala que estou gorda e o espelho diz que estou gostosa, em qual você acha que vou querer acreditar?”. Nessa hora o entrevistador começou a rir e percebi que esse foi um diferencial, em meu caso. Acho que a segurança com que dei a resposta associada ao meu estilo e outras peculiaridades fizeram a diferença.

Grandes Mulheres – Você é uma muito assertiva, segura de si e com uma autoestima elevada. Essas suas características marcantes chamaram a atenção de muitas mulheres que gostariam de ser como você. Como se deu essa maturidade emocional?

Analice – Primeira coisa: não trabalhamos com maturidade [risos]. A construção da autoestima vem de diversos fatores. Tive que me afirmar de diversas formas, pois passei pelas mais variadas situações em minha vida e ser gordinha era parte do pacote. Nunca fui a mais bonita e a mais gostosa, mas sempre fui inteligente, engraçada e estilosa e esses fatores ajudaram a construir a minha personalidade. Já tive muitas fases em que não me aceitei. Enfrentei, inclusive, a bulimia na adolescência. O tempo me ajudou com a aceitação. As pessoas me acham segura, mas também tenho meu lado frágil e minhas inseguranças, mas poderia ser magra e linda e insegura. Isso não tem a ver com o peso. Não acho que exista uma mulher que seja segura de si todos os dias. Sempre temos nossos momentos de fraqueza. Quando sei que estou bem, coloco um vestido curto, um salto e um batom vermelho e saio para a balada e fico com quem eu quiser. No entanto, não foco só no externo. Sei que tem muito mais dentro de mim do que em meu exterior.

Grandes Mulheres – Seu estilo chama a atenção de muita gente. Como é sua relação com a moda?

Analice – Vejo que as pessoas têm relações distintas com a moda: para uns é futilidade e outros a encaram como se ela fosse vital, então vejo que é um filtro de quanta importância isso tem para sua vida. Acho triste que muitas pessoas não consigam entender que as modelos têm aquele padrão para fazer um trabalho específico, que é mostrar a roupa. Aquilo não é a realidade do dia a dia e tem gente que acha que só será feliz se estiver naquele mesmo padrão corporal ou se vestir determinada roupa de marca X.  Tenho um estilo mais alternativo e adequo as coisas de acordo com meu gosto. Se barriga de fora está na moda, não vou usar porque não acho legal para mim. Tenho bom senso e sei o que fica e não fica bem em meu corpo. O espelho é meu amigo! Digo que a moda reflete sua personalidade porque ela é uma forma de expressão e não abro mão do que eu gosto de usar por não estar na moda. Não sou uma escrava. Adequo a moda ao meu corpo, pois ela também é uma forma de autoafirmação. Sempre digo que as coisas têm que se adequar a mim e não o contrário.

Grandes Mulheres – E na hora de comprar roupas, há alguma dificuldade?

Analice – Essa falta de padronização na modelagem me incomoda muito porque você pode ser manequim 46 ou 52 ao mesmo tempo, né? Não há um padrão! Minha avó costurou muitos vestidos para mim. Nunca fui muito fã de calça jeans, então absuso dos vestidos. Hoje em dia é mais fácil encontrar esse tipo de peça para meu corpo. Minha principal dificuldade é encontrar roupas no estilo em que gosto, pois geralmente são lojas de marcas menores, que seguem o padrão do corpo magro e pequeno. Às vezes encontro peças básicas e customizo, levo para uma costureira transformar aquela peça em algo que eu usaria. Sapato é ainda mais difícil de achar porque calço 40/41 e amo salto, então é difícil de encontrar. Tenho que garimpar bastante!

Grandes Mulheres – Em sua opinião, a moda brasileira é democrática?

Analice – Não! A moda mais popular ainda é um pouco menos pior, pois ainda é possível encontrar algumas coisas em lojas de departamento, por exemplo, mas acho que a alta costura só privilegia o corpo padrão, a mulher magra. No Brasil, para uma pessoa se vestir ela precisa ter bastante consciência de seu estilo e de adaptação porque não é fácil encontrar roupas legais. Todo mundo que está fora do padrão, seja muito gordo ou muito magro, muito baixo ou muito alto, sofre na hora de comprar roupas e sapatos.

Confira algumas fotos do estilo de Analice:

Comentários

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3 comments

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Eu já a achava linda. Saber que ela é essa pessoa tem toda essa auto-confiança só reafirma a sua própria beleza. É uma pena que nem todas as mulheres brasileiras são assim…

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Gostei da matéria, eu super necessito de uma pitada da auto-estima dela, pois sou o oposto, sou magra, baixa, e morro de vergonha de usar vestido.

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Amei a entrevista da Analice!!! Já era simpatizante dela antes deste post, agora então…virei fã!!! Me identifiquei mtoo com td q ela disse….
Parabéns Analice por ser esse mulherão!!!
Parabéns Paula, o blog está cada dia melhor!!!

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