Vou escrever este post daquele meu jeito ultra sincero, que muitas de vocês gostam. Sabe quando algumas coisas se encaixam perfeitamente e tudo meio que faz sentido? É isso! Muita gente talvez nem saiba, mas eu já morei por dois anos nos Estados Unidos e eu sou – e sempre fui, desde muito criança – alucinada por este lugar. Não tem a ver com as possibilidades de consumo, com o sonho americano, com nada disso… Eu não sei explicar o que acontece comigo aqui, mas é uma sensação de inteiro que eu não sinto em outros lugares. Amo a cultura norte-americana porque me sinto mais confortável nela, por algum motivo. Talvez seja porque eu não me sinta tão discriminada, tão diminuída, mesmo sendo uma estrangeira aqui. Ninguém me olha torto, ninguém fica me medindo. Tá, pode ser que alguém o faça pelas minhas costas, mas não tenho essa sensação. Não sinto que, aqui, a minha imagem é um “problema” como é no Brasil e, talvez por isso, eu me sinta mais segura e mais confiante.

Existem coisas que, depois de um tempo, você coloca numa gaveta e deixa lá, quieta. Muita gente que me conhece hoje e vocês que me leem talvez nunca tivessem nem sonhado que eu já tinha morado aqui, que eu sempre me senti inteira neste lugar e que eu me sinto mais um peixe dentro d’água aqui do que aí. Minha melhor amiga costuma dizer que eu não deveria ter nascido nesse tempo, que meu coração e meus ideais são diferentes e, talvez por coisas assim, por uma bola de neve gigante que não vou desenvolver agora, eu goste tanto daqui. Dias atrás, dirigindo, estava ouvindo a rádio local e começou a tocar uma música nova de uma das minhas cantoras preferidas. A canção se chama “Try”, de Colbie Caillat. Ela fala sobre essa coisa que a gente tem de ficar tentando ser uma pessoa mais bonita, de acordo com os padrões da sociedade, para se encaixar. A música é maravilhosa e eu compartilho agora com vocês. Por favor, ouçam!

Dirigindo, comecei a chorar. Fui de encontro com a menininha oprimida que era zoada na escola, com a adolescente frustrada que fui e me lembrei, imediatamente, da primeira vez em que alguém disse que não tinha nada de errado comido. Eu estava no colegial, aqui nos EUA, e um garoto bacanudo da escola – jamais me esquecerei seu nome: Casey – me ouviu dizer algo negativo sobre a minha aparência. Ele veio até mim e disse que não havia nada de errado comigo, que eu era uma menina normal e bonita, nem magra, nem gorda: apenas normal. Aquilo me impactou tanto, mas tanto, porque foi a primeira vez na vida em que ouvi um estranho se referir a mim como uma pessoa “normal”. Para os outros eu era sempre diferente – não que isso seja ruim -, mas na adolescência tudo o que você quer é se sentir parte de um todo, se encaixar.

Hoje sou adulta, tenho o controle de minha vida, me considero um tanto quanto bem resolvida perto do que eu era – embora eu tenha sérios problemas de baixa autoestima, mas já melhorei horrores. Aqui, andando por dezenas de lojas, farmácias e lojas de beleza como a Sephora, fiquei pensando: por que as pessoas costumam vir para os Estados Unidos para comprar insanamente, para adquirir um monte de itens de marcas, para se entupir de maquiagem? A gente precisa de tanto assim para se afirmar, para se sentir bem na própria pele? É produto pra cabelo, é maquiagem que dá efeito X, é roupa que define Y, é a bolsa mais desejada da estação. Onde vamos parar? Eu guardei dinheiro com muito esforço pra vir pra cá e é claro que estou comprando uma coisa ou outra, mas eu refleti muito sobre o quanto eu preciso para ser feliz, para me sentir bem e sobre o consumo desenfreado. Estou comprando apenas aquilo que eu realmente uso no meu dia a dia, que me proporciona algo bom e valoriza o que eu tenho de melhor e não estou me sentindo uma louca desenfreada que precisa se endividar para provar para os outros que ela se encaixa.

Eu demorei muito para chegar nesse nível de maturidade, mas hoje tenho orgulho de ter conseguido conquistá-lo. Quantas vezes eu coloquei meu aplique pensando que ninguém me acharia atraente se me vissem com o meu pouco cabelo, fino, curto? Quantas vezes coloquei na maquiagem o peso de me sentir bonita? Quantas vezes quis usar uma roupa para tentar causa um impacto positivo? Se você for parar para pensar na indústria, você nunca será boa o suficiente e eu já disse isso um milhão de vezes. O capitalismo precisa te destruir para poder sobreviver, portanto sempre haverá um produto disponível para melhorar a aparência daquilo que você não considera bom em você e, assim, vamos nos tornando marionetes, nos perdendo em uma identidade que às vezes passa muito longe de ser quem realmente somos. Será que é tão difícil assim ser feliz na própria pele? É claro que todo mundo quer se sentir bonita, valorizada, feliz e a gente deve sim, buscar por essas sensações, mas o que eu quero te dizer é: não se perca no que o mundo te diz; não tente demais.

Tentar demais às vezes é um problema, como diz a música. Se você precisa se “montar” demais para atrair um cara, é porque ele não gosta de você de verdade. Se você só consegue se encarar mesmo diante do espelho quando está arrumada, é porque você não se ama de verdade, então como esperar que esse amor – que não está vindo nem mesmo de você – venha de outra pessoa? É irreal! Quando conseguimos entender que tudo na mídia e na indústria da moda e da beleza gira em torno do interesse capitalista, a gente consegue começar a enxergar quem a gente é de verdade, o nosso valor e a gente começa a deixar de fazer um esforço absurdo para se encaixar. Não são os outros que têm que gostar de você: é você que tem que se amar, que tem que saber o seu valor. Se você conseguir chegar nesse patamar, a opinião alheia não vai mais te afetar e fazer sentido: você conseguirá viver em paz!

Sei que o texto ficou grande, mas eu queria muito que vocês começassem a processar tudo isso que eu disse. Ouça essa música mil vezes porque ela faz todo o sentido do mundo: quando você está sozinha, você gosta da sua própria companhia? Ela tem que ser a melhor de todas, caso contrário ela não será boa para ninguém. Você não precisa mudar quem você é: você só precisa se encontrar e aprender que tentar demais nunca é a resposta para o que você procura!

Comentários

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15 comments

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Amei, mais uma vez, perfeito! Queria que todos tivessem a oportunidade de conhecer seu blog, me considero uma nova pessoa, com outra cabeça, depois que passei a te seguir! Obrigada por me inspirar!

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Poxa, que coisa linda! Você nem imagina o quanto eu fico feliz ao ler isso! Meu sonho é que muitas pessoas possam se libertar dos medos, dos preconceitos, das amarras e eu fico mais do que lisonjeada em saber que você gosta dos meus textos. Obrigada por me ler e me acompanhar! <3

Beijocas

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Não percebi o tamanho do texto até você mencionar, fui devorando cada palavra sua e, pode acreditar que me identifiquei com tudo. As vezes deixo de sair de casa por vergonha de mim e por nao ter roupas que sirvam porque sou gorda e depois eu paro e penso: Só você perde com isso e deixa de viver por receio do que EU ACHO que os outros estão pensando a meu respeito quando na verdade, cada um ta preocupado em viver a sua vida, o mundo não para pra analisar se eu to gorda ou não, enquanto isso eu paro a minha vida e deixo de sair de casa. É meio insano eu sei… mas acontece.
Descobri esse site nao faz muito tempo e tem me ajudado MUITO!
Obrigada Paula, você faz um papel incrível na vida de muitas mulheres e nos incentiva a passar por cima desse preconceito que a sociedade criou contra gordos. Bjs e sucesso!

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Esses editoriais tendem a ser grandes, né? Eu começo e quando vejo, tá enorme! Vem do coração, vai saindo espontaneamente e o que mais me deixa feliz é ler comentários como o seu, pois poder ajudar a mim mesma e a outras pessoas é o que eu mais quero. Você está certa: as pessoas podem até parar para te analisar rapidamente, mas a sua vida não é o foco da vida delas e você não pode deixar de viver por vergonha ou medo. Uma hora ou outra, é preciso enfrentar, é preciso deixar pra trás essas amarras. Fico feliz demais por saber que o blog está te ajudando e eu espero que minhas palavras penetrem no mais profundo do seu coração para te ajudar nessa caminhada. Você não está sozinha!

Um beijo grande

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Paula, faz tempo que não passo por aqui. Mas mesmo demorando eu sempre volto pq encontro o q preciso p mim em suas palavras. Obrigada!
Bjs
Iara

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Poxa, que bom que eu consigo ser útil para a sua vida, Iara! São depoimentos como o seu que me fazem continuar escrevendo assim, com tanta verdade e transparência. Sinta-se abraçada!

Um beijão

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Que coisa linda, tanto a musica quanto o seu texto. Parabéns e obrigada por compartilhar conosco essas maravilhas. Bjs

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O prazer é meu, Jaciara! Levantar reflexão para o bem é sempre minha prioridade! Que bom que vocês gostam e têm paciência de ler…rs!

Um beijão

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Eu já falei q adoro seus textos???? Que eles sempre mudam, ou melhor, melhoram minha vida???
Se eu não disse, digo agora e peço pra Deus abençoar seu dom e seu trabalho….
Super beijo!!

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Rosana, fico feliz demais por ler isso! Só posso me sentir grata por conseguir impactar a vida de pessoas como você!

Um beijão

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Me sinto do mesmo modo que você quando estou nos EUA… Desde que fui a primeira vez me senti parte daquela cultura, sempre me sinto bem… Especialmente pq eu acho que lá as pessoas realmente não estão ABSOLUTAMENTE NEM AÍ pra como vc sai na rua, pra sua aparência… Já conheci muitas cidades, cidades pequenas, grandes… E o sentimento que tenho lá é sempre o mesmo. As pessoas saem na rua de pijama pra pegar uma pizza e não tem ninguém pra olhar, pra apontar o dedo! É tudo tão natural! Lá é o lugar que eu consigo ser apenas ~eu~, sem pensar demais…
E essas experiências lá me fizeram uma pessoa melhor aqui tb… Tento me importar cada vez menos com a opinião dos outros, pq neh? Ninguém paga minhas contas…
Aproveite seus dias aí… E obrigada por mais um texto inspirador!
🙂

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Não sei porque mas sinto um sentimento muito estranho com este país sem ter ido nen ao menos uma vez para ele …. É confuso aqui no Brasil nós gordinhas somos vistas como um et sou bem resolvida comigo mesma sou feliz hoje mas já sofri demais por não ser magra hoje sou casada tenho um filho, aprendi a me amar do jeito que sou. Beijos

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Adorei o texto,inspirador…tenho 26 anos e aos 22 fui mae pela primeira vez creio q a partir dai meus valores mudaram assim como minha auto estima,antes vivia comprando coisas p me sentir bonita ou aceita pelos outros e mesmo assim nao tinha o resultado esperado rs…hj vivo c menos pois tnho uma filha linda p cuidar,porem, me sinto muito mais bonita e o melhor feliz!hj olhando p tras vejo o qnto era vazia e triste.em algum momento da vida chegamos a maturidade,o meu veio com a maternidade aprendi q para ser feliz precisamos d pouco e para se sentir bonita precisamos nos aceitar e nos amar primeiro…dpois q entendi isso pude ver realmente oq era bom p mim,hj tnho um companheiro maravilhoso q me valoriza e me deu uma familia linda q e td q preciso.bjs m identifiquei muito c seu blog

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Oi Sthephany!

Que bom que você se identificou com o blog! Espero que volte muitas outras vezes. Fiquei feliz em saber um pouquinho da sua história e saber que você é uma pessoa feliz!

Um beijo enorme

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<3

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