Quando eu me tornei a “gordinha legal”

Já perdi as contas de quantas vezes um cara me dispensou dizendo que eu era especial, legal demais ou que ele me considerava tão sua amiga que não queria estragar tudo se envolvendo comigo. Mentiras sinceras que nunca me interessaram, no caso. Eu sou simplesmente gorda e, devido a uma incapacidade de saber lidar com a minha aparência ou mesmo por uma simples falta de interesse que seria absolutamente normal – afinal, atração é algo que simplesmente acontece ou não, independente de corpo – muitos caras me rotularam como a amiga ou como a gordinha legal da turma que, obviamente, não servia para ser a namorada dele.

Vou te dizer que eles não estão errados, pois eu realmente sou uma garota muito legal. Tenho 31 anos, tenho uma carreira que está indo muito bem, obrigada; moro sozinha e pago todas as minhas contas, sou simpática, sei me comportar, sei ser divertida, engraçada e falar de assuntos sérios; sei agradar a pais e mães e, apesar de ser uma mulher moderna, eu lavo, passo, limpo e cozinho muito bem: consigo administrar meu tempo pra tudo isso. Ah, eu amo sexo e não, não tenho problema em dizer isso porque sou adulta, sou mulher e não tenho que sentir vergonha disso. Que combo, não? Ainda assim estou solteira, vejam bem! É claro que tenho vários defeitos, mas percebi que algo em mim afugenta os homens: eu sou legal demais e talvez você também seja!

O que vou dizer agora pode não se aplicar a você e não é uma verdade absoluta, mas acontece com muita gente, inclusive comigo: quantas vezes você sentiu que tinha que compensar e ir além dos seus limites para conquistar alguém porque você estava em desvantagem por ser gorda? Quer entender isso de forma bem simples com um exemplo que é quase chocante e que já li em vários lugares? “Transar com mulheres gordas é ótimo porque, por não serem bonitas como as magras, elas se esforçam muito mais para te satisfazer, pois as bonitas acham que estão te fazendo um favor”. Sim, eu já li esse pensamento deplorável em diversos textos. Será que inconscientemente a gente não faz isso em diversas situações justamente para compensar o que achamos que falta em nós? Pra provar que somos suficientes?

Toda vez que eu começava a me envolver com alguém eu tinha aquela necessidade desesperadora de me sentir aceita, então eu queria que tudo fosse impecável: deixava a casa limpinha e perfumada, fazia alguma comida boa pro cara comer, me arrumava toda e ficava me controlando o tempo todo para tentar não cobrar ou não dizer nada que pudesse causar algum tipo de transtorno. Eu era um mix de uma máscara com o que eu achava que deveria ser para fazer dar certo e, adivinhem: nunca deu. Sabe aquela coisa de que quando a esmola é demais o santo desconfia? Hoje imagino que os caras deviam pensar: essa menina nem me namora, não é nada minha e olha tudo o que ela faz por mim…ela move mundos e fundos. Isso deve ser um pouco assustador pra muita gente e eu passei boa parte da vida me anulando para tentar agradar aos outros e, assim, tentar conquistar alguém.

Sim, eu tenho essa característica de ser fofa e agradar as pessoas, mas me pergunto quanto disso não é um exagero condicionado por mim mesma. Em algum momento de minha vida eu coloquei na cabeça que eu tinha que ir além para agradar às pessoas e acabei me colocando nesse papel de “gordinha legal”. Sou uma mulher como qualquer outra: não preciso de mais um título depreciativo e gordinha legal definitivamente não é algo que eu queira associado a mim. Comecei a pensar: por que eu tenho que dar um jeito de estar com a unha feita se fulano vier me ver? E se eu não tiver tempo de limpar a casa ou de cozinhar algo para ele? As garotas “normais” não parecem dar tanta importância a isso. Vejo amigas minhas dizerem pro cara que é pra ele ligar no delivery se estiver com fome, que a cerveja acabou e que se ele quiser mais que compre e que elas trabalham muito e estão sem tempo pra limpar a casa e que se ele estiver incomodado, que pague uma faxineira.

Isso também me faz pensar sobre a posição social da mulher que ainda tem esse estigma de ter que servir sempre ao homem. Será que algum desses caras algum dia pensou em fazer qualquer sacrifício por mim? Não, nunca. Nenhum deles, eu te garanto. Por que eu deveria me importar tanto assim? Ter um homem ao meu lado não me faz melhor do que ninguém, mas é assim que a gente se sente muitas vezes: gorda e solteira e, consequentemente, uma perdedora porque ninguém te quis. A sociedade tem a mania de colocar relacionamentos como troféus e muita gente se arrasta em uniões falidas simplesmente para manter a aparência e não aceitar a “derrota”. Nem eu e nem você precisamos nos sentir assim. Você tem que viver pra você, tem que se amar pra você e fazer tudo o que puder para se agradar e não agradar aos outros. Abandone esse rótulo de gordinha legal porque quem tiver que gostar de você vai gostar do jeito que é e ponto: não é necessário ir além para provar a alguém que você merece amor.

Agora estou tentando desconstruir tudo isso e o que faço agora é para mim: limpo a casa pra mim, cozinho pra mim, faço a unha pra mim, compro lingerie pra mim e me arrumo pra mim. Sim, eu preciso aprender a ser um pouco egocêntrica para me livrar desse rótulo que me deram quando eu mesma me coloquei nessa posição de ser a gordinha legal. Eu sou uma mulher maravilhosa e não uma gordinha legal, entendem a diferença? Você também pode ser: deixe o passado para trás, encare o desafio da mudança e dê um passo de cada vez para conseguir viver melhor. É assim que as coisas mudam, é assim que a gente progride e é isso que faz a mágica acontecer! Estamos juntas!  😉

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