Esta semana circulou por aqui uma notícia um tanto quanto polêmica:

Um Deputado alemão propôs que pessoas gordas paguem mais impostos, que sejam responsabilizadas financeiramente pelos resultados da má alimentação no sistema de saúde (Matéria Deputado quer que gordos paguem imposto extra)

Não sei o que é mais bizarro: a posição discriminatória do digníssimo senhor legislador, ou o fato de inúmeras pessoas terem se manifestado favoráveis a este ponto de vista. Parece piadinha de mau gosto, mas eu não duvido que proposta similar chegue por aqui qualquer hora dessas; vivemos num mundo onde a visão simplista de que todo gordo é gordo porque não se cuida e, portanto, um potencial doente leva realmente as pessoas a esta linha de pensamento – um pensamento essencialmente egoísta, diga-se!

Eu não pretendia entrar novamente na discussão “obesidade X saúde”, porque já falei sobre isso na última coluna (Apologia à Autoestima). Mas esta postura do Deputado alemão (e de um grande número de ignorantes de visão limitada) corrobora aquilo que sempre digo: As pessoas são preconceituosas sim, e não conseguem lidar com a ideia de que um gordo pode ser saudável e feliz.

Espremem o Mundo para que não caibamos nele. Fazem de tudo para que pessoas grandes sintam-se desconfortáveis com seus corpos, e usam o oportuno argumento da saúde (ou falta dela), como se o fato de ser magro significasse necessariamente ser saudável. Tentam a todo custo impor um padrão cada vez mais distante da realidade.

Avião, por exemplo. É impressionante como as coisas podem ir de um extremo ao outro em apenas alguns anos. Antigamente viajar de avião era um privilégio para poucos afortunados que podiam unir conforto + segurança + rapidez, mas hoje em dia é uma tortura para muitos desafortunados que precisam deixar até dignidade do lado de fora para conseguir embarcar no minúsculo teco-teco e tentar chegar ao seu destino sem nenhum conforto.

 

Eu mesma viajo com alguma frequência. Tudo bem que não sou uma pessoa exatamente do tamanho padrão sugerido pela ANAC (leia-se anoréxica), mas também estou longe do outro extremo. Sou uma mulher tipicamente brasileira, e tenho curvas (bem) fartas. E essas minhas curvas (leia-se bunda, quadril, coxas) simplesmente não cabem nos 45cm do assento da lata de sardinha chamada avião. Não cabe. Não entra. Não encaixa. Não serve. A cada viagem eu desafio as leis da física e dou um jeito de me espremer no assento, às custas de muito desconforto e constrangimento.

E as companhias áreas, quando questionadas sobre a impossibilidade de uma pessoa grande ocupar uma poltrona tão minúscula, mais uma vez sugerem que o gordo pague o preço por ser maior do que o padrão. Sugerem que pessoas grandes comprem dois assentos para poderem se acomodar melhor, ou que paguem tarifa diferenciada para que sejam disponibilizadas poltronas em tamanho maior.

Situação parecida ocorre em ônibus, trens, metrôs, cinemas, teatros e diversos outros lugares. Lamentável. Estão encolhendo o Mundo, numa tentativa covarde de forçar as pessoas a seguirem um padrão distorcido, distante da realidade.

A verdade é que a sobretaxa por ser gordo já existe, e já está em prática em todos os cantos. Pagamos mais caro por sermos como somos, e isso não tem necessariamente a ver com saúde, como alega o Deputado alemão. É preconceito puro, é discriminação descarada, disfarçada sob um argumento que cai por terra com dois segundos de reflexão.

Se um gordo deve pagar mais impostos pela suposta propensão que tem a desenvolver doenças, o que dizer dos fumantes, alcoólatras, usuários de drogas, anoréxicos, etc e tal? Pois é…

Não se pode padronizar o Mundo. Pessoas são iguais enquanto raça humana, mas absolutamente diferentes entre si. Respeitar as todas as diferenças – inclusive as de tamanho – é fundamental!

Até porque, vamos combinar: O Mundo é essa imensidão que a gente conhece, não é preciso encolhê-lo… Há espaço de sobra pra todo mundo!!!

Beijos Fartos!

Comentários

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5 comments

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Se esse imposto pegar, podemos propor um para bulímicos, que vomitam a comida, desperdiçando algo tão precioso, que milhões no mundo não têm acesso. Imposto sobre comida vomitada.

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O preconceito é a pior praga da humanidade.
Discriminar as diferenças é tão cruel quanto cometer crimes. É se achar melhor que o outro. Como se ‘diferença’, fosse sinônimo de burrice. Uma prepotência sem fim.
Isso é coisa de gente recalcada…. vai por mim.
Aposto que esse deputado nunca pegou uma gordinha, tadinho. rs
E outra, concordo com o Imposto para comidas vomitadas. Achei ótimo.

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Incrível… revoltante mesmo ! ! Vamos pensar num detalhe; quando optamos por uma profissão, por um curso superior, as universidades não nos avisam que vamos investir uma nota pra depois não exercermos, pois devido ao peso, tamanho, preconceitos em geral, não seremos aceitos no mercado de trabalho… Gastar dinheiro com o estudo, ótimo, mas obter resultado com um bom emprego, só alguns podem né? Os magros?
Tive uma idéia; ” agente pega o valor que investiríamos numa faculdade e vamos pro spa…
com o resultado de um belo corpo magro, sarado, de top model, requisitamos o emprego, aí cérebro e conhecimento é o de menos… Quanta estupidez neste mundo !!!

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E as roletas dos ônibus e casa de show?
Aff,quanto desrespeito ao direito à acessibilidade…

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Sei bem a falta que faz acessibilidade. Tenho problema de joelho e frequentemente tenho que desobedecer a proibição de usar escadas e então sofro piora nas dores.

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